terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Poliamor sem hesitações

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Anteontem li no Jornal de Notícias um artigo extraordinário (é de Novembro mas só me veio parar às mãos agora, por via dum atrasadíssimo Google Alert).

O autor consegue a proeza irrepetível de escrever contra tudo aquilo em que acredito: o poliamor, o combate ao tabu da monogamia, a não-exclusividade, o direito à igualdade, o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, a equiparação do casamento a uniões entre mais do que duas pessoas, o Estado-providência e, por fim, o desafio a esse manual de maus costumes que é a Bíblia. E, no entanto, fá-lo usando um único recurso estilístico: a ironia. Por definição, a ironia é a expressão de uma intenção ou significado usando expressões que normalmente significam o exacto oposto. A luminária que assina este artiguelho (vêem? também sei: "luminária" é ironia; já "artiguelho" não é) — esse bota-de-elástico, dizia eu, usa e abusa das aspas para marcar a ironia.

E o que há de extraordinário em tal artigo? É que, precisamente graças à sua pobreza estilística, basta tirar as aspas para ser um texto que eu assinaria por baixo na totalidade. É isso: tirem as aspas e vão ver se o velho não tem razão. Vá lá: tirem as aspas e, no penúltimo parágrafo, a palavra «má». E, pronto, mudem o título para Poliamor sem hesitações.

Ora então é clicar e alegrar, rapaziada: Poligamia sem hesitações - JN.

"FAITH-BASED CONNECT THE DOTS"

cartoon do brilhante Don Addis, que morreu faz hoje um mês

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Monogamicxs

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Fotografado no último sábado no Fluviário de Mora:

Monogâmico: relativo à condição na qual um macho e uma fêmea estabelecem uma relação de acasalamento mais ou menos exclusiva.

domingo, 27 de dezembro de 2009

My boyfriend's girlfriend isn't me

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Não há muitas músicas em que o tema seja explícita ou implicitamente o poliamor. Uma das mais claramente poliamorosas é de uma banda canadiana de rock a atirar para a comédia. A banda é pouco conhecida e chama-se Must Be Tuesday. A canção chama-se My Boyfrend's Girlfriend (Isn't Me)", ou simplesmente Boyfriend's Girlfriend e é possivelmente o maior sucesso deles.



There's lots of kinds of people in this world | and I'm, well, I'm not like other girls | How do I explain this properly? | My boyfriend's girlfriend isn't me

Well obviously one of them is | But there's another girl of his | And I know her and she knows me | and that would be great if it was just us three

But she has a guy who's even more pretty | and a long-distance thing in another city | He and his wife come by when they can | and they have a kid who calls me his aunt

Just when I thought it was all too crazy | I tried to draw our family tree | There's nothing wrong with extra love | But the paper wasn't big enough


Refrão:
Of all the ways I've ever dated | it's never been so complicated | The chain can extend to eternity | 'cause my boyfriend's girlfriend isn't me

We spent Christmas eve with my boyfriend's dad | Christmas day with my folks and the feast they had | New Years, he went to his girlfriend's city | I mean the one who isn't me

She brought him and her other guy | to her company picnic and I won't lie | I wasn't used to being alone | so I want someone new of my own

It isn't easy to find a fling | 'Cause when you hit on some tasty thing | They say "Aren't you with that guy?" | You say "Oh he doesn't mind.

Have you ever seen 'Big Love'? | Know what I mean, wink, wink, nudge, nudge…" | And they say "Oh, so you're a Mormon?" | "No! …I'll explain from the beginning…"


Refrão

When the partners get together, | the primaries and all the others, | we give the newbies a little primer | and we all get out our day timers

Calendars as far as the eye can see. | "When can I see you?" "When are you free?" | "Who gets me on my birthday?" and then | "Does anyone have an extra pen?"

The kids have the best celebration. | Gifts from three dozen odd relations. | There's Uncle Jackie's girlfriend, Mary, | Ed who is her secondary…

Ed's new boyfriend brought along | his ex, whose fling is going strong | with someone that I used to know | and just became my boyfriend's beau…


Refrão

A couch where four can snuggle up | Suddenly isn't big enough | And even so we don't give up. | There's no such thing as too much love.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Punalua

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No seu livro sobre "A origem da Família...", Engels fala sobre um termo que alguns poliamorosos gostam de usar - punalua.

A família punaluana seria uma forma evoluída de modelo familiar - sendo que ele vai buscar o termo e exemplo a um costume havaiano - ainda dentro dos costumes de sociedades consideradas "bárbaras". É interessante ver como este modelo familiar tinha um traço fortemente matriarcal, já que, dentro destas famílias-grupo não era possível estabelecer a paternidade de uma determinada criança, mas era sempre possível estabelecer a sua maternidade. Este era um modelo de coabitação e cooperação em que os membros de um determinado grupo de homens se chamavam punalua entre si, e idem para cada determinado grupo de mulheres.

A análise de Engels leva-nos mais longe, analisando uma evolução nas estruturas familiares a par de progressos civilizacionais, e eis que chegamos ao modelo monogâmico.

Compreender este modelo é importante, creio, para termos uma perspectiva de quais as suas raízes. Porque se é verdade, como já referi várias vezes, que a monogamia pode ser praticada de uma forma igualitária e com respeito pelos direitos e deveres de cada indivíduo, é também verdade que só com a noção das raízes podemos começar a desmontar os processos de dominação que operam nessa esfera.

Diz-nos então Engels que a monogamia

"se baseia na supremacia do homem, com o propósito expresso de produzir crianças cuja paternidade não possa ser disputada; tal paternidade inequívoca é exigida pelo facto de que esses filhos serão, mais tarde, herdeiros daquele pai. [...] O direito da infidelidade conjugal também se mantém adstrito a ele, quanto mais não seja pelo costume [...]"

Vemos actualmente ainda muitas provas de como resquícios destas ideias se mantêm no século XXI. Os homens são, estereotipicamente, os traidores por excelência, os principais preocupados com passar o legado da família (quanto mais não seja, o nome da família, que é o nome do homem).

Ora, se como tenho abordado, é o fechamento da relação monógama que, a contrario, institui a traição, é também ela que retira a possibilidade de cooperação e inter-relação presente entre punaluas. Essa relação não existe dentro de um modelo estritamente monógamo, embora possa, ainda assim, existir dentro de alguns modelos de poliamor em que existe um fechamento das relações a um determinado conjunto de pessoas.

E isso deixa-me, por estranho que possa parecer - porque deveria ser indiferente, não? -, triste. Fico triste porque tenho assistido muito de perto ao quão bela e forte pode ser uma relação entre punaluas, e questiono-me sobre que visão terá a posição mononormativa sobre estas pessoas que resolvem assumir-se como punaluas, que resolvem gostar disso, que daí retiram prazer e compersion.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

