terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Poliamor sem hesitações

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Anteontem li no Jornal de Notícias um artigo extraordinário (é de Novembro mas só me veio parar às mãos agora, por via dum atrasadíssimo Google Alert).

O autor consegue a proeza irrepetível de escrever contra tudo aquilo em que acredito: o poliamor, o combate ao tabu da monogamia, a não-exclusividade, o direito à igualdade, o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, a equiparação do casamento a uniões entre mais do que duas pessoas, o Estado-providência e, por fim, o desafio a esse manual de maus costumes que é a Bíblia. E, no entanto, fá-lo usando um único recurso estilístico: a ironia. Por definição, a ironia é a expressão de uma intenção ou significado usando expressões que normalmente significam o exacto oposto. A luminária que assina este artiguelho (vêem? também sei: "luminária" é ironia; já "artiguelho" não é) — esse bota-de-elástico, dizia eu, usa e abusa das aspas para marcar a ironia.

E o que há de extraordinário em tal artigo? É que, precisamente graças à sua pobreza estilística, basta tirar as aspas para ser um texto que eu assinaria por baixo na totalidade. É isso: tirem as aspas e vão ver se o velho não tem razão. Vá lá: tirem as aspas e, no penúltimo parágrafo, a palavra «má». E, pronto, mudem o título para Poliamor sem hesitações.

Ora então é clicar e alegrar, rapaziada: Poligamia sem hesitações - JN.

"FAITH-BASED CONNECT THE DOTS"

cartoon do brilhante Don Addis, que morreu faz hoje um mês

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Monogamicxs

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Fotografado no último sábado no Fluviário de Mora:

Monogâmico: relativo à condição na qual um macho e uma fêmea estabelecem uma relação de acasalamento mais ou menos exclusiva.

domingo, 27 de dezembro de 2009

My boyfriend's girlfriend isn't me

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Não há muitas músicas em que o tema seja explícita ou implicitamente o poliamor. Uma das mais claramente poliamorosas é de uma banda canadiana de rock a atirar para a comédia. A banda é pouco conhecida e chama-se Must Be Tuesday. A canção chama-se My Boyfrend's Girlfriend (Isn't Me)", ou simplesmente Boyfriend's Girlfriend e é possivelmente o maior sucesso deles.



There's lots of kinds of people in this world | and I'm, well, I'm not like other girls | How do I explain this properly? | My boyfriend's girlfriend isn't me

Well obviously one of them is | But there's another girl of his | And I know her and she knows me | and that would be great if it was just us three

But she has a guy who's even more pretty | and a long-distance thing in another city | He and his wife come by when they can | and they have a kid who calls me his aunt

Just when I thought it was all too crazy | I tried to draw our family tree | There's nothing wrong with extra love | But the paper wasn't big enough


Refrão:
Of all the ways I've ever dated | it's never been so complicated | The chain can extend to eternity | 'cause my boyfriend's girlfriend isn't me

We spent Christmas eve with my boyfriend's dad | Christmas day with my folks and the feast they had | New Years, he went to his girlfriend's city | I mean the one who isn't me

She brought him and her other guy | to her company picnic and I won't lie | I wasn't used to being alone | so I want someone new of my own

It isn't easy to find a fling | 'Cause when you hit on some tasty thing | They say "Aren't you with that guy?" | You say "Oh he doesn't mind.

Have you ever seen 'Big Love'? | Know what I mean, wink, wink, nudge, nudge…" | And they say "Oh, so you're a Mormon?" | "No! …I'll explain from the beginning…"


Refrão

When the partners get together, | the primaries and all the others, | we give the newbies a little primer | and we all get out our day timers

Calendars as far as the eye can see. | "When can I see you?" "When are you free?" | "Who gets me on my birthday?" and then | "Does anyone have an extra pen?"

The kids have the best celebration. | Gifts from three dozen odd relations. | There's Uncle Jackie's girlfriend, Mary, | Ed who is her secondary…

Ed's new boyfriend brought along | his ex, whose fling is going strong | with someone that I used to know | and just became my boyfriend's beau…


Refrão

A couch where four can snuggle up | Suddenly isn't big enough | And even so we don't give up. | There's no such thing as too much love.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Punalua

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No seu livro sobre "A origem da Família...", Engels fala sobre um termo que alguns poliamorosos gostam de usar - punalua.

