Infidelity is such a problem because we take monogamy for granted; we treat it as the norm. - Adam Phillips, 1996
Qual o problema de tratar a monogamia como um dado adquirido? O silêncio.
No pressuposto da monogamia, encerra-se um guião que a imaginação quer estável. Na presunção de uma uniformidade, anulam-se as diferenças pessoais, subjectivas, os interesses específicos, e tudo o que mais seja.
Na pressuposição da monogamia ignora-se a inexistência de uma Monogamia (assim mesmo, com "M" maiúsculo) - porque se o poliamor pode ser vivido de milhentas maneiras, com milhentas nuances, o mesmo é aplicável sem pôr nem tirar à monogamia (muito embora as nuances sejam diferentes entre si, claro).
O oposto da monogamia não é a poligamia. Nem é o poliamor. O oposto da monogamia é a infidelidade. Porque a monogamia é muitas vezes construída como demonstração (e como teste!) da fidelização de alguém, o que se lhe opõe é precisamente a infidelidade. E, como diz a citação que abre este post, a infidelidade torna-se tanto mais problemática quanto a monogamia segue a via do dogma. Questionar a monogamia não tem que conduzir necessariamente a um comportamento poly, ou não-monógamo. Mas leva à redefinição da monogamia em si e, por conseguinte, à redefinição e relativização da infidelidade. Atenção, porém: este processo só pode ser realizado de forma dialógica.
Porque o silêncio cria a Monogamia, só o barulho do diálogo pode criar a monogamia. Ou o poliamor.
3 comentários:
Este rapaz parece o Lobo Antunes (António), nunca se percebe nada do quer dizer, parece que está a escrever capítulos de teses (são precisas notas de rodapé)
E agora propunha um exercicio- e que tal escrever como se fosse uma composição infantil. É que para se fazer ciência também é preciso escrever de forma simples.
Apoiado, Shakill. até destoa do resto do blog. Começa-se a ler e já se sabe de quem é.
O verdadeiro problema da monogamia enquanto instituição é que se pensarmos um pouco a realidade acima dela, vemos facilmente como esta não é natural (embora se tenha tornado normal no ocidente). É no entanto de uma forma natural(1macho+1femea=prole), diferencial valorativa(género, hierarquia e divisão sexual do trabalho), e total complementarista (complementaridade dos sexos) que é pintada na tela da cultura e da socialização por esta produzida. Só a cada vez maior educação para um pensamento crítico e para a construção de uma verdadeira individualidade poderão superar tamanha estrutura que é imposta ao pensamento dos pré-cidadãos desde muito cedo. Eu queria ver cada vez mais pessoas a pensarem as incongruências do meio em redor... a questionar ideias estapafúrdias como a de que EU posso ter cinco amigos e três amigas, porque há uns com quem gosto de ver filmes, outros com quem gosto de discutir política, outros com quem faço desporto etc mas só posso ter uma unica pessoa (preferencialmente do sexo oposto... se não é feio e criminoso) com quem faço e a quem estou autorizado/a a dedicar o meu amor.
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