"Poly" Pocket

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Todos os anos por altura do Natal fico doente com esta coisa dos brinquedos para as crianças. Nem tanto com a febre consumista de que todos nos queixamos, e para a qual volta e meia nos descai o cartão de débito, mas com outra questão que, apesar de tudo, me parece mais chocante. A ideia de que há brinquedos para meninos e para meninas. Por mais que se ache que se fizeram já progressos enormes na dissipação de papéis de género, torna-se quase impossível para uma criança escapar a esta ditadura dicotómica de haver toda uma lista de coisas com as quais pode e não pode brincar. Todo um código de cores, tipos de letra, formas de embalagem, que no seu conjunto se referem a uma coisa ou outra. Nada de confusões ou ambiguidades.
Era assim há vinte anos, quando eu era criança, e continua a ser assim agora, sem tirar nem pôr. E depois venham-me com milhares de estudos, cientificamente comprovadíssimos, de que as mulheres são assim e os homens são assado. E venham-me pais com a conversa de que o filho e a filha foram educados exactamente da mesma maneira e olha, vá-se lá saber porquê, um tem mais raciocínio matemático e a outra tem mais propensão para a literatura. Enquanto não se mudarem estas condicionantes fortíssimas, qualquer estudo com base no género é tão sério como uma brincadeira de crianças.
Quando há uns anos a minha sobrinha tentava assimilar o divórcio dos pais, um dos conselhos da brilhante psicóloga da infantário, foi que lhe oferecessem no Natal famílias de bonecos tipo Barbie, que contivessem obrigatoriamente mamã, papá e filhotes. Para a criança não perder a referência de família. Ou seja, toma lá isto que não tem nada a ver com a tua realidade nem, mais cedo ou mais tarde, com a de quase nenhum dos teus amigos. Não vás tu lembrar-te de ser feliz de outra maneira.
Já eu, felizmente, tive a sorte de ter um irmão, o que nos possibilitou ter todo o espectro de brinquedos em casa. E o discernimento de os misturar todos, brincando em conjunto e multiplicando as possibilidades. Pessoalmente sempre desejei ter comboios, pistas de carrinhos e carros telecomandados. E uma das vantagens que o meu irmão via em ter uma irmãzinha, era poder brincar com as miniaturas de electrodomésticos que via nas montras.
Este Natal, enquanto lamento o facto de até as peças Lego (haverá coisa mais universal que o Lego?) virem numa caixa cor-de-rosinha para meninas, ponho-me a olhar para a embalagem da Polly e a fantasiar que se trata de uma personagem poliamorosa, com vários Ken’s e suas respectivas Skipper’s, que por sua vez são amigas da Barbie e fazem corridas de carros com os Legos do Espaço.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Paixões e tempestades

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Hoje à hora de almoço vinha a ouvir na Antena 2 o sempre interessante Em Sintonia com António Cartaxo.

O programa de hoje era sobre Beethoven e dá para ouvir de novo às 23h00 ou, em qualquer altura, na página do programa ou directamente aqui.

Aos 35'00", António Cartaxo passa um excerto da sonata nº 23, a Appassionata. Depois, aos 40'30", diz o seguinte:
"Quando lhe perguntaram qual o sentido da Appassionata (o cognome é do editor mas Beethoven aprovou-o), a resposta foi a seguinte: «Leia A Tempestade de Shakespeare». E Romain Rolland, estudioso de Beethoven, lembrará que A Tempestade é a fúria das forças elementares — paixões, destemperos dos homens e dos elementos —, é o senhorio do espírito, mago que, a seu bel-prazer, congrega ou dissipa a ilusão. A definição da arte beethoveniana neste período de maturidade." ¹
Eu diria que A Tempestade (a peça) nada tem a ver com a «fúria das paixões»… Mas já que aqui estamos, vejam lá bem o que diz o protagonista, Próspero, a propósito de um casalinho que ele, num espírito casamenteiro, quer ver atingido pelas setas de Cupido (e que realmente se apaixonam num instante): «They are both in either's powers: but this swift business / I must uneasy make, lest too light winning / Make the prize light.» Ou seja, «deixa-me cá dificultar a coisa, que estes dois pombinhos começaram a arrulhar depressa demais», (e agora em tradução mais literal) «não vá uma conquista tão ligeira tornar o prémio demasiado ligeiro».

Mas que raio de ideia é esta?! Que mal fizemos nós para sermos ainda hoje bombardeados com este e outros disparates do Romantismo? Atenção, a frase, a peça e o autor são sem dúvida alguma geniais — mas a ideia romântica de que uma conquista sem sangue, suor e lágrimas não tem valor é simplesmente uma má interpretação dos naturais ajustes que duas pessoas precisam de fazer quando iniciam uma relação, acertos esses que sucedem novamente, de modo sempre diferente, de cada vez que se soma uma nova relação.

Eu cá prefiro as pessoas fáceis. E descomplicadas. E preferia ser eu próprio mais simples (fácil já eu sou que chegue). Mas levamos com tanta história de amores difíceis que essa peçonha se nos enfia debaixo da pele e custa mais a remover do que uma tatuagem.

_________________
(¹) A pergunta sobre o sentido da Appassionata — e, já agora acrescento, de uma outra sonata, a nº 17, publicada precisamente sob o título A Tempestade — terá sido feita a Beethoven pelo biógrafo seu contemporâneo Anton Schindler, que a refere no livro Biographie von Ludwig van Beethoven (traduzido para inglês como Beethoven as I Knew Him mas sem tradução portuguesa, que eu saiba). Directamente da fonte, para quem lê alemão ou sabe usar uma ferramenta de tradução online: «Eines Tages, als ich dem Meister den tiesen Eindruck geschildert, den die Sonaten in D moll und F moll (Op. 31 und 57) in der Bersammlung bei C. Czerny hervorgebracht und er in guter Stimmung war, bat ich ihn, mir den Schlüssel zu diesen Sonaten zu geben. Er erwiderte: "Lesen Sie nur Shakespeare's Sturm."»

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Sexo Mais Seguro: O prazer está nas tuas mãos

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O Sexo mais Seguro é não só útil para prevenir várias doenças desagradáveis, mortais, limitantes ou incómodas, mas também para tornar o sexo uma experiência mais agradável e divertida.


O Sexo mais Seguro é mais uma atitude crítica acerca da nossa postura e comportamento do que um conjunto de práticas. Neste workshopseg iremos reflectir em grupo sobre o conceito de redução de risco, falar de algumas técnicas mais comuns, e desmontar alguns preconceitos a seu respeito. Teremos activamente em conta que há mais géneros do que homem e mulher, e que há várias definições, muito pessoais ou não, do que sexo é.


As discussões e reflexões em grupo permitirão a cada participante encontrar a solução mais adequada para si próprix.


Workshop para mulheres e trans* de todos os géneros. Preço: 2 euros.


Terça feira, 22 de Dezembro, às 19.00 na UMAR. Rua de S. Lázaro 111.1o, Lisboa


Contactos e informações: antidote@imensis.net e dijk@walla.com

domingo, 20 de dezembro de 2009

Até na FHM…

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Hoje, a FHM publicou uma espécie de reportagem que incluía uma espécie de entrevista a um de nós, o Daniel, que aqui escreve às sextas. «Espécie de entrevista» porque as perguntas, de teor supostamente cómico, foram inseridas pelo meio do que o Daniel disse ao jornalista.

Embora o conteúdo do que o Daniel disse não seja mau e não tenha sido utilizado demasiado fora do contexto, como infelizmente já aconteceu noutras ocasiões, é possível que o tom destas quatro páginas (e muito em especial das legendas das fotos) dê para alguns leitores uma má imagem do que é o poliamor. Começa logo no início:
«[…] se quisermos — e acho que todos os homens querem — deixamos de ter uma só namorada e passamos a ter duas, três, […]»
Por outro lado, já surgiram opiniões positivas. Por exemplo, o Alex acha que o artigo é «uma conversa parva de esplanada, já na terceira sangria… ou seja, fácil, divertida, sem rodeios… […] Nada de senhores sérios e estupidamente chatos a falar sobre algum assunto importante e que merece muito respeito. Fiquei satisfeito com o que li».

Aqui vai o artigo todo:

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Onde está a família?

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Esta semana muito se falou de família, pelo que achei por bem terminar da mesma forma.

É frequente ouvir as alminhas mais conservadoras afirmar que a família é a base da sociedade, de qualquer sociedade até. Que representa a unidade mínima, que é uma estrutura em miniatura que plasma depois a ideia de Estado, de Nação. Note-se que, aqui, esta família é uma família nuclear, heterossexual e reprodutiva.

Mas quais são as bases para tal afirmação? E o que dizer das sociedades baseadas em clãs? Porque, na verdade, o que é uma família grande senão um clã? E o que é um clã senão uma possibilidade de configuração cuja complexidade faz lembrar as descrições do ShortOkapi?