A família punaluana seria uma forma evoluída de modelo familiar - sendo que ele vai buscar o termo e exemplo a um costume havaiano - ainda dentro dos costumes de sociedades consideradas "bárbaras". É interessante ver como este modelo familiar tinha um traço fortemente matriarcal, já que, dentro destas famílias-grupo não era possível estabelecer a paternidade de uma determinada criança, mas era sempre possível estabelecer a sua maternidade. Este era um modelo de coabitação e cooperação em que os membros de um determinado grupo de homens se chamavam punalua entre si, e idem para cada determinado grupo de mulheres.

A análise de Engels leva-nos mais longe, analisando uma evolução nas estruturas familiares a par de progressos civilizacionais, e eis que chegamos ao modelo monogâmico.

Compreender este modelo é importante, creio, para termos uma perspectiva de quais as suas raízes. Porque se é verdade, como já referi várias vezes, que a monogamia pode ser praticada de uma forma igualitária e com respeito pelos direitos e deveres de cada indivíduo, é também verdade que só com a noção das raízes podemos começar a desmontar os processos de dominação que operam nessa esfera.

Diz-nos então Engels que a monogamia

"se baseia na supremacia do homem, com o propósito expresso de produzir crianças cuja paternidade não possa ser disputada; tal paternidade inequívoca é exigida pelo facto de que esses filhos serão, mais tarde, herdeiros daquele pai. [...] O direito da infidelidade conjugal também se mantém adstrito a ele, quanto mais não seja pelo costume [...]"

Vemos actualmente ainda muitas provas de como resquícios destas ideias se mantêm no século XXI. Os homens são, estereotipicamente, os traidores por excelência, os principais preocupados com passar o legado da família (quanto mais não seja, o nome da família, que é o nome do homem).

Ora, se como tenho abordado, é o fechamento da relação monógama que, a contrario, institui a traição, é também ela que retira a possibilidade de cooperação e inter-relação presente entre punaluas. Essa relação não existe dentro de um modelo estritamente monógamo, embora possa, ainda assim, existir dentro de alguns modelos de poliamor em que existe um fechamento das relações a um determinado conjunto de pessoas.

E isso deixa-me, por estranho que possa parecer - porque deveria ser indiferente, não? -, triste. Fico triste porque tenho assistido muito de perto ao quão bela e forte pode ser uma relação entre punaluas, e questiono-me sobre que visão terá a posição mononormativa sobre estas pessoas que resolvem assumir-se como punaluas, que resolvem gostar disso, que daí retiram prazer e compersion.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

