sábado, 19 de fevereiro de 2011

Valentim a 3

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Pelo terceiro ano consecutivo, o meu Dia dos Namorados foi... diferente daquilo que é suposto ser "a norma". Sabem, aquela coisa romântica do casal, as flores, o jantar à luz das velas.
Bem... Houve flores. E houve jantar. E havia velas, sim.
Só não éramos simplesmente um casal.
Éramos três.

Foi, portanto, a três, o meu Dia dos Namorados. Três, a nossa pequena constelação familiar; três: eu, namoradx, e punalua. Três. Três que lanchámos juntos, apanhámos chuva juntos, jantámos juntos, dormimos juntos. E, pelo meio, sabem o que houve, para estes três? Risos, divertimento, felicidade. Conversas sobre amigos. Planos para o futuro. Umas quantas fotografias tiradas. Uma tarte de limão merengada absolutamente deliciosa, para mim. Waffles, para elxs.
E, por algum motivo estranho (quem me dera poder achar isso normal!), não houve nem um olhar suspeito na nossa direcção. A noite inteira. Enquanto ríamos, nos beijávamos e chamávamos nomes carinhosos uns aos outrxs. Ninguém nos seguiu com os olhos, ninguém agiu como se fossemos algo de estranho. E não éramos, de facto. Éramos apenas pessoas a celebrar o Dia dos Namorados.

Foi... quase perfeito, o meu Dia dos Namorados. E o que faltou à sua perfeição não esteve, em nada, relacionado com sermos 3 e não 2. Sermos 3 é, para nós, motivo de felicidade.

Sabem uma coisa? Não somos "a norma". Não pertencemos a ela. Pode ser que sejamos sempre vistos como diferentes, como "o outro" perigoso que deve ser temido. Pode ser que haja sempre discriminação à nossa volta. Ainda assim, não quero voltar ao Dia dos Namorados normal, mono-heterocêntrico. Gosto que sejamos 3. Gosto de partilhar este dia com o meu amor e o amor do meu amor. E o meu desejo é que venham a haver mais amores com quem o partilhar. Amores com quem possa estar assim, amores que achem que a norma é, afinal, isto. Um Dia dos Namorados a 3, 4, 5. Um Dia dos Namorados a quantos o coração quiser.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Lux Woman e Poliamor

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O grupo PolyPortugal de novo ao ataque na imprensa portuguesa!

Saiu na Lux Woman de Março de 2011 (hoje já nas bancas) um artigo sobre poliamor, onde falam novamente Inês Rôlo e Daniel Cardoso. Chama-se "Amor multiplicado", e pode ser lido a partir da página 138 da revista. Tem inclusivamente chamada de capa - Sou poliamorosa? Descubra já.

Assim que possível, iremos actualizar este post com mais informações. Mas se alguém já leu o artigo, pode dizer o que achou, e disseminar :)


Ondas na rede

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Tive ontem uma experiência interessante, daquelas que comprovam, agradavelmente, coisas que já sabemos mas que, na maior parte dos casos, ficam-se mais por um saber teórico do que por situações para as quais podemos apontar e dizer "Sim, aqui está o que vos tinha falado".
Note-se, por via de aparte, que eu sou daquelas pessoas que acha que uma determinada teoria ou visão sociológica só faz sentido se pudermos sair à rua e esbarrar com essa tal teoria em funcionamento. De certo modo, foi o que me aconteceu.

Estava eu muito bem no computador quando um amigo meu me disse que tinha encontrado um fórum com uma thread sobre poliamor; eu perguntei onde, e ele disse que tinha sido aqui. Ora, eu nem sequer sabia que este fórum existia, quanto mais!... De forma que, lá vou eu ler a conversa. Eis senão quando, logo muito ao princípio, me deparo com o terceiro post, contendo uma descrição que me encaixava que nem uma luva. Olhando para o nick da pessoa em questão, não faço ideia de quem pudesse ser, pelo que pergunto ao meu amigo se sabia quem era a pessoa. Ele tinha uma suspeita e - para encurtar a história - era efectivamente a pessoa que ele estava a pensar e com quem eu depois me pus à fala (como, de resto, se pode ver mais abaixo).