Portanto, as famílias complexas, quasi-constelações, são apenas uma expressão precisamente desta mentalidade de clã, destes grupos de pessoas que se juntam por bens e interesses comuns. Falar da família nuclear como base da sociedade é transformar uma unidade social relativamente simplista (a família nuclear) em algo muito mais complexo (base da sociedade), quando existem modelos que muito mais claramente se apontam a si mesmos como bem mais próximos, historicamente, daquilo que são as organizações políticas actuais.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

a sagrada família!

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na postagem de ontem, shortokapi abordou um conceito de família.

políticos, da direita à esquerda, falam da família.

analistas financeiros comentam as dificuldades das famílias.

padres evocam a sagrada família.

a "família" é considerada a base desta sociedade em que vivemos e pertencemos e cada um@ utiliza a família conforme lhe convém.

mas o que é, afinal, esta unidade "família" que tod@s usam conforme a sua necessidade momentânea?

tradicionalmente pensa-se na família nuclear como sendo um casal de pessoas de sexo oposto, com filh@s, que é rodeada pela família alargada - pais, mães, avós, tios, etc...



e é assim que o poder instituído quer que pensemos a família!

mas a nossa realidade é outra. muito mudou nas últimas décadas. divórcio, segundas, terceiras e quartas relações substituíram os "casamento para a vida". filh@s e mais filh@s.

mas a nossa realidade é também os relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, assim como a sua realidade parental.



hoje em dia falar-se de família tem um significado muito diferente daquele que nos querem impingir na sociedade hetero-mono-normativa!

quanto mais cedo se aceitar que as coisas mudaram, mais cedo poderemos focar no objectivo de uma família: criar felicidade para todas as pessoas envolvidas, sejam estas quais forem.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Uma família é uma família

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No divisão da casa que destinámos para ser escritório, uma de nós trabalha neste momento ao computador, um outro relaxa ao computador, os restantes conversam sobre não sei o quê, e eu blogo. Há bocado jantámos, três de nós. Os outros ainda não tinham chegado, jantaram uma hora depois. À hora de almoço, eu e outro estivemos a tratar de assuntos com bancos por causa de um crédito. Durante o dia, eu tratei de assuntos diversos, em casa, e os outros nos empregos deles.

Se não fosse o número de pessoas, o que poderia distinguir este relato de um dia normal de um casal? Se não fosse o facto de não haver aqui pais, mães e filhos, qual a diferença entre isto e a vida de uma família convencional? Quem detectaria, pela descrição, que isto só poderia ser uma família intencional?

Daqui a pouco a noite chega ao fim e vai cada um para o seu quarto. Ou talvez haja quartos com mais do que um. Conforme estivermos ou não para aí virados.

Seis semanas ainda é uma experiência muito curta, claro, mas estou mesmo em crer que isto é para durar.

Uma amiga nossa escreveu há pouco no Facebook: "eh pá, grande grande pinta, tiro-vos o chapéu, vocês são fonte de inspiração…" Sabe bem ouvir isto. Qual activismo em marchas e encontros! Se a minha família for realmente fonte de inspiração, que o seja, e para quanto mais gente melhor.

Obrigado à Kerista e aos restantes pioneiros por terem contribuído para espalhar o conceito de não-monogamia responsável.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O que fiz este fim-de-semana, parte 2

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A questão do safe sex em relações poly, tem barbas e pêra branca, e nem sempre é consensual, uma vez que há vários pontos que se tornam bastante emocionais. Por exemplo, nem toda a gente acha que uma relação seja definida pela existência de sexo entre os intervenientes,nem toda a gente converge na definição de sexo (penetração? orgasmo? beijo?) e nem toda a gente acha que deva haver regras ou hierarquização de parceiros (Ai, contigo eu faço fluid bonding, contigo faço safer sex, e contigo prefiro jogar Dragon Age no sofá).

Mas independentemente de sermos assim ou assado, do tipo de relação ou da nossa posição acerca da importância do sexo, é capaz de ser boa ideia reduzir riscos, independentemente do numero de parceiros sexuais. E quando se fala de risco, não falamos apenas do HIV, há uma serie de cenas chatinhas (fungos, tricomas..) desfigurantes (herpes) ou mesmo mortais (sífilis, hepatites...) que ninguém quer apanhar ou passar aos parceiros.

A ideia deste post não é explicar qual é a minha opinião acerca deste ou aquele método de redução de riscos, ou de como a faço, embora goste de dar workshops sobre o tema. Vou simplesmente dizer que antes de definir regras, uma boa ideia é discutir risco e comportamentos com parceiros. Dá direito a umas surpresas, algumas agradáveis, outras nem por isso. E a partir daí, construir acordos para redução de riscos. Uma coisa gira acerca de fazer isto é que leva indirectamente a uma conversa sobre sexo, com montanhas de informação útil a cair em cima da mesa.

Tenho o meu pequeno kit de safer sex comigo. Enfim, porque nunca se sabe, porque raramente levo alguém para casa nas situações em que realmente se espera que isso aconteça, acontece-me sempre quando estou menos à espera.

Na cidade em que vivo, é habitual uma pessoa ser revistada à entrada das discotecas. Nao é pessoal com formação especifica, são uns curiosos que desenrascam o papel de porteiros e que pedem consensualmente ás pessoas para abrirem as malas (e por acaso não têm poder para recusar entrada se alguém se recusar a ser revistado). Ou seja, quando este fim de semana a porteira do k17 encontrou o meu kit de safeR sex, ela conseguiu fazer daquilo uma experiência bastante embaraçosa:

- O que é isto?
- é o meu kit de safe sex
- O kit de que`??
- safer sex, sabes, para foder sem apanhar ou transmitir doenças..
- Tao grande (é uma bolsa de munições de metralhadora, comprada na feira da ladra, e pequena para o conteúdo).
- Ah, e isto aqui?
- lubrificante
- (corando) e achas que precisas deste lubrificante todo?
- (N.S./N.R. não sabe não responde)
- ah! e para que é que são as luvas?
- acabei de te explicar a parte da transmissão de doenças, acho que não queres que te mostre
- ok, olha, eu não te percebo, mas entra lá.

(isto com toda a gente que estava na bicha atrás de mim a ouvir e a rirem-se)

obrigada por lerem!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Religião

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Desde a segunda metade do séc. XIX que as pessoas se têm andado a tornar agnósticas no que toca à monogamia. [...] Se Deus está morto, então tudo é permitido; mas, se a monogamia morrer, o que iremos então fazer? - Adam Phillips


E que tal poliamor?

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Má reputação

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Na primeira marcha LGBT (para quem não saiba, Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero) em que participei (8ª Marcha do Orgulho LGBT — Lisboa 2007), em «representação» do Poly Portugal, confirmei o que já pensava há muito: aquela sigla é obscura para o leigo, pouco prática e acima de tudo limitativa. O T também inclui travestis e transexuais? Onde está o Q de Queer? E o I de Intersexo? A que letra pertencerá uma associação feminista (a UMAR faz parte da organização)? E finalmente — o que me interessava ainda mais —, em que letra se poderia encaixar o Poliamor? Vale a pena ver (por exemplo aqui) a cómica evolução das siglas que têm vindo a designar o conjunto das orientações sexuais e identidades de género.