"Poly" Pocket

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Todos os anos por altura do Natal fico doente com esta coisa dos brinquedos para as crianças. Nem tanto com a febre consumista de que todos nos queixamos, e para a qual volta e meia nos descai o cartão de débito, mas com outra questão que, apesar de tudo, me parece mais chocante. A ideia de que há brinquedos para meninos e para meninas. Por mais que se ache que se fizeram já progressos enormes na dissipação de papéis de género, torna-se quase impossível para uma criança escapar a esta ditadura dicotómica de haver toda uma lista de coisas com as quais pode e não pode brincar. Todo um código de cores, tipos de letra, formas de embalagem, que no seu conjunto se referem a uma coisa ou outra. Nada de confusões ou ambiguidades.
Era assim há vinte anos, quando eu era criança, e continua a ser assim agora, sem tirar nem pôr. E depois venham-me com milhares de estudos, cientificamente comprovadíssimos, de que as mulheres são assim e os homens são assado. E venham-me pais com a conversa de que o filho e a filha foram educados exactamente da mesma maneira e olha, vá-se lá saber porquê, um tem mais raciocínio matemático e a outra tem mais propensão para a literatura. Enquanto não se mudarem estas condicionantes fortíssimas, qualquer estudo com base no género é tão sério como uma brincadeira de crianças.
Quando há uns anos a minha sobrinha tentava assimilar o divórcio dos pais, um dos conselhos da brilhante psicóloga da infantário, foi que lhe oferecessem no Natal famílias de bonecos tipo Barbie, que contivessem obrigatoriamente mamã, papá e filhotes. Para a criança não perder a referência de família. Ou seja, toma lá isto que não tem nada a ver com a tua realidade nem, mais cedo ou mais tarde, com a de quase nenhum dos teus amigos. Não vás tu lembrar-te de ser feliz de outra maneira.
Já eu, felizmente, tive a sorte de ter um irmão, o que nos possibilitou ter todo o espectro de brinquedos em casa. E o discernimento de os misturar todos, brincando em conjunto e multiplicando as possibilidades. Pessoalmente sempre desejei ter comboios, pistas de carrinhos e carros telecomandados. E uma das vantagens que o meu irmão via em ter uma irmãzinha, era poder brincar com as miniaturas de electrodomésticos que via nas montras.
Este Natal, enquanto lamento o facto de até as peças Lego (haverá coisa mais universal que o Lego?) virem numa caixa cor-de-rosinha para meninas, ponho-me a olhar para a embalagem da Polly e a fantasiar que se trata de uma personagem poliamorosa, com vários Ken’s e suas respectivas Skipper’s, que por sua vez são amigas da Barbie e fazem corridas de carros com os Legos do Espaço.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Paixões e tempestades

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Hoje à hora de almoço vinha a ouvir na Antena 2 o sempre interessante Em Sintonia com António Cartaxo.

O programa de hoje era sobre Beethoven e dá para ouvir de novo às 23h00 ou, em qualquer altura, na página do programa ou directamente aqui.

Aos 35'00", António Cartaxo passa um excerto da sonata nº 23, a Appassionata. Depois, aos 40'30", diz o seguinte:
"Quando lhe perguntaram qual o sentido da Appassionata (o cognome é do editor mas Beethoven aprovou-o), a resposta foi a seguinte: «Leia A Tempestade de Shakespeare». E Romain Rolland, estudioso de Beethoven, lembrará que A Tempestade é a fúria das forças elementares — paixões, destemperos dos homens e dos elementos —, é o senhorio do espírito, mago que, a seu bel-prazer, congrega ou dissipa a ilusão. A definição da arte beethoveniana neste período de maturidade." ¹
Eu diria que A Tempestade (a peça) nada tem a ver com a «fúria das paixões»… Mas já que aqui estamos, vejam lá bem o que diz o protagonista, Próspero, a propósito de um casalinho que ele, num espírito casamenteiro, quer ver atingido pelas setas de Cupido (e que realmente se apaixonam num instante): «They are both in either's powers: but this swift business / I must uneasy make, lest too light winning / Make the prize light.» Ou seja, «deixa-me cá dificultar a coisa, que estes dois pombinhos começaram a arrulhar depressa demais», (e agora em tradução mais literal) «não vá uma conquista tão ligeira tornar o prémio demasiado ligeiro».

Mas que raio de ideia é esta?! Que mal fizemos nós para sermos ainda hoje bombardeados com este e outros disparates do Romantismo? Atenção, a frase, a peça e o autor são sem dúvida alguma geniais — mas a ideia romântica de que uma conquista sem sangue, suor e lágrimas não tem valor é simplesmente uma má interpretação dos naturais ajustes que duas pessoas precisam de fazer quando iniciam uma relação, acertos esses que sucedem novamente, de modo sempre diferente, de cada vez que se soma uma nova relação.

Eu cá prefiro as pessoas fáceis. E descomplicadas. E preferia ser eu próprio mais simples (fácil já eu sou que chegue). Mas levamos com tanta história de amores difíceis que essa peçonha se nos enfia debaixo da pele e custa mais a remover do que uma tatuagem.

