Assim como a poeta e psicóloga Geni Núñez, eu nunca gostei muito do termo “poliamor”, pelo fato de “poli” invocar a ideia de quantidade e, de alguma forma, objetificar as pessoas. Também porque, segundo Geni “além da problemática quantitativa, (poli) acaba aludindo, em muitos casos, a uma centralização do amor romântico (NÚÑEZ, Geni. Descolonizando afetos: experimentações sobre outras formas de amar. São Paulo: Planeta do Brasil,2023, p.36). Também não gosto da expressão “não monogamia”, que é tão vaga que me escapa.
Então comecei a brincar com o trocadilho poli x pólen. E, portanto, passei a dizer que sou Pólen Amorosa. Fui até batizada por uma deusa tântrica que atende pelo nome de Val, rainha ou black queen. Acho mesmo muito bonitinha essa ideia de as abelhas levarem o pólen de um lado para o outro. É fantástico pensar que o pólen provado em uma flor faz nascer frutos, flores, plantas, vidas, em contextos diferentes.
Comecei a olhar para as minhas relações e percebi que é exatamente isso que acontece: cada relação alimenta e faz brotar outra e outra e outra, expandindo a nossa rede de apoio. E quando falo relação, atenção, estou falando de todes, de todas as relações que me afetam, que me polinizam, independentemente de haver amizade, sexo, rock in roll, samba, funk ou Maria Bethânia, a nossa abelha rainha, com todo o seu romantismo.
Relações no plural, com TODES. E aí tenho de citar novamente a psicóloga e poeta Geni Núñez, quando ela nos lembra que nós amamos e também somos amades pela NATUREZA, pelo céu, pelos rios, pelas montanhas... E aí PÓLEN AMOROSA me cai muito bem. Já que o pólen, assim como o amor, é trans-portado pelo vento, por insetos mil, não só as abelhinhas, por, pasmem, aves e morcegos – e não só os bonitinhos – pelas águas e, vejam só, até por seres humaninhos como eu, você, nós, nossa rede.
REDE que não nos deve pescar, salvar, converter, convencer, civilizar, colonizar. Mas, sim, nos dar colo, cafuné e descanso em dias difíceis. E também (por que não?) nos oferecer prazer e nos balançar divertidamente em horas alegres e despretensiosas.
De novo Geni, a qual diz na primeira frase da apresentação do seu livro, já citado aqui, que suas contribuições nesse tema (outras formas de amar) são “gotas no oceano do amplo e complexo debate que é a descolonização”. Por eu ser Pólen Amorosa, eu posso contribuir com essa experimentação (po) ética.
Assim como a nossa rede, de pólen amorósis, pólen amores, me permite, quando eu quiser e puder e estiver pronta e disposta e desejante, transcender, ir além, ultrapassar formas variadas e coloridas de me relacionar, comigo mesma e com o mundo.
Por Brenda Lua, em 28 de junho de 2025
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