Durante a marcha, pus-me a pensar quais eram os temas partilhados pelos colectivos e individuais que participam numa marcha «lgbt» e que acrónimo facilmente memorizável se poderia criar a partir desse conceito. Cheguei à conclusão de que as minorias envolvidas reclamam, todas elas, liberdade e diversidade sexual. (Poderia argumentar-se que as questões de género não são questões sexuais mas parece-me preciosismo a mais para a definição em causa.) E foi assim que cheguei a isto, que propus como nome para as marchas seguintes, mas que não pegou:

MALDISEX — Marcha para a liberdade e diversidade sexual

Continuo a achar que a aceitação da diversidade é uma das principais bandeiras que quero carregar. E, na sequência dos meus posts anteriores em defesa da diversidade («E é lá com eles…» + «Nós e laços»), aqui deixo uma canção do fabuloso cantautor francês dos anos 50/60 Georges Brassens, intitulada La mauvaise réputation («A má reputação»)



Tradução de parte da letra:

Lá na aldeia, não é para me gabar,
Mas tenho má reputação
Quer me mate a trabalhar quer fique quieto e calado
Passo por nem sei bem o quê
Mas não faço mal a ninguém
Só porque sigo o meu próprio caminho

Mas as pessoas de bem não gostam de quem
Siga um caminho diferente do delas
Não, as pessoas de bem não gostam de quem
Siga um caminho diferente do delas
Toda a gente diz mal de mim
Excepto os mudos, é claro

[…]

Não é preciso ser um Jeremias
Para adivinhar a sorte que me vai calhar
Se encontrarem uma corda que lhes agrade
Hão-de passar-ma pelo pescoço
Mas eu não faço mal a ninguém
Por seguir caminhos que não levam a Roma

[…]
Toda a gente virá ver o meu enforcamento
Excepto os cegos, está bem de ver

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O que fiz este fim-de-semana

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Em grande falta de imaginação...

Mas talvez possa ser interessante. Este fim-de-semana resolvi dar uma festa de inauguração do meu apartamento e convidei não só amigos próximos, mas também pessoas que têm tido um significado, nem sempre positivo, nas minhas constelações e telenovelas poly.

Tive a sensação de perdoar o meu próprio passado (nas coisas que não correram tão bem, ou decisões que foram tomadas das quais não me orgulho) de ter na minha sala a minha ex namorada, que também é a corrente namorada da minha outra ex namorada-que-não-posso-ver-nem-pintada-à-frente, com a sua nova namorada, com a qual me entendi muito bem, e provavelmente me vou entender um dia destes ainda melhor. Estava também uma ex-namorada da tal minha outra ex namorada-que-não-posso-ver-nem-pintada-à-frente, que também é namorada de um play buddy meu. Gostei também de ver o meu namorado em grande aconchego-sexy com várias das pessoas da festa, e a naturalidade como tudo aconteceu. Estavam também duas grandes amigas minhas, das quais uma é uma play buddy de longa data, e que proporcionaram uma grande alegria ao me convidarem para o seu casamento, e gostei de ver como conheceram pessoas novas na minha festa que vão sem dúvida acrescentar à sua to do list.

Sim, toda a gente que estava na festa, reparo agora, vive ou já viveu poly durante vários anos.

Acabei na minha cama sem histórias novas, mas com a sensação de que tenho bons amigos à minha volta e que as coisas por vezes correm mesmo bem, e não têm mesmo que correr de outra maneira.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Boyfriend(s)

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Especialmente para os mais novos de entre os leitores deste blog, aqui vai uma curta-metragem feita há dois anos pelo americano Robert Anthony Hubbell. A ideia é simples: Kelly, uma rapariga de 16 anos, namora com Will. Apercebe-se de que gosta muito de um amigo comum, Brian, e descobre o conceito de poliamor, que transmite a ambos. O namorado, confrontado com esta ideia nova, tem de chegar às suas próprias conclusões…

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Uma carga de trabalhos

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Ontem almocei com colegas de trabalho. Um grupo de gente bem-disposta, com muito sentido de humor (coisa que acho sempre uma rara bênção) e, julgava eu, de mente aberta. Vinham de uma conversa com outro colega, sobre homossexualidade(s). Os comentários foram curtos e não me chegaram para formar uma opinião, mas diria assim de repente que grassa por ali muita ignorância e falta de experiência. Percebi que estive em silêncio durante esses minutos, e que parte da minha cabeça estava ocupada a pensar quais seriam os comentários, se soubessem de metade da minha história de vida.
O único confronto do género que tive foi depois da minha entrevista no Rádio Clube, que o meu então chefe ouviu e imediatamente reconheceu a minha voz, que mesmo rouca é, pelos vistos, inconfundível. A conversa decorreu mais ou menos assim:
— Então como é que está a andar o projecto?
— Está a correr bem. Já fiz (blá blá blá…) e estava a pensar enviar (blá blá) até ao fim da semana, para depois (blá)..
— Muito bem… (pausa) Gostei muito de a ouvir ontem.
— De me ouvir? Como assim?
— Sim, na rádio.
(Dois milésimos de segundo para escolher entre “Vou negar tudo até à morte” ou “Vou pôr as tripas em cima da mesa, seja o que Deus quiser”. Mais um milésimo para me decidir pela segunda opção, lembrar-me que não acredito em Deus e que sou eu que vou ter de enfrentar todas as consequências, que podem ir da chacota ao assédio sexual ou ao despedimento. Meio milésimo para pensar “Que se lixe!”)
— Não foi ontem, foi na quarta.
E já estava. Não fui despedida. Quanto ao resto não garanto, mas o que ouvi depois disso foram apenas elogios e frases de admiração e incentivo. Não voltei a repetir a experiência, por falta de oportunidade ou pelo meu natural recato em ambientes de trabalho. Mas qualquer coisa me diz que nem sempre teria a mesma resposta.
Que o diga o actor Ernie Joseph, que interpreta Ben na série Family, sobre uma família poly, e que no início deste ano viu um belo contrato anulado, por participar em tão infame coisa. Parece que o desgraçado nem sequer é poliamoroso. É apenas um actor a interpretar um papel. No fim de contas, somos todos.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

gaj@s

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à semelhança de lisboa, em londres há uma reunião poly mensal... e esta semana a nossa amiga em londres foi pela primeira vez.

foi calorosamente recebida pelos cerca de vinte participantes e ficou sentada ao lado de um sujeito de cerca de trinta anos. avançava a conversa do grupo, assim avançava a mão e braço do tipo. murmurando ao ouvido da nossa amiga as coisas que ele lhe gostaria de fazer... até que lhe tentou dar um beijo muito molhado... na boca.

sendo ela muito "inglesa", aguentou-se um bocado à bronca, mostrando o seu "stiff upper lip", pensado que talvez este comportamento representasse uma enorme deficiência emocional do fulano... até que decidiu mandar o seu "stiff upper lip" às urtigas, levantou-se e foi-se sentar junto de outra pessoa, passando o resto do serão descansadinha da sua polyvida.

ele ainda tentou a mesma cena com outra, mas como também não correu bem, foi-se embora.

os encontros poly, sejam em londres, lisboa ou em oliveira do hospital não têm como objectivo engatar gaj@s..

muito menos dessa forma foleira a olho.

em lisboa temos um grupo poly aberto a tod@s... mas para quem quer conhecer gaj@s se calhar faz melhor ir ao erotikus à quarta ou sexta que se safa melhor.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Indirectas

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Hoje escrevi um email a meia dúzia de pessoas seleccionadas de entre os meus contactos profissionais. Aqui vai a transcrição, para todos os meus três leitores e meio aqui do blog:
Assunto: Sou de novo freelancer

Caros amigos,

É provável que já saibam que os meus sócios e eu decidimos de comum acordo encerrar a [minha empresa de produção de conteúdos e ideias, ou seja, de guiões e outros textos variados]. O fecho foi pacífico e continuamos a ter vontade de trabalhar em conjunto nos projectos que houver. Mas deixámos de ter essa obrigação. Serve assim este email para informar que sou de novo totalmente freelancer. E continuo com a mesma vontade de trabalhar que sempre tive, claro — neste momento, circunstancialmente, acompanhada de demasiada disponibilidade.

Alguns de vós talvez não tivessem este meu endereço de email pessoal. O email da [empresa] vai ficar inactivo muito em breve.