_________________
(¹) A pergunta sobre o sentido da Appassionata — e, já agora acrescento, de uma outra sonata, a nº 17, publicada precisamente sob o título A Tempestade — terá sido feita a Beethoven pelo biógrafo seu contemporâneo Anton Schindler, que a refere no livro Biographie von Ludwig van Beethoven (traduzido para inglês como Beethoven as I Knew Him mas sem tradução portuguesa, que eu saiba). Directamente da fonte, para quem lê alemão ou sabe usar uma ferramenta de tradução online: «Eines Tages, als ich dem Meister den tiesen Eindruck geschildert, den die Sonaten in D moll und F moll (Op. 31 und 57) in der Bersammlung bei C. Czerny hervorgebracht und er in guter Stimmung war, bat ich ihn, mir den Schlüssel zu diesen Sonaten zu geben. Er erwiderte: "Lesen Sie nur Shakespeare's Sturm."»

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Sexo Mais Seguro: O prazer está nas tuas mãos

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O Sexo mais Seguro é não só útil para prevenir várias doenças desagradáveis, mortais, limitantes ou incómodas, mas também para tornar o sexo uma experiência mais agradável e divertida.


O Sexo mais Seguro é mais uma atitude crítica acerca da nossa postura e comportamento do que um conjunto de práticas. Neste workshopseg iremos reflectir em grupo sobre o conceito de redução de risco, falar de algumas técnicas mais comuns, e desmontar alguns preconceitos a seu respeito. Teremos activamente em conta que há mais géneros do que homem e mulher, e que há várias definições, muito pessoais ou não, do que sexo é.


As discussões e reflexões em grupo permitirão a cada participante encontrar a solução mais adequada para si próprix.


Workshop para mulheres e trans* de todos os géneros. Preço: 2 euros.


Terça feira, 22 de Dezembro, às 19.00 na UMAR. Rua de S. Lázaro 111.1o, Lisboa


Contactos e informações: antidote@imensis.net e dijk@walla.com

domingo, 20 de dezembro de 2009

Até na FHM…

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Hoje, a FHM publicou uma espécie de reportagem que incluía uma espécie de entrevista a um de nós, o Daniel, que aqui escreve às sextas. «Espécie de entrevista» porque as perguntas, de teor supostamente cómico, foram inseridas pelo meio do que o Daniel disse ao jornalista.

Embora o conteúdo do que o Daniel disse não seja mau e não tenha sido utilizado demasiado fora do contexto, como infelizmente já aconteceu noutras ocasiões, é possível que o tom destas quatro páginas (e muito em especial das legendas das fotos) dê para alguns leitores uma má imagem do que é o poliamor. Começa logo no início:
«[…] se quisermos — e acho que todos os homens querem — deixamos de ter uma só namorada e passamos a ter duas, três, […]»
Por outro lado, já surgiram opiniões positivas. Por exemplo, o Alex acha que o artigo é «uma conversa parva de esplanada, já na terceira sangria… ou seja, fácil, divertida, sem rodeios… […] Nada de senhores sérios e estupidamente chatos a falar sobre algum assunto importante e que merece muito respeito. Fiquei satisfeito com o que li».

Aqui vai o artigo todo:

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Onde está a família?

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Esta semana muito se falou de família, pelo que achei por bem terminar da mesma forma.

É frequente ouvir as alminhas mais conservadoras afirmar que a família é a base da sociedade, de qualquer sociedade até. Que representa a unidade mínima, que é uma estrutura em miniatura que plasma depois a ideia de Estado, de Nação. Note-se que, aqui, esta família é uma família nuclear, heterossexual e reprodutiva.

Mas quais são as bases para tal afirmação? E o que dizer das sociedades baseadas em clãs? Porque, na verdade, o que é uma família grande senão um clã? E o que é um clã senão uma possibilidade de configuração cuja complexidade faz lembrar as descrições do ShortOkapi?

Portanto, as famílias complexas, quasi-constelações, são apenas uma expressão precisamente desta mentalidade de clã, destes grupos de pessoas que se juntam por bens e interesses comuns. Falar da família nuclear como base da sociedade é transformar uma unidade social relativamente simplista (a família nuclear) em algo muito mais complexo (base da sociedade), quando existem modelos que muito mais claramente se apontam a si mesmos como bem mais próximos, historicamente, daquilo que são as organizações políticas actuais.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

a sagrada família!

