domingo, 31 de outubro de 2010

«The price of freedom is death...»

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Foi precisamente há uma semana atrás que apareci numa peça da TVI, dois minutos e quarenta e cinco sobre poliamor. Dei a cara e o nome, a minha voz por uma identidade. Uma minha identidade. As duas frases que disse nos segundos que me foram reservados nestes dois minutos e quarenta e cinco tiveram muito pouco a ver directa e especificamente com poliamor. Tiveram mais a ver com a minha posição política como feminista, com uma luta que tem vindo a ser a minha por muitos anos, a luta pela visibilidade, pela quebra do silêncio. Foi como feminista que falei da minha vida, das minhas opções pessoais, da relação que escolhi. Falei em meu nome, falei pela minha relação. No fundo de mim, eu queria falar por todxs xs que estão em silêncio. Falar é sempre político e eu sabia que o impacto para mim seria grande. E foi.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ciúme

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Vou apenas resumir, brevemente, a análise que o Pepper Mint faz do ciúme como mecanismo de poder. Aqui, o ciúme será entendido como estando dentro de uma relação romântica. Abstractamente, o ciúme envolve três aspectos diferentes: os sentimentos de uma pessoa face às acções dx sua/seu parceirx, essas mesmas acções, e uma terceira pessoa, vista como rival.

O ciúme pode ser reclamado pela pessoa que o sente como forma de tentar controlar as acções dx parceirx.
O ciúme pode servir como arma de acusação pela outra pessoa envolvida na relação romântica.
O ciúme pode ser suscitado especificamente (ou tentar-se fazer isso) para tentar obter uma determinada reacção da pessoa a quem se está a tentar provocar ciúme.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Poliamor na TVI

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O Daniel Cardoso, a Inês Martins e uma outra pessoa fizeram uma breve aparição no Jornal Nacional da TVI de ontem à noite, ajudando um pouco mais a esclarecer e espalhar o conceito por Portugal.

Gostaríamos de saber as vossas reacções à peça!

EDIÇÃO às 13:06: O vídeo já está disponível online, aqui, a partir do minuto 16:46. Ou então, podem vê-lo aqui mesmo!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A vida é simples? Not really!

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Ainda há quem acha que a vida é simples, e nós é que a complicamos, especialmente com esta coisa do poliamor.

Mas olhem lá como, com um bocadinho de esforço, complicamos ainda mais!


Compreendo que, com tanta complicação, não dá para ver bem a imagem. Portanto, aqui fica o original, para vosso prazer visual! Cortesia do grande Franklin Veaux!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Oh, whistle and I will come to you, my lad!

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Ameacei começar e continuar a falar de trios há quase um ano...e na verdade este texto tem também quase um ano (sou vaga de propósito acerca das datas para proteger a identidade das pessoas a que diz respeito.)

"Continuo por aqui muito contente com o meu trio, uma das componentes da minha vida emocional raramente aborrecida. Estava relutante em falar disto porque ainda não definimos a coisa, e até porque precisamente o não ter definido a coisa com elas me estava a fazer comichão, a mim, académica empedernida. Até que tive uma epifania, por voz de uma delas, a mais prática e mais "novata" nestas andanças não monogâmicas, a propósito do sentimento que tem acerca de ter uma neta que é, para os mais técnicos de vós, a neta da ex-namorada: «Eu não quero saber o que é que vocês lhe chamam ou mesmo eu cá por dentro lhe chamo, mas o que me interessa é o que eu faço ou que esperam que eu faça. Estou-me a borrifar como se chama a relação que tenho com ela. Eu só sei que a minha neta precisa de mim, apita, assobia, ri ou chora, e eu estou lá no mesmo instante».

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Discriminação

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A maior parte dos posts deste blog sobre o poliamor vão no "bom" sentido. Vão no sentido de demonstrar o quão bem podemos estar, o quão bem conseguimos estar, no sentido de mostrar o quanto podem ser traçados pontos de contacto entre experiências de âmbito poliamoroso e de outros tipos de relação - monogamia, monogamia em série, etc. - e como assim podemos crescer todxs juntxs.

Mas também há um lado feio da coisa. Bem, vários. Um deles também já foi bastante explorado aqui: o que acontece quando a relação falha, o que acontece quando se confunde poliamor com outros tipos de relação não-monogâmica (especialmente aqueles tipos que de responsáveis têm pouco ou nada). E isso pode ser devastador, da mesma forma como qualquer fim de qualquer relação pode ser devastador, não interessa se somos poly ou não.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

nao, nao cantarás....

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Não digo que é uma frase politicamente correcta, educativa, ou encorajadora. Simplesmente uma frase que me saiu, a propósito de alguém que defende a monogamia com pequenas falhas higiénicas:

"Gaja, tu não és monogâmica. Quando muito tu és mas é ciumenta".

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Finalmente mais leve

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Tenho andado um bocado calado, é verdade, mas é porque às vezes é preciso pausa e descanso. Entreguei na semana passada a minha tese de Mestrado - tanto quanto sei, a primeira em Portugal sobre poliamor - intitulada "Amando vári@s - Individualização, redes, ética e poliamor".