Espero que venhamos a contactar-nos em breve. Saudações cordiais,
[assinatura]
Foi a mensagem que já devia ter escrito há um mês mas que andava a adiar porque me custava. É-me difícil, de facto, dizer a um potencial empregador que tenho falta de trabalho, porque isso me coloca numa posição de desvantagem.

Por analogia, consigo de certa forma perceber que custe, a muita gente, dizer que sente falta de carinho, ou de atenção, ou mesmo de sexo. Mas parece-me que há na nossa sociedade uma clara sobreavaliação do mistério, do rodeio, das evasivas e manobras como formas de seduzir.

Queria só dizer aqui que a última vez que me lembro de ter manifestado falta de carinho, o resultado (indirecto, talvez, nunca se saberá) foi uma das quecas mais poderosas que já tive. Ou duas… que a que houve dois dias depois ainda poderia ser classificada de réplica por um sismologista competente.

Ah, e o carinho regressou. Antes, durante e depois.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Compersion, Amor por ressonância

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é sempre bom, e sempre bom sentir que ainda temos over and over a capacidade de sentir a tal compersion, a tal alegria ressonante, ou alegria por ressonância, ficarmos felizes por o nosso amor, ou um dos nossos amores estar nos braços de um dos seus amores (E quem diz braços, diz outros membros, ou algemas, ou lençóis, ou....)...

Mas o que me passou agora na cabeça, é que o estado talvez ainda mais desejável que essa alegria excitada é aquele em que já não se nota diferença, em que simplesmente se passa, sem pensar no assunto, uma noite como outra qualquer. Porque não é preciso pensar no assunto.

Numa nota pessoal: Estou muito feliz por voltar a sentir compersion, ou amor ressonante, porque durante uma relação recente de contornos apenas marginalmente poly senti muitos ciúmes e comecei a perguntar-me se tinha a ver comigo ou se era especifico à situação. E a resposta é, a compersion está cá, como sempre esteve. Hurra!

domingo, 29 de novembro de 2009

«Amor só dura em liberdade» — "A maçã" de Raul Seixas

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Antes de se tornar um sucesso de vendas à escala planetária, o escritor Paulo Coelho fez parceria, como letrista, com um músico que é considerado o pai do rock brasileiro: Raul Seixas.



Goste-se ou não de qualquer deles, vale a pena conhecer a música "A maçã", editada em 1975/76 no álbum Novo Aeon.


Se esse amor | Ficar entre nós dois | Vai ser tão pobre amor | Vai se gastar…

Se eu te amo e tu me amas | Um amor a dois profana | O amor de todos os mortais | Porque quem gosta de maçã | Irá gostar de todas | Porque todas são iguais…

Se eu te amo e tu me amas | E outro vem quando tu chamas | Como poderei te condenar | Infinita tua beleza | Como podes ficar presa | Que nem santa num altar…

Quando eu te escolhi | Para morar junto de mim | Eu quis ser tua alma | Ter seu corpo, tudo enfim | Mas compreendi | Que além de dois existem mais…

Amor só dura em liberdade | O ciúme é só vaidade | Sofro, mas eu vou te libertar | O que é que eu quero | Se eu te privo | Do que eu mais venero | Que é a beleza de deitar…

sábado, 28 de novembro de 2009

Last call

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Última chamada para o embarque na aventura de escrever para o PolyPortugal.

Aos Sábados este espaço está aberto a contribuições não só dos nossos convidados mas também de quem quiser escrever.

Envie o seu texto (entre 50 e 500 palavras) sobre poliamor para polyportugal@gmail.com.


Não voltaremos tão cedo a publicar um pedido de colaboração mas este anúncio não perde a validade. Neste momento, temos uma pequena carteira de pessoas que já manifestaram interesse em colaborar. Mas queremos mais. Os últimos sábados têm estado muito vazios aqui no blog.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Poly-wave

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Lembrei-me de iniciar uma Google Wave pública sobre poliamor... Espero ter muit@s participantes a colaborar nela!

:)

Mais informações:



quinta-feira, 26 de novembro de 2009

"Isso é uma teima?"

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Os últimos dias têm sido de stress constante. Não é que seja grande novidade na profissão que escolhi. Mas hoje senti-me mesmo a quebrar. O conflito é algo que me desgasta. E que evito muitas vezes a todo o custo, provavelmente mais do que deveria. Se tiver de escolher, prefiro o silêncio ao conflito. E houve bastante dos dois nos meus anos de crescimento.
Em quase todas as relações profundas que tive, surgiram momentos de confronto, para mim bastante dolorosos e angustiantes. E quando terminam, sinto-me como se tivesse corrido uma maratona. Um cansaço físico e psicológico que se torna incapacitante.
Nestas alturas lembro-me muitas vezes de um capítulo do livro “The Ethical Slut”, que se chama “Embracing Conflict”. Pelos vistos é normal que haja conflito numa relação. E quando essa relação inclui várias pessoas, personalidades e vontades, a coisa pode multiplicar-se na mesma proporção que se multiplica o amor e a felicidade.
Uma das coisas que as autoras preconizam é que se use o que chamam de “I sentences”, ou frases começadas por “eu”. Que se diga “Eu sinto-me…” em vez de “Tu fazes-me sentir…”. Porque os sentimentos são nossos e no limite somos nós os únicos responsáveis por eles.
Há vários conselhos nesse capítulo que considero bastante úteis (descontando o carácter de auto-ajuda de livro de aeroporto). Não funcionarão com toda a gente nem em todas as circunstâncias. Mas pelo menos ajudam a desmontar esta ideia romântica de que os sentimentos são algo de completamente irracional e incontrolável, pretexto para os mais descuidados atropelos da saúde emocional de quem se ama.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

como vão ser os próximos 364 dias?

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em portugal, este ano:

morreram 26 mulheres vitimas de violência doméstica ou afectiva;

43 sobreviveram a tentativas de assassínio por parte de companheiros ou ex-companheiros...

milhares de mulheres são:

diariamente agredidas física e/ou psicologicamente;
muitas são também violadas nas suas casas...

tudo isto pelos homens que as amam!

grande número destes casos prende-se com a necessidade de controlo que os homens sentem que devem ter sobre as "suas" mulheres. isolam-nas por forma a exercer um poder que normalmente está na fronteira do patológico. fazem-nas pensar que não prestam e que, se eles as deixarem, ninguém mais as vai querer. têm ciúmes de tudo e todos.

este sentimento de posse, ainda "autorizado" pela sociedade patriarcal em que vivemos, é o cerne da questão. é preciso perceber-se que não temos direitos sobre os outros. as pessoas estão porque querem e se sentem bem.

aceitar as pessoas por aquilo que elas são e não tentar moldá-las à imagem que gostaríamos de ter delas é fundamental para a felicidade.

mas o que tem a haver esta questão da violência afectiva com o poliamor?

não temos estatística sobre a violência nas relações poliamorosas, claro, mas provavelmente serão muitíssimo baixas. não será por não existir ciúme... o ciúme também existe. a diferença está na forma de se lidar com os sentimentos.

converter o ciúme em compersão (compersion, feeling frubbly - energia oposta à do ciúme) é um bom começo.

hoje é o dia internacional contra a violência contra a mulher... como vão ser os próximos 364?

terça-feira, 24 de novembro de 2009

ePoly — encontros online

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Há muitos anos, inscrevi-me pela primeira vez num site de encontros. Já nem me lembro qual. Sei que mais tarde aquilo se transformou em Kiss.com e depois foi adquirido pela uDate. Nunca mais liguei àquilo, até porque tinha de se pagar. Mas tenho uma série de amigos e amigas que conheceram parceiros na Net. Algumas das relações duram há muitos anos, outras foram bons encontros ocasionais, outras ainda um flop, claro. Eu próprio conheci algumas pessoas assim, e só me lembro de boas experiências. Nunca me interessei por coisas mais "antigas", tipo ICQ, Hi5, Messenger ou Netlog, que me parecem à partida um desperdício de tempo, mas tenho exemplos de amigas e amigos que provam o contrário, pelo menos no caso delas e deles.