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na postagem de ontem, shortokapi abordou um conceito de família.

políticos, da direita à esquerda, falam da família.

analistas financeiros comentam as dificuldades das famílias.

padres evocam a sagrada família.

a "família" é considerada a base desta sociedade em que vivemos e pertencemos e cada um@ utiliza a família conforme lhe convém.

mas o que é, afinal, esta unidade "família" que tod@s usam conforme a sua necessidade momentânea?

tradicionalmente pensa-se na família nuclear como sendo um casal de pessoas de sexo oposto, com filh@s, que é rodeada pela família alargada - pais, mães, avós, tios, etc...



e é assim que o poder instituído quer que pensemos a família!

mas a nossa realidade é outra. muito mudou nas últimas décadas. divórcio, segundas, terceiras e quartas relações substituíram os "casamento para a vida". filh@s e mais filh@s.

mas a nossa realidade é também os relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, assim como a sua realidade parental.



hoje em dia falar-se de família tem um significado muito diferente daquele que nos querem impingir na sociedade hetero-mono-normativa!

quanto mais cedo se aceitar que as coisas mudaram, mais cedo poderemos focar no objectivo de uma família: criar felicidade para todas as pessoas envolvidas, sejam estas quais forem.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Uma família é uma família

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No divisão da casa que destinámos para ser escritório, uma de nós trabalha neste momento ao computador, um outro relaxa ao computador, os restantes conversam sobre não sei o quê, e eu blogo. Há bocado jantámos, três de nós. Os outros ainda não tinham chegado, jantaram uma hora depois. À hora de almoço, eu e outro estivemos a tratar de assuntos com bancos por causa de um crédito. Durante o dia, eu tratei de assuntos diversos, em casa, e os outros nos empregos deles.

Se não fosse o número de pessoas, o que poderia distinguir este relato de um dia normal de um casal? Se não fosse o facto de não haver aqui pais, mães e filhos, qual a diferença entre isto e a vida de uma família convencional? Quem detectaria, pela descrição, que isto só poderia ser uma família intencional?

Daqui a pouco a noite chega ao fim e vai cada um para o seu quarto. Ou talvez haja quartos com mais do que um. Conforme estivermos ou não para aí virados.

Seis semanas ainda é uma experiência muito curta, claro, mas estou mesmo em crer que isto é para durar.

Uma amiga nossa escreveu há pouco no Facebook: "eh pá, grande grande pinta, tiro-vos o chapéu, vocês são fonte de inspiração…" Sabe bem ouvir isto. Qual activismo em marchas e encontros! Se a minha família for realmente fonte de inspiração, que o seja, e para quanto mais gente melhor.

Obrigado à Kerista e aos restantes pioneiros por terem contribuído para espalhar o conceito de não-monogamia responsável.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O que fiz este fim-de-semana, parte 2

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A questão do safe sex em relações poly, tem barbas e pêra branca, e nem sempre é consensual, uma vez que há vários pontos que se tornam bastante emocionais. Por exemplo, nem toda a gente acha que uma relação seja definida pela existência de sexo entre os intervenientes,nem toda a gente converge na definição de sexo (penetração? orgasmo? beijo?) e nem toda a gente acha que deva haver regras ou hierarquização de parceiros (Ai, contigo eu faço fluid bonding, contigo faço safer sex, e contigo prefiro jogar Dragon Age no sofá).

Mas independentemente de sermos assim ou assado, do tipo de relação ou da nossa posição acerca da importância do sexo, é capaz de ser boa ideia reduzir riscos, independentemente do numero de parceiros sexuais. E quando se fala de risco, não falamos apenas do HIV, há uma serie de cenas chatinhas (fungos, tricomas..) desfigurantes (herpes) ou mesmo mortais (sífilis, hepatites...) que ninguém quer apanhar ou passar aos parceiros.

