Em 2006 traduzi e adaptei um artigo de divulgação do poliamor (Escrito pela minha amiga e companheira de conspiração G. Altenhofer), que foi publicado na Zona Livre, publicação mensal do Clube Safo. Recebi algumas reacções, dos mais variados sabores, e senti-me na obrigação de escrever uma resposta. Hoje desenterrei este artigo, porque achei que pode ser lido como uma reflexão avant-garde do papel, oportunidade, ou não, que o poliamor pode ter nos movimentos LGBT portugueses, se estes querem seguir tudo o que é feito lá fora, incluindo repetições de erros (tácticos e de princípio) ou se querem ter a sua própria identidade e agenda. Usei alguns exemplos da Schlampagne, movimento quase desconhecido em Portugal, que vocalizaram criticas bastante veementes a tendências normatizantes dentro do próprio movimento LGBT. Este artigo pode ser interessante para activistas e/ou LGBTs, mas também para todos os que pensam sobre a transversalidades dos movimentos humanistas (feminismo, LGBT, anti-racismo, etc...).
"Atrás de cada rosto insuspeito uma vida única. E à sua frente, um futuro único"
Extracto modificado de artigo publicado na Zona Livre.
Entreguei no último número da Zona Livre a tradução de um artigo pessoal e descritivo (da minha amiga e cúmplice de conspiração G. Altenhoeffer sobre poliamor, esperando começar a discussão sobre o tema. Por algumas respostas que tive (obrigada!) senti-me na necessidade de explicar alguns pontos.
Não quis apresentar definições ou grandes dissertações sobre o poliamor, não-monogamia responsável, relações abertas, anéis, redes, triângulos, etc. etc. etc.. Basta apresentar o poliamor como qualquer relação que se afasta conscientemente do modelo monogâmico, e já temos material que baste. Não quis fazer uma apologia do poliamor como um modo de vida que todas devamos abraçar imediatamente e sem excepção. Cada uma sabe de si e o amor (em todas as suas formas) sabe de todas. Quis sim, como disse, em primeiro lugar, lançar a discussão.
Em segundo lugar, quis mostrar que há ainda mais diversidade do que se vê em primeira aproximação, mostrar que há outros modos de vida a acontecer mesmo ao nosso lado, e que pedem e merecem visibilidade e respeito. Por fim, quis mostrar às que, mergulhadas numa sociedade que força o paradigma monogâmico, e vivem ou contemplam viver em poliamor, que não estão tão isoladas como isso: "Nós andamos aí".
As reacções que tenho tido têm sido semelhantes em quantidade e qualidade a reacções ouvidas nos últimos anos noutros ambientes, noutros contextos. Vejo isto como animador, pois parece indicar que diferentes ambientes sociais não influenciam a predominância de um certo tipo de reacção. Estamos pois a falar de um tema que é essencialmente humano e pessoal e que não é influenciado por modas, idade, culturas ou educação.
Tive reacções de grande hostilidade (a raiar o insulto), outras de grande cepticismo ("esse modo de vida é sustentável?"). Tive outras de tolerância em que pessoas que não se imaginavam fora do modelo monogâmico aceitavam que isso pudesse ser válido e respeitável para outrem. Dentro deste grupo ouvi muitas referências a uma ou outra história poliamorosa de pessoas delas conhecidas. Finalmente conheci algumas pessoas que se identificavam (em teoria ou em prática) com alguma forma de poliamor.
(continua na próxima semana)
Sem comentários:
Enviar um comentário