sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Pedro não sofre de poliamor, não

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Portugal inteiro, ou perto disso, por esta altura já sabe que o Pedro, da Casa dos Segredos 2 (programa da TVI) “sofre de poliamor”. Longe de mim não gostar da disseminação, mas a frase em si levou-me a pensar no que é “sofrer de…” alguma coisa, e como é que isso precisa de ser lido historicamente e ao nível de uma política das identidades.

Há muito tempo atrás, e para dar um exemplo como poderia dar vários outros, a figura do homossexual foi criada. O homossexual foi criado. E foi criado precisamente dentro do contexto de uma patologia. A homossexualidade era uma doença, uma anormalidade que podia ser (talvez) curada, tratada, cuidada – mas, acima de tudo, estudada. É um ponto que tanto Foucault como Lynne Huffer, a partir do trabalho dele, fazem: o surgimento da figura do homossexual é o surgimento de um objecto de estudo científico redutível à verdade epistemológica da sua homossexualidade. Reparem: objecto de estudo. Uma boa parte do movimento LGBTQI desde então tem-se preocupado, justamente, com quebrar esta objectificação dos afectos, desejos, comportamentos.

A quebra desta objectificação entre outras finalidades, tem o objecto de poder criar sujeitos de desejo, prazer, sexo. E isso está ligado à noção de responsabilidade pessoal. Não no sentido do velho debate de “eu escolhi ser homossexual” versus “eu nasci homossexual”, mas no sentido de se poder identificar, obter e utilizar autonomia na vida sexual e erótica / afectiva.

Então, porque é que Pedro diz que “sofre de poliamor”? Porque, se for uma doença, um padecimento, então ele não pode ser responsabilizado pelos seus próprios actos. Se for algo que lhe aconteceu, e não que ele faz acontecer, a culpa não é dele (soa tão cristão, isto, não soa?).
Ora, como o poliamor é uma daquelas raras identidades cuja génese não passou por uma patologização prévia, então há agora quem tente patologizar esta identidade, de forma a, mais uma vez, poder objectificar-se a si ou a outrxs, removendo qualquer complexidade ética e colocando-se a salvo da responsabilidade que daí adviria.

O problema é que o poliamor é uma forma de não-monogamia responsável. Portanto, não. Pedro não sofre de poliamor. Não é possível sofrer-se de poliamor – os afectos não são patologias, e a responsabilidade não é descartável. Mas mesmo que fosse possível, ele continuaria a estar ‘de fora’ – ao que parece, a parte da honestidade não o afecta.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Poliamor não é

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... o oposto da monogamia.

É o oposto da traição (seja ela sob que forma for).

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Tertúlia "Poliamor"

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Apareçam e divulguem - Dia 29 de Outubro, pelas 17h!

Quando duas pessoas têm uma relação, será que não se sentem atraídas por outras? E quando tal acontece, o que se faz?

a)    Põe-se a relação acima de tudo e refreiam-se interesses e desejos em nome do amor, ficando com a frustração e muitas vezes a amargura de ter abdicado de algo por causa de outra pessoa…?
b)    Entra-se numa relação “extra-conjugal”, num ciclo de mentiras, segredos  e sentimentos de culpa, que muitas vezes envenenam todas as relações?
c)    Termina-se a primeira relação e inicia-se uma nova, muitas vezes sabendo que se deixa alguém com quem se era feliz e sem ter a certeza de que o que se faz é o melhor para todos os envolvidos?
d)    Procura-se uma alternativa? … existe uma alternativa????

Afinal,
  •   é possível sentir amor e atracção por mais do que uma pessoa?
  •   é aceitável relacionar-se com mais do que uma pessoa ao mesmo tempo?
  •   é positivo ser capaz de ter mais do que uma relação amorosa?
  •   A honestidade é compatível com a fidelidade?
Eis algumas das questões que nos surgem quando se fala de Poliamor? Mas afinal o que é “poliamor”, quem são os “poliamorosos”? Serão as pessoas que assumem de forma honesta e consentida que uma relação amorosa e /ou sexual pode incluir mais do que duas pessoas? E como se relacionam entre si essas pessoas?

Vamos reflectir, descobrir, debater todas estas questões na Tertúlia do Clube Safo.
Dia 29 de Outubro, pelas 17h.
(Acede ao evento no facebook!)

Projecção do documentário Férias em Vale Galdérias.


Conversa com Inês Rolo e Daniel Cardoso, do PolyPortugal, disponíveis para responder a todas as questões da assistência.

Inês Rolo, investigadora em Estudos sobre as Mulheres, falará sobre o que é ser poliamorosa, lésbica, queer, jovem e feminista.
Daniel Cardoso, Doutorando em Ciências da Comunicação e com uma tese de mestrado sobre Poliamor, tentará explicitar o lugar do poliamor na crítica feminista à monogamia, na crítica feminista à mono-normatividade, no potencial da não-monogamia lésbica como prática de luta contra o sistema patriarcal…

Vamos animar o debate?