A ideia deste post não é explicar qual é a minha opinião acerca deste ou aquele método de redução de riscos, ou de como a faço, embora goste de dar workshops sobre o tema. Vou simplesmente dizer que antes de definir regras, uma boa ideia é discutir risco e comportamentos com parceiros. Dá direito a umas surpresas, algumas agradáveis, outras nem por isso. E a partir daí, construir acordos para redução de riscos. Uma coisa gira acerca de fazer isto é que leva indirectamente a uma conversa sobre sexo, com montanhas de informação útil a cair em cima da mesa.

Tenho o meu pequeno kit de safer sex comigo. Enfim, porque nunca se sabe, porque raramente levo alguém para casa nas situações em que realmente se espera que isso aconteça, acontece-me sempre quando estou menos à espera.

Na cidade em que vivo, é habitual uma pessoa ser revistada à entrada das discotecas. Nao é pessoal com formação especifica, são uns curiosos que desenrascam o papel de porteiros e que pedem consensualmente ás pessoas para abrirem as malas (e por acaso não têm poder para recusar entrada se alguém se recusar a ser revistado). Ou seja, quando este fim de semana a porteira do k17 encontrou o meu kit de safeR sex, ela conseguiu fazer daquilo uma experiência bastante embaraçosa:

- O que é isto?
- é o meu kit de safe sex
- O kit de que`??
- safer sex, sabes, para foder sem apanhar ou transmitir doenças..
- Tao grande (é uma bolsa de munições de metralhadora, comprada na feira da ladra, e pequena para o conteúdo).
- Ah, e isto aqui?
- lubrificante
- (corando) e achas que precisas deste lubrificante todo?
- (N.S./N.R. não sabe não responde)
- ah! e para que é que são as luvas?
- acabei de te explicar a parte da transmissão de doenças, acho que não queres que te mostre
- ok, olha, eu não te percebo, mas entra lá.

(isto com toda a gente que estava na bicha atrás de mim a ouvir e a rirem-se)

obrigada por lerem!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Religião

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Desde a segunda metade do séc. XIX que as pessoas se têm andado a tornar agnósticas no que toca à monogamia. [...] Se Deus está morto, então tudo é permitido; mas, se a monogamia morrer, o que iremos então fazer? - Adam Phillips


E que tal poliamor?

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Má reputação

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Na primeira marcha LGBT (para quem não saiba, Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero) em que participei (8ª Marcha do Orgulho LGBT — Lisboa 2007), em «representação» do Poly Portugal, confirmei o que já pensava há muito: aquela sigla é obscura para o leigo, pouco prática e acima de tudo limitativa. O T também inclui travestis e transexuais? Onde está o Q de Queer? E o I de Intersexo? A que letra pertencerá uma associação feminista (a UMAR faz parte da organização)? E finalmente — o que me interessava ainda mais —, em que letra se poderia encaixar o Poliamor? Vale a pena ver (por exemplo aqui) a cómica evolução das siglas que têm vindo a designar o conjunto das orientações sexuais e identidades de género.

Durante a marcha, pus-me a pensar quais eram os temas partilhados pelos colectivos e individuais que participam numa marcha «lgbt» e que acrónimo facilmente memorizável se poderia criar a partir desse conceito. Cheguei à conclusão de que as minorias envolvidas reclamam, todas elas, liberdade e diversidade sexual. (Poderia argumentar-se que as questões de género não são questões sexuais mas parece-me preciosismo a mais para a definição em causa.) E foi assim que cheguei a isto, que propus como nome para as marchas seguintes, mas que não pegou:

MALDISEX — Marcha para a liberdade e diversidade sexual

Continuo a achar que a aceitação da diversidade é uma das principais bandeiras que quero carregar. E, na sequência dos meus posts anteriores em defesa da diversidade («E é lá com eles…» + «Nós e laços»), aqui deixo uma canção do fabuloso cantautor francês dos anos 50/60 Georges Brassens, intitulada La mauvaise réputation («A má reputação»)



Tradução de parte da letra:

Lá na aldeia, não é para me gabar,
Mas tenho má reputação
Quer me mate a trabalhar quer fique quieto e calado
Passo por nem sei bem o quê
Mas não faço mal a ninguém
Só porque sigo o meu próprio caminho

