Surge agora o tempo de fazer alguns balanços, "o que fiz bem", "o que fiz mal", "se deveria fazer antes assim", "faz sentido tentar isto em Portugal", "ou não", "porquê?"... No geral, e para não vos maçar muito, estou contente. Acho que não fiz muito, fiz até muito pouco, "demasiado pouco" mas, o que fiz, fiz numa altura em que não havia muito mais gente a fazer, juntei forças com outros que também queriam fazer coisas, e cativei pessoas para acreditarem nesse mesmo fazer. O que me propus fazer, fiz acontecer.
Mudo-me agora para uma cidade onde é tão normal ser poly nos meios em que me movo (cena queer) que os encontros regulares que por lá há são bastante pouco frequentados. (repito, cena queer, os encontros poly "mistos" continuam autênticas festas de solteiros profissionais). Fala-se de poly e as pessoas bocejam de tédio. Na verdade, quase toda a gente que conheço em Berlim é poly ou já foi. Vai-me saber bem ir como "cliente", e não como organizadora. Tenho planos e ideias, mas acho que vou estar quietinha, pés em cima da mesa, por uns tempos.
Hoje foi um dia de despedida, em que todos os membros do nosso encontro bimensal se esforçaram para me irem abraçar e desejar boa sorte, e planear qual o melhor futuro para aqueles encontros e sua organização.
Lembrei-me por isso de outra despedida, outra conclusão, outra separação. Em 2008 tive o privilégio de ajudar humilde e atrapalhadamente a organizar o segundo poly camp para mulheres e transgénero com a Gwendo, minha inspiradora, exemplo e companheira de conspiração. Foi um processo bonito mas em que nos metemos em grandes alhadas, que a custo conseguimos resolver. Sofremos um bocado com o quiosque, na nossa inocência e falta de experiência. No fim suspirámos de alivio ao ver o slutcamp (aka Schlampenau) ficar de pé, com as suas 20-30 galdérias em alegre e desenvergonhada partilha vadia, sem ninguém passar fome, sem faltar combustível, sem nada correr mal. Na semana a seguir, a Gwendo resolveu visitar-me e dizer-me "depois do que tens trabalhado pelo poly na Alemanha, é a minha vez de contribuir para a tua alegria, e para o poly em Portugal". Sorriu, e deu-me o livro cuja imagem podem ver.
Nunca o abri, como devem calcular, mas foi dos presentes mais bonitos que recebi.
(Reminder to self: deixar-me de, ao blogar, contar histórias poly, e começar a falar dos meus mentores, como a Gwendo, que também os houve, e com grande importância)
Para aqueles que se sentem defraudados com o tom pessoal e lamechas deste post, e não querem saber de séries de TV de culto com póneis e tal, deixo então um apanhado de referências "estrangeiras" ao poly em Portugal. Trabalho do Alan, do blog "poly in the media". Links: 1 2 3