O Nerve Personals, parte da secção premium — isto é, paga — da excelente revista online Nerve (sobre amor, sexo e cultura) poderia ser muito eficaz se não fosse pago e houvesse mais membros em Portugal com foto (são menos de 100). E poderia ser eficaz porque parto do princípio que ter a Nerve como gosto comum é já um ponto de partida.

Muito mais recentemente — já este ano — inscrevi-me no OKCupid, largamente melhor do que todos os sites de encontros que tinha conhecido até agora, não só porque graficamente é muito interessante mas pelo próprio conceito muito Web 2.0. Os criadores do OKCupid eram estudantes de matemática de Harvard e o sistema que inventaram consiste em propor aos utilizadores que respondam a uma bateria de perguntas de resposta múltipla sobre temas variados, desde gostos e interesses a valores e comportamentos; e que digam como gostariam que o seu parceiro ideal respondesse, e quão importante isso é. Com base nisso, um algoritmo calcula o grau de compatibilidade entre cada par de pessoas, no formato (por exemplo) "92% Match, 88% Friend, 6% Enemy".

Agora que o PolyMatchmaker foi relançado, tratei logo de me inscrever, para testar a coisa. Como foi dito no post de domingo, ainda há menos de 20 membros em Portugal. E só 3 têm foto ainda (um deles sou eu)! Mas fiquei contente por verificar que, no próprio dia em que me inscrevi, fui contactado por duas pessoas, uma em Espanha e a outra nos Estados Unidos. Pelo menos como rede social pode funcionar. E, se o número de portugueses aumentar, quem sabe não virei a conhecer ali alguém que não esteja ainda nos meus círculos de amigos poliamoristas.

Uma coisa é certa: não será esta a panaceia universal que vai resolver o problema de quem anda à procura de gajas. Mas deixo aqui a dica — mal não faz certamente…

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Casamento proibido por lei no Texas

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(Por um bloqueio criativo, sacado directamente da lista das Panteras para aqui. Obrigada, Stef e Laetitia!)

O Texas terá, por ter tentado fazer uma lei à prova de bala que não pudesse dar a mínima "desculpa" a qualquer casamento entre pessoas do mesmo sexo, proibido o casamento. De todo.

A cláusula em questão deveria abolir os casamentos entre pessoas do mesmo género mas na verdade, do modo como ficou formulada, proíbe toda a forma de casamento, ou seja, mesmo o casamento heterossexual!

Será sem dúvida uma questão interessante de seguir, e ver qual a cor política que defenderá que forma de casamento, ou o casamento de todo, e porquê!

Em Francês:
Le Texas aurait accidentellement interdit le mariage hétérosexuel

Em Inglês:
Texas marriages in legal limbo due to 2005 error, Democrat says

domingo, 22 de novembro de 2009

PolyMatchmaker — sítio de encontros poly

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Foi relançado esta semana, numa versão (muito?) melhorada, o PolyMatchmaker, sítio de encontros (online dating service) destinado especificamente a pessoas com interesse no poliamor.

É um dos provavelmente muito poucos sites deste tipo que prevê a possibilidade de escrever no perfil alguma coisa que não exclusivamente «homem» ou «mulher», que não apenas «hetero» ou «homo» (ou «bi», que apesar de tudo ainda há alguns sites a permiti-lo), que não só «casado», «solteiro», «divorciado» e «numa relação». Tudo isto em inglês, que o site é internacional e não tem, pelo menos por enquanto, versões traduzidas.

Além de site de encontros, o PolyMatchmaker (que nasceu em 2000) pretende, nesta versão 3.5, ser uma comunidade Web para os interessados no poliamor, para o que oferece um glossário, artigos e links, disponíveis tanto para membros como para não-membros.

Mesmo não pagando a quota que dá direito a ser um Premium Member, é possível ter acesso a bastantes funcionalidades, incluindo as mais básicas de um site deste tipo (pesquisa de pessoas por região, idade, etc; possibilidade de as contactar; preenchimento de um perfil tão completo quanto se quiser; etc.).

Neste momento, uns dias apenas após o relançamento, há só 16 membros em Portugal. Nos Estados Unidos, onde o site está sediado, e Canadá, há agora mais de 7500 membros. Para saber se um site assim poderá funcionar de facto como potenciador de encontros entre poliamoristas portugueses, é preciso criar massa crítica: só com um número razoável de inscritos poderá eventualmente o PolyMatchmaker — e os membros, claro — atingir os seus objectivos em Portugal.

sábado, 21 de novembro de 2009

Sábados em branco

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Aos sábados, este blog tem contado com a participação de muita gente amiga mas mesmo assim os convidados não têm chegado para as semanas.
Por isso, se alguém achar que tem uma história interessante para contar, ou uma opinião para dar, estamos à espera!


Aos Sábados este espaço está aberto a contribuições não só dos nossos convidados mas também de quem quiser escrever.

Envie o seu texto (entre 50 e 500 palavras) sobre poliamor para polyportugal@gmail.com.


Aceita-se propostas de bloggers com ou sem experiência poliamorosa.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

E se saíssem à rua?

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Se fosse aprovada uma lei segundo a qual ninguém pudesse ser monógamo durante mais do que três semanas, as pessoas sofreriam uma imensa pressão. Mas pressão para fazer o quê, exactamente? [...] O que diriam as suas pancartas, quando saíssem para a rua em protesto? - Adam Phillips, 1996

É uma excelente pergunta. Mas, e olhando para o estado actual das coisas, pelo menos uma coisa constaria dessas pancartas - um apelo à necessidade intrinsecamente humana (?) de haver pureza e compromisso. Porque, espante-se, cada vez se ouve como mais óbvio que uma relação aberta é aquela em que o compromisso não existe. Ou, ao invés disso, que uma relação aberta não é uma relação.

Parece-me a mim que isto germina de um profundo desconhecimento do que é a Língua Portuguesa. Ligação afectiva ou sexual. É isso que é uma relação. Portanto... é praticamente impossível escapar-lhe. Que seja claro: a normativização de um determinado conceito não esgota, nem constitui, a definição desse mesmo conceito.

Não roubem palavras.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Tenho aqui uma dor...

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Às vezes tenho uns ataques agudos de “que lindo que seria um mundo poliamoroso”. E esta semana deu-me isto duas vezes. Apanha-me aqui esta zona toda, desde a boca do estômago até ao coração. Socos num e apertos no outro.
O primeiro ataque deu-me a ver a reportagem da SIC, “Filhos de pais em guerra”. Entre outras coisas, a prova de como o ciúme, a despeita e o medo irracional de ser menos amado se podem revelar completamente destrutivos. O final da reportagem pára qualquer digestão em curso.
O segundo achaque foi ontem na escola, a ouvir uma Directora de Turma informar-me do background dos alunos. Eu que acho sempre estas informações importantes, saí de lá sem saber se não preferia ter ficado na ignorância. O rol de desgraças e desamores que me foi desfiado sobre 27 criaturas que algum dia terão sido inocentes, deixou-me a engolir em seco. Quase todas as histórias passavam pelo capítulo “os pais divorciaram-se” e apenas uma incluía o “dão-se todos bem”. As outras incluíam episódios de abandono, alienação parental, instrumentalização e maus tratos psicológicos.