Mas as pessoas de bem não gostam de quem
Siga um caminho diferente do delas
Não, as pessoas de bem não gostam de quem
Siga um caminho diferente do delas
Toda a gente diz mal de mim
Excepto os mudos, é claro

[…]

Não é preciso ser um Jeremias
Para adivinhar a sorte que me vai calhar
Se encontrarem uma corda que lhes agrade
Hão-de passar-ma pelo pescoço
Mas eu não faço mal a ninguém
Por seguir caminhos que não levam a Roma

[…]
Toda a gente virá ver o meu enforcamento
Excepto os cegos, está bem de ver

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O que fiz este fim-de-semana

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Em grande falta de imaginação...

Mas talvez possa ser interessante. Este fim-de-semana resolvi dar uma festa de inauguração do meu apartamento e convidei não só amigos próximos, mas também pessoas que têm tido um significado, nem sempre positivo, nas minhas constelações e telenovelas poly.

Tive a sensação de perdoar o meu próprio passado (nas coisas que não correram tão bem, ou decisões que foram tomadas das quais não me orgulho) de ter na minha sala a minha ex namorada, que também é a corrente namorada da minha outra ex namorada-que-não-posso-ver-nem-pintada-à-frente, com a sua nova namorada, com a qual me entendi muito bem, e provavelmente me vou entender um dia destes ainda melhor. Estava também uma ex-namorada da tal minha outra ex namorada-que-não-posso-ver-nem-pintada-à-frente, que também é namorada de um play buddy meu. Gostei também de ver o meu namorado em grande aconchego-sexy com várias das pessoas da festa, e a naturalidade como tudo aconteceu. Estavam também duas grandes amigas minhas, das quais uma é uma play buddy de longa data, e que proporcionaram uma grande alegria ao me convidarem para o seu casamento, e gostei de ver como conheceram pessoas novas na minha festa que vão sem dúvida acrescentar à sua to do list.

Sim, toda a gente que estava na festa, reparo agora, vive ou já viveu poly durante vários anos.

Acabei na minha cama sem histórias novas, mas com a sensação de que tenho bons amigos à minha volta e que as coisas por vezes correm mesmo bem, e não têm mesmo que correr de outra maneira.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Boyfriend(s)

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Especialmente para os mais novos de entre os leitores deste blog, aqui vai uma curta-metragem feita há dois anos pelo americano Robert Anthony Hubbell. A ideia é simples: Kelly, uma rapariga de 16 anos, namora com Will. Apercebe-se de que gosta muito de um amigo comum, Brian, e descobre o conceito de poliamor, que transmite a ambos. O namorado, confrontado com esta ideia nova, tem de chegar às suas próprias conclusões…

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Uma carga de trabalhos

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Ontem almocei com colegas de trabalho. Um grupo de gente bem-disposta, com muito sentido de humor (coisa que acho sempre uma rara bênção) e, julgava eu, de mente aberta. Vinham de uma conversa com outro colega, sobre homossexualidade(s). Os comentários foram curtos e não me chegaram para formar uma opinião, mas diria assim de repente que grassa por ali muita ignorância e falta de experiência. Percebi que estive em silêncio durante esses minutos, e que parte da minha cabeça estava ocupada a pensar quais seriam os comentários, se soubessem de metade da minha história de vida.
O único confronto do género que tive foi depois da minha entrevista no Rádio Clube, que o meu então chefe ouviu e imediatamente reconheceu a minha voz, que mesmo rouca é, pelos vistos, inconfundível. A conversa decorreu mais ou menos assim:
— Então como é que está a andar o projecto?
— Está a correr bem. Já fiz (blá blá blá…) e estava a pensar enviar (blá blá) até ao fim da semana, para depois (blá)..
— Muito bem… (pausa) Gostei muito de a ouvir ontem.
— De me ouvir? Como assim?
— Sim, na rádio.
(Dois milésimos de segundo para escolher entre “Vou negar tudo até à morte” ou “Vou pôr as tripas em cima da mesa, seja o que Deus quiser”. Mais um milésimo para me decidir pela segunda opção, lembrar-me que não acredito em Deus e que sou eu que vou ter de enfrentar todas as consequências, que podem ir da chacota ao assédio sexual ou ao despedimento. Meio milésimo para pensar “Que se lixe!”)
— Não foi ontem, foi na quarta.
E já estava. Não fui despedida. Quanto ao resto não garanto, mas o que ouvi depois disso foram apenas elogios e frases de admiração e incentivo. Não voltei a repetir a experiência, por falta de oportunidade ou pelo meu natural recato em ambientes de trabalho. Mas qualquer coisa me diz que nem sempre teria a mesma resposta.
Que o diga o actor Ernie Joseph, que interpreta Ben na série Family, sobre uma família poly, e que no início deste ano viu um belo contrato anulado, por participar em tão infame coisa. Parece que o desgraçado nem sequer é poliamoroso. É apenas um actor a interpretar um papel. No fim de contas, somos todos.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

