segunda-feira, 27 de julho de 2009

Poly dentro dos movimentos LGBT: uma oportunidade?

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Em 2006 traduzi e adaptei um artigo de divulgação do poliamor (Escrito pela minha amiga e companheira de conspiração G. Altenhofer), que foi publicado na Zona Livre, publicação mensal do Clube Safo. Recebi algumas reacções, dos mais variados sabores, e senti-me na obrigação de escrever uma resposta. Hoje desenterrei este artigo, porque achei que pode ser lido como uma reflexão avant-garde do papel, oportunidade, ou não, que o poliamor pode ter nos movimentos LGBT portugueses, se estes querem seguir tudo o que é feito lá fora, incluindo repetições de erros (tácticos e de princípio) ou se querem ter a sua própria identidade e agenda. Usei alguns exemplos da Schlampagne, movimento quase desconhecido em Portugal, que vocalizaram criticas bastante veementes a tendências normatizantes dentro do próprio movimento LGBT. Este artigo pode ser interessante para activistas e/ou LGBTs, mas também para todos os que pensam sobre a transversalidades dos movimentos humanistas (feminismo, LGBT, anti-racismo, etc...).

"Atrás de cada rosto insuspeito uma vida única. E à sua frente, um futuro único"
Extracto modificado de artigo publicado na Zona Livre.

Entreguei no último número da Zona Livre a tradução de um artigo pessoal e descritivo (da minha amiga e cúmplice de conspiração G. Altenhoeffer sobre poliamor, esperando começar a discussão sobre o tema. Por algumas respostas que tive (obrigada!) senti-me na necessidade de explicar alguns pontos.
Não quis apresentar definições ou grandes dissertações sobre o poliamor, não-monogamia responsável, relações abertas, anéis, redes, triângulos, etc. etc. etc.. Basta apresentar o poliamor como qualquer relação que se afasta conscientemente do modelo monogâmico, e já temos material que baste. Não quis fazer uma apologia do poliamor como um modo de vida que todas devamos abraçar imediatamente e sem excepção. Cada uma sabe de si e o amor (em todas as suas formas) sabe de todas. Quis sim, como disse, em primeiro lugar, lançar a discussão.
Em segundo lugar, quis mostrar que há ainda mais diversidade do que se vê em primeira aproximação, mostrar que há outros modos de vida a acontecer mesmo ao nosso lado, e que pedem e merecem visibilidade e respeito. Por fim, quis mostrar às que, mergulhadas numa sociedade que força o paradigma monogâmico, e vivem ou contemplam viver em poliamor, que não estão tão isoladas como isso: "Nós andamos aí".
As reacções que tenho tido têm sido semelhantes em quantidade e qualidade a reacções ouvidas nos últimos anos noutros ambientes, noutros contextos. Vejo isto como animador, pois parece indicar que diferentes ambientes sociais não influenciam a predominância de um certo tipo de reacção. Estamos pois a falar de um tema que é essencialmente humano e pessoal e que não é influenciado por modas, idade, culturas ou educação.
Tive reacções de grande hostilidade (a raiar o insulto), outras de grande cepticismo ("esse modo de vida é sustentável?"). Tive outras de tolerância em que pessoas que não se imaginavam fora do modelo monogâmico aceitavam que isso pudesse ser válido e respeitável para outrem. Dentro deste grupo ouvi muitas referências a uma ou outra história poliamorosa de pessoas delas conhecidas. Finalmente conheci algumas pessoas que se identificavam (em teoria ou em prática) com alguma forma de poliamor.

(continua na próxima semana)

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