Num artigo que li há uns tempos, a jornalista imaginava como teria sido a história Clinton-Lewinski, se os envolvidos fossem poliamorosos:

“O presidente explica, com graça e dignidade, que ele e Monica estão apaixonados e que a primeira-dama tem conhecimento do relacionamento desde o início. Hillary diz à imprensa que aprova o relacionamento, com base na sua própria amizade e carinho por Monica. Esta junta-se a eles, e explicam que o seu relacionamento é uma tríade poliamorosa, em que os três são parceiros iguais, e que está aberta à inclusão de futuros parceiros.
Quando a imprensa, chocada, pretende saber como isso afectou a filha, Chelsea responde que agora tem três pais, que os ama a todos, e que tudo isto lhe ensinou muito sobre os benefícios de ser completamente honesta em todos os seus relacionamentos.”

E também eu dei por mim, nas duas ocasiões, a fantasiar como todas aquelas histórias podiam ser radicalmente diferentes. Com outros problemas, talvez. Porque o poliamor está longe de ser a panaceia para todos os males.
Mas a mera possibilidade de que as coisas possam ser diferentes, que nem todas as relações amorosas tenham que acabar em ódios militantes, não seria já um caminho pelo menos mais equilibrado? Se em vez de acabar, as coisas pudessem evoluir para outras formas, se as crianças deixassem de ter dois pais em casa para terem quatro ou mais, mesmo em casas diferentes.
Porque, como diz uma psicóloga na reportagem da SIC, a estabilidade provém da flexibilidade, e não de dormir todos os dias na mesma cama.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

eles são singles, senhor...

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há uns meses uma amiga de uma amiga teve uma rapidinha com um tipo que conheceu na rede... num sítio para swingers. diz ela que até não foi mau, mas... o gajo era casado. ok, era um sítio para swingers e é normal ser-se casado, só que o rapaz estava lá como single! se calhar é só ele, digo eu na minha ingenuidade.

agora esta amiga da minha amiga apresenta o moço à minha amiga (ela sim, uma single verdadeira) e não é que ela se encanta por ele! bem, depois de dar uma voltinha para experimentar...

e segue um "namoro"... bom sexo, muitas trocas de mensagens a todas as horas e a frequência de alguns clubes de swing... onde, surpresa das surpresas, o nosso rapaz começa a ter ciúmes da minha amiga quando a vê com outr@s... e só a beijar na boca.

não é que a minha amiga, um verdadeiro espírito livre, começa a ter um comportamento condicionado à vontade do "namorado"...? e tudo isto por detrás das costas da mulher, que nada sabia desta relação...

já ia na conversa do "mas eu deixo-a e venho viver para a tua casa", hipótese sempre afastada pela minha amiga, diga-se de passagem, quando eis se não que a mulher lhe "apanha" o telemóvel e lá estão as mensagenzitas "conta tudo".

bem! caiu o carmo e a trindade! e o tipo não vai de modas: conta tudo... lingerie, sexo, clubes e por aí fora.

moral da história: duas mulheres magoadas desnecessariamente e um gajo que sai quase como a vítima.

a minha amiga sabia ao que ia, claro, mas nunca escondeu que por ela seria muito mais sério se a relação fosse aberta a incluir a mulher dele.

a mulher, depois de saber os detalhes e de ter conversado longamente com a minha amiga, até mostrou abertura para a incluir na relação e... despertou para o sexo!

e ele, então?

lá está... em casa tem sexo como nunca teve, mas teima em tentar controlar a minha amiga. ela é que já não permite e faz a vida dela como sempre fez, livre de condicionalismos.

numa sociedade ainda muito patriarcal é muito difícil alterar mentalidades, mas observo que mesmo quando poderá haver alguma abertura para essa mudança por parte de alguns, existem sempre outr@s que preferem fazer as coisas às escondidas.

será que assim é mais estimulante?

será que as pessoas precisam da adrenalina proporcionada pela clandestinidade?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Nós e laços

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Na semana passada referi aqui o desabafo de uma couchsurfer belga sobre o fim de uma relação e de como se sentia mal não só por isso mas também por não conhecer ninguém como ela (isto é, com ideias poliamoristas).

Depois de receber uma série de respostas solidárias, acrescenta (traduzo eu): «Nunca foi fácil, porque nunca encontrei ninguém que pensasse como eu sobre o amor e as relações. E no entanto não deixo de me enamorar e de precisar de afecto. De modo que tenho tentado mudar-me porque pensava que não era normal e tinha de mudar. Por isso sabe bem verificar que há outras pessoas como eu; e não quero mudar porque sei que isso me limita, não me agrada e não me faz feliz.»

Uma das respostas que a couchsurfer recebeu seria uma tentativa de desanuviar com um link para a mais recente mini-BD da série Subnormality (© Winston Rowntree, publicada no seu próprio site Virus Comix). Gostei. E quero partilhar, porque vem na onda da minha letra de canção "Antes que acabe (É lá com eles)" (que já aqui publiquei).

Ora clicai lá na imagem para ver a página em tamanho legível (em inglês).

O resumo? Para quem esteja com a vida demasiado ocupada, aqui vai: «Não há pessoas normais.»

Mas não há dúvida de que sabe muito bem ter conhecimento de que há outras pessoas como nós.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Schiller, 250º Aniversário

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A 10 de Novembro de 2009 celebrou-se o aniversário de Schiller.
Neste artigo do SPIEGEL, em alemão, há umas frases que chamam a atenção de olhos mais galdéricos.

http://su.pr/4RfKpA

A fonte é uma abundante colecção de apontamentos do seu amigo de juventude Johann Wilhelm Petersen.

Parece que "alguns dos seus conhecidos foram testemunhas de que, durante suas quecas, rugindo e esperneando, não tomaria menos de 25 doses de rapé"

Mas isto é apenas um fait divers, uma cusquice, talvez grosseira, dos seus tempos de juventude e de médico-soldado, e das suas quecas mágicas, muitas vezes em grupo.

Prefiro chamar a atenção para o seguinte:

"(Schiller) via-se como cidadão do mundo, servo de nenhum senhor. Durante muito tempo quis não se ligar a nenhuma mulher em especial, mas por fim apaixonou-se por duas irmãs. Ter-se-ia casado com as duas, mas teve de se decidir por uma delas."

Nomeadamente: "Dia 15 de Novembro de 1789, pela tarde, Schiller sentou-se à secretária e fez o impossível: declarou às duas jovens, na mesma carta, o seu amor por ambas. Era do seu conhecimento, há bastante tempo, que ambas estavam apaixonadas e queriam viver com ele - Como tudo seria posto em prática, não é claro até à data."

domingo, 15 de novembro de 2009

Amores múltiplos no JN

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Há pouco mais de um ano, a 19 de Outubro de 2008, o Jornal de Notícias publicou uma "Reportagem de Domingo" sobre poliamor, assinada pela jornalista Helena Norte.
Graças à chamada de capa, o público não se limitou aos leitores do JN, por ter sido visto, e comentado, nas revistas de imprensa das televisões.
Uma tal exposição resultou num grande número de contactos por parte de pessoas que não conheciam o conceito e se mostraram interessadas, bem como em novas adesões ao grupo.
Vale a pena ler o artigo na totalidade:

sábado, 14 de novembro de 2009

Sábados em branco

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Aos sábados, este blog tem contado com a participação de muita gente amiga mas mesmo assim os convidados não têm chegado para as semanas.
Por isso, se alguém achar que tem uma história interessante para contar, ou uma opinião para dar, estamos à espera!


Aos Sábados este espaço está aberto a contribuições não só dos nossos convidados mas também de quem quiser escrever.

Envie o seu texto (entre 50 e 500 palavras) sobre poliamor para polyportugal@gmail.com.