Depois disso, precisei de uma pausa para descansar, para fazer nada. (Não que a vida profissional permita isso, mas pronto, passei uns três dias a olhar literalmente para as paredes, a dormir - coisa rara nos últimos tempos - e a divertir-me um pouco.)

Olho para trás e reparo que passei dois anos a trabalhar e a reflectir sobre poliamor e que, ainda assim, mal raspei a superfície (resmungo pessoal: uma tese com 60 páginas não permite explorar nada com a devida profundidade). E apesar de o meu tema de doutoramento me levar para longe do poliamor, a verdade é que quero recuperá-lo noutra altura, noutro ponto da minha vida académica, para sobre ele pensar mais aprofundadamente.

Eu sou um cientista social. Isso não quer dizer, porém, que eu seja daquelas pessoas que se vê a si mesma como estando sentada no topo de um observatório impenetrável, através do qual penetra e perfura a realidade para obter uma episteme, uma Verdade. E portanto, aquilo que eu retiro de mais valioso do trabalho que levei a cabo foi a forma como esta investigação me mudou a mim. A forma como este trabalho me permitiu lidar comigo mesmo de uma maneira diferente, aperceber-me mais claramente dos processos dentro dos quais eu me movo; não necessariamente para fugir deles, mas para estar neles com atenção e cuidado, com discernimento.

A ideia central da tese é o conceito foucauldiano de cuidado de si. Cuidarmos de nós mesmos é, não um acto de egoísmo, mas um acto plenamente ético, plenamente justificado e que contribui para uma vida mais positiva para o sujeito. Digo que não é um acto de egoísmo porque não conseguimos cuidar de nós sem termos, connosco, um Outro. Não conseguimos cuidar de nós se não cuidarmos, também, de manter e alimentar as nossas relações com o Outro que nos define, que nos permite definirmo-nos. Na prática, isso implica coisas como estas. Porém, e tendo em conta que venho da área das Ciências da Comunicação, estou relativamente menos interessado no conjunto das práticas, e mais interessado em entender porquê estas e não outras, e de que foram é que elas agem sobre o indivíduo e o constituem como sujeito, com identidade(s) e ética(s), com valores e princípios a seguir.

Ser poliamoroso não é um estado natural. Ser poliamoroso não é um comportamento tipificado. Ser poliamoroso não é simplesmente ser não-monogâmico de forma responsável. Ser poliamoroso é corresponder a uma identidade, é adaptarmo-nos de forma a obtermos reconhecimento. As razões pelas quais necessitamos desse reconhecimento, pelas quais inventamos palavras para em torno delas nos aglutinarmos e a forma como isso nos afecta, à nossa ideia de nós mesmos e à ideia que os outros têm de nós: isso fascina-me, e é na sociologia e na filosofia que procuro encontrar combustível para alimentar estas reflexões.

Quando a tese estiver para ser defendida, procurarei partilhar esta paixão convosco.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Não preciso que precises de mim

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Até à semana passada, se me pedissem para dar uma opinião sobre qual seria a melhor canção sobre o desejo, o querer, eu não hesitaria em referir «O Quereres» do Caetano Veloso. A letra é tão rica e tão poderosa que parece Chico Buarque. Deixo apenas duas linhas como exemplo:
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és ¹
Pois bem, conheci agora um músico que já edita há quase 30 anos mas de quem, na minha reconhecida incultura pop, nunca tinha ouvido falar: Momus. Não me tenho cansado de ouvir as mais diversas faixas dos mais de 20 álbuns deste fantástico contador de histórias. Normalmente não dou atenção suficiente à letra das músicas, porque me foco demasiado na música. Com o Momus, isso é quase impossível. Deixo aqui «I Want You But I Don't Need You», do álbum Ping Pong (de 1997), uma lição exemplar a propósito da confusão, facílima de se fazer, entre amar alguém e precisar dessa pessoa. (A letra está aqui.)

___________________
^ (¹) Letra completa, e também um vídeo (maravilhoso, Chico e Caetano ao vivo) aqui.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

já chegou à moderação e ao coaching...

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Viver há tanto tempo fora de Portugal e ter recusado consciente e convictamente deixar de ler jornais portugueses quando o Público decidiu cortar nas despesas e nos revisores (e passar a ter erros piores que os disléxicos erros meus, má fortuna e amores ardentes), ou seja, há bastante tempo, torna-me uma pessoa alienada do que é que se passa. Gosto de acreditar que os contactos que tenho me vão passando não só uma ideia do zeitgeist, mas também um pouco do dia-a-dia em Portugal.

Isto tudo para dizer, que tanto quanto sei, corrijam-me se estiver errada, ainda não chegou a Portugal a onda do acompanhamento psicológico para indivíduos ou casais, o coaching, o aconselhamento. Ou pelo menos ainda não chegou às vidas das pessoas com quem falo e escrevo regularmente. Estes serviços geralmente oferecem várias coisas, desde gestão e moderação de conflitos, passando por treino de soft-skills e coaching, quer para decisões que afectem carreira ou vida privada, até acompanhamento na procura de visões ou objectivos de longo prazo.