gaj@s

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à semelhança de lisboa, em londres há uma reunião poly mensal... e esta semana a nossa amiga em londres foi pela primeira vez.

foi calorosamente recebida pelos cerca de vinte participantes e ficou sentada ao lado de um sujeito de cerca de trinta anos. avançava a conversa do grupo, assim avançava a mão e braço do tipo. murmurando ao ouvido da nossa amiga as coisas que ele lhe gostaria de fazer... até que lhe tentou dar um beijo muito molhado... na boca.

sendo ela muito "inglesa", aguentou-se um bocado à bronca, mostrando o seu "stiff upper lip", pensado que talvez este comportamento representasse uma enorme deficiência emocional do fulano... até que decidiu mandar o seu "stiff upper lip" às urtigas, levantou-se e foi-se sentar junto de outra pessoa, passando o resto do serão descansadinha da sua polyvida.

ele ainda tentou a mesma cena com outra, mas como também não correu bem, foi-se embora.

os encontros poly, sejam em londres, lisboa ou em oliveira do hospital não têm como objectivo engatar gaj@s..

muito menos dessa forma foleira a olho.

em lisboa temos um grupo poly aberto a tod@s... mas para quem quer conhecer gaj@s se calhar faz melhor ir ao erotikus à quarta ou sexta que se safa melhor.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Indirectas

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Hoje escrevi um email a meia dúzia de pessoas seleccionadas de entre os meus contactos profissionais. Aqui vai a transcrição, para todos os meus três leitores e meio aqui do blog:
Assunto: Sou de novo freelancer

Caros amigos,

É provável que já saibam que os meus sócios e eu decidimos de comum acordo encerrar a [minha empresa de produção de conteúdos e ideias, ou seja, de guiões e outros textos variados]. O fecho foi pacífico e continuamos a ter vontade de trabalhar em conjunto nos projectos que houver. Mas deixámos de ter essa obrigação. Serve assim este email para informar que sou de novo totalmente freelancer. E continuo com a mesma vontade de trabalhar que sempre tive, claro — neste momento, circunstancialmente, acompanhada de demasiada disponibilidade.

Alguns de vós talvez não tivessem este meu endereço de email pessoal. O email da [empresa] vai ficar inactivo muito em breve.

Espero que venhamos a contactar-nos em breve. Saudações cordiais,
[assinatura]
Foi a mensagem que já devia ter escrito há um mês mas que andava a adiar porque me custava. É-me difícil, de facto, dizer a um potencial empregador que tenho falta de trabalho, porque isso me coloca numa posição de desvantagem.

Por analogia, consigo de certa forma perceber que custe, a muita gente, dizer que sente falta de carinho, ou de atenção, ou mesmo de sexo. Mas parece-me que há na nossa sociedade uma clara sobreavaliação do mistério, do rodeio, das evasivas e manobras como formas de seduzir.

Queria só dizer aqui que a última vez que me lembro de ter manifestado falta de carinho, o resultado (indirecto, talvez, nunca se saberá) foi uma das quecas mais poderosas que já tive. Ou duas… que a que houve dois dias depois ainda poderia ser classificada de réplica por um sismologista competente.

Ah, e o carinho regressou. Antes, durante e depois.