Aceita-se propostas de bloggers com ou sem experiência poliamorosa.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Balanças

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Tomar decisões é uma daquelas coisas complicadas que todos nós fazemos, todos os dias. Nem sempre pensamos muito, ou muito profundamente, nas que tomamos. Desde que dou aulas de Ética, apercebi-me ainda mais da quantidade industrial de formulações diferentes que tantas outras pessoas já inventaram para tentar resolver essa árdua tarefa de tomar decisões. O que me leva a concluir que, fundamentalmente, ninguém se decide no que toca a tomar decisões. =)

Causas e efeitos, princípios ou consequências, Bem e Mal - e tudo entre estas coisas. O problema é que, como somos constantemente relembrados, parece que só a racionalidade pura e mais abstracta conta para a tomada de decisões. O que, convenhamos, dificulta um bocado a árdua tarefa - ou não! - de tomar decisões com base em sentimentos e emoções. Não basta ir cuscar "O Erro de Descartes" para chegar lá, convenhamos.

Tomar a decisão de iniciar uma nova relação, ou de propor semelhante coisa, requer muito pensamento. Requer uma longa olhadela para a agenda (gasp!), para a(s) relação(ões) pré-existentes, para aquilo que sentimos... Requer coragem, também, para pedirmos a outra pessoa que se coloque no meio de uma situação que é, ainda e infelizmente, estranha ou sui generis. E mesmo para quem conhece, de fora, o poliamor, pode ser complexo dar também esse passo.

Para quem, seja de fora ou de dentro, se preocupa com todas as questões envolvidas - ou com tantas quantas consegue - arrisca-se a bater com a cabeça na parede com a complexidade envolvida. Com todos os sentimentos, com todas as possibilidades más, com todas as fragilidades. Isso às vezes faz com que seja difícil manter os olhos no alvo. E o alvo é sermos felizes, e termos relações felizes (com outr@s e connosco).

Manter os olhos no alvo requer também esquecermo-nos, durante momentos, do que pode correr mal e olhar para a potencialidade que as situações têm de correr bem. De podermos retirar delas algo de bom, uma aprendizagem, um sorriso, um novo amor. E quem não está directamente envolvido nas tomadas de decisão precisa também de ter a coragem de ousar abrir-se à novidade, à diferença; criar o espaço para que nasça ali alguma outra coisa.

Por isso é que falar de constelações familiares no poliamor faz tanto sentido. Mesmo naqueles casos em que nem toda a gente se relaciona com toda a gente - como os clássicos triângulos ou tríades - há, ainda assim, um envolvimento necessário de todas as pessoas. Todas se afectam mutuamente, para bem e para mal. Seja a nova pessoa que não quer perturbar as relações existentes de forma excessiva, ou as pessoas pré-existentes que também não queiram impedir que a nova relação floresça - isto para pegar nos bons exemplos.

E mesmo que isto pareça que se está a fazer malabarismos com balanças, a verdade é que também se cresce e se aprende muito. E, com empenho e um bocadinho de sorte, também se ama e se é amado. Muito mesmo. No meio de uma família-constelação.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Simplesmente... não casados

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Numa altura em que o casamento e o seu alargamento a casais do mesmo sexo está na ordem do dia, dou por mim a pensar porque é que as pessoas ainda se casam. Pessoalmente não tenho nenhuma vontade de promover uma cerimónia que oficialize qualquer uma das minhas relações. Não quero casar, creio que nunca quis, e agradeço que não me convidem para casamentos.
No entanto, é para mim claríssimo que quem o queira fazer deve ter essa liberdade. E só alguém com grandes palas nos olhos consegue acreditar que a homossexualidade tem alguma coisa a ver com a capacidade ou não de formar uma família funcional. Mas toda esta discussão sobre o casamento me parece sempre limitada, truncada, abafada pela polémica homo, que não é mais que uma falsa questão, já desde os gregos, ou desde que saímos da fase de ameba.
Mais do que discutir o sexo dos anjos casadoiros, interessar-me-ia discutir o próprio conceito de família. E dentro dessa linha discutir problemas pragmáticos e prementes, como a relação do Estado com a família, e consequentemente a grande injustiça que subsiste na diferença de tratamento entre pessoas casadas e “os outros”.
Nos Estados Unidos existe uma organização cujo trabalho se centra precisamente em combater estas injustiças. No site da Alternatives to Marriage Project, o poliamor surge na lista de “maneiras de ser não-casado”, na qual se incluem também outras alternativas importantes.
A associação promove acções em torno de assuntos como cuidados de saúde, segurança social, impostos, habitação, adopção e imigração. Todas elas ligadas aos direitos básicos de qualquer cidadão, atropelados diariamente por um Estado que se diz laico, mas cujas leis seguem uma definição muito própria e limitada do que é uma família.
É bem verdade que já temos uniões de facto, que eu própria usufruo de um belo seguro de saúde pago pela empresa onde o meu “unido” trabalha, mas não me agrada que haja regras específicas quanto à quantidade e qualidade dessas uniões. Que se criem outras regras, que se pague um extra por cada pessoa que usufrui de um determinado benefício, … Arranjem-se como entenderem, mas não me digam com quem, nem com quantos, é que posso formar uma família.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

as tardes da júlia

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há dias recebi uma chamada de uma jornalista que preparava o programa "tardes da júlia" e precisava urgentemente de um contacto: precisava de mais um homem que tivesse tido várias mulheres ao longo da vida... e que não se conseguia "contentar" com uma só.

achei piada ao pedido e perguntei que tipo de relacionamentos precisavam de ter tido.

"os normais, claro!", resposta imediata.

"e se forem várias relações ao mesmo tempo", perguntei.

"pois, imagino que alguns tenham traído no processo!"...

"não, não era isso que eu queria..." desisti e disse que falaria com uns amigos.

falei, mas não consegui que alguém se dispusesse. junto dos meus contactos recebi uma série de simpáticas recusas. ninguém queria ir ao programa. não era, de todo, uma questão de não querer falar sobre o assunto, mas onde e com quem o teriam de fazer.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Tristezas não trazem dúvidas

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Há pouco tempo, um amigo meu contou-me que tinha acabado uma relação monogâmica de vários anos porque a namorada tinha começado a andar com outro e ele tinha descoberto. Confrontada, negou. A história do costume.

Hoje, no grupo Polyamory do Couchsurfing, uma couchsurfer belga sentiu necessidade de desabafar: acabou uma relação monogâmica de vários anos porque, apesar de o namorado saber que ela queria uma relação mais aberta, não suportou que ela tivesse dormido com outro e lhe tivesse contado. Nada de novo, infelizmente.

Os meus amigos situam-se quase sempre numa destas categorias em relação às minhas ideias poliamorosas:
— Admiro-te muito mas eu nunca conseguiria
— Admiro-te muito e gostava de tentar
— Tenho medo por ti, porque vais sofrer
— Gosto muito de ti mas quando é que te deixas de ideias malucas?

Os três primeiros podem estar, todos eles, a ver bem a questão (ou não, claro, mas isso aplica-se a qualquer interpretação). Quero eu dizer que os que têm medo por mim «porque vou sofrer» têm razão também.

«Vou sofrer» porque isso faz parte das relações humanas, e em especial das relações afectivas. Quase todas. Nesse sentido, os que me «admiram» talvez estejam simplesmente a dourar demasiado a pílula. Hei-de sofrer por momentos, sim: porque se vão descobrindo as pessoas lentamente e às vezes sai uma ficha que nos agrada menos; porque os ritmos dos enamoramentos não são iguais para os pares de envolvidos e muito menos para as constelações; porque não é invulgar transportar o stress de uma parte da vida para outra (incluindo as partes amorosas); porque com o aumento de à-vontade numa relação diminui-se o tempo para pensar no que se diz antes de o dizer (com todas as boas e más consequências que isso acarreta); e por tantas outras razões.

Isto é assim numa relação monogâmica ou numa relação poliamorosa. E cada um dos modos de pensar tem vantagens e desvantagens. Eu pesei os prós e os contras há mais de trinta anos. E nunca mais deixei de os pesar com novos dados que a vida tem vindo a fornecer-me. E continuo sem dúvida alguma do que quero para mim.