Ora, o que é que eu tenho a fazer ressaltar sobre esta questão? Em primeiro lugar, a tal questão da teoria que se verifica - aquela máxima, de uma certa ala feminista, que insiste em dizer que o pessoal é político está aqui manifesta. Eu vivo a minha vida - e esta pessoa, que nunca tinha lido nada escrito por mim, ou sobre mim, veio avançar um testemunho de como eu vivo, utilizando-o como argumento num debate sobre um tema que é necessariamente político, num sítio onde eu provavelmente nunca viria a falar dele (quanto mais não seja, porque não o conhecia). Aqui está o cerne da questão: cria-se sensibilização, espaço para a diferença, e promovem-se atitudes positivas perante outras formas de viver através desse simples acto de viver. Se esta não é uma convocatória geral, saliente e pertinente para uma vivência poliamorosa com o mínimo de ambiguidades e subterfúgios possível, então não sei o que poderá ser. É verdade que este acontecimento foi a uma escala microscópica, mas a dinâmica em qualquer outro contexto seria exactamente a mesma, e portanto o princípio mantém-se. Mais: aquele singular testemunho vem transformar um copy-paste da wikipédia numa experiência, com pessoas reais, com resultados positivos para acompanhar.

Além do mais, a conversa daquela thread é, no cômputo geral das coisas, relativamente positiva. Se é verdade que parece haver uma certa postura generalizada que impede o questionamento dos próprios limites pessoais - e, de certa forma, isso entristece-me de uma maneira que nada tem que ver com poliamor, mas sim com a falta de confiança que as pessoas têm em si mesmas, em serem capazes de se transformar, de se superar, como se fossem donas de uma qualquer verdade última, essencial sobre si mesmas e o que são ou não capazes de fazer, como se o que são ou não capazes de fazer não fosse uma coisa eminentemente contextual, mutável e sujeita a influências internas e externas - também é verdade que se reconhece a validade das experiências que são diferentes das normativas, que são diferentes daquelas que aqueles sujeitos online reclamam e advogam para si mesmxs.

Conforme a exposição e sensibilização para o poliamor for crescendo, vai ser cada vez mais difícil encontrar e acompanhar cada uma destas pequenas mini-discussões que se vão formando sobre o assunto. Vai ser cada vez mais difícil tomar o tempo para tentar influenciar a visão que outras pessoas têm sobre poliamor, ou sobre promiscuidade, ou sobre relações abertas, etc. E isso pode gerar alguma ansiedade para quem se dedica a isto, creio - a ideia de que um nosso "bebé" possa estar a escapar para além da nossa visão. Só que isto é, em última análise, uma coisa positiva. É através desta fuga discursiva que a pluralidade e o dinamismo se mantêm dentro e fora do mundo das ideias. Quem vive politicamente - e todos o fazemos, mesmo quando não nos apercebemos - vive numa teia de interpretações e leituras que não controla nem pode controlar. Aquilo que acontece a partir daí não é da nossa responsabilidade directa, mas ainda assim há a possibilidade/potencialidade de, como neste caso, portar a nossa marca, portar um pouco do que fizemos no mundo.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Dentro da onda do cinema poly

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Há uma série de recomendações que se podem fazer, de filmes que são, mais ou menos, poly-friendly. E a Joreth juntou-as e fez uma série de comentários a vários desses filmes. Como ainda está frio e vem aí o fim-de-semana, talvez valha a pena dar uma vista de olhos pela lista.

Digam-nos o que pensam dos que já viram!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O tiro no pé

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Sem grandes deambulações, porque esta é simples.

De tanto ler imensos posts e e-mails de gente poly a contar as suas histórias, há um padrão que parece repetir-se bastantes vezes:

  1. Alguém fica em estado de ansiedade porque a outra pessoa tem uma 3ª pessoa
  2. A razão para esse estado de ansiedade está ligada a querer preservar essa relação, ter medo de a perder
  3. A ansiedade provoca comportamentos (desde insegurança in extremis, a atitudes controladoras, etc.) que afastam a pessoa que se quer manter por perto
  4. Esses comportamentos geram o tal afastamento, que faz aumentar a ansiedade
  5. A relação deteriora-se ou mesmo desfaz-se, e as culpas vão para cima do mais recente elemento, ou do "poliamor", ou daquelas conversas do "eu afinal não sou assim"
De onde se conclui, com os devidos abusos de extrapolação, que os ciúmes e demais comportamentos obsessivos são contraproducentes, na medida em que tornam a situação numa self-fulfilling prophecy...

Ora, qual é a questão mais importante destas profecias auto-realizáveis? O ciúme? A insegurança? "A culpa é da mãe"? Nah, não convence.

A questão mais importante é a relação que a pessoa tem com... a verdade. O problema do sujeito ansioso é o olhar para os seus medos e ver no seu estatuto de medos uma marca de verdade. Este sujeito vê-se a si mesmo como estando acima e para além da situação, dotado de poderes quase divinatórios, que lhe permitem aceder a uma suposta interioridade psicológica das outras pessoas envolvidas, que lhe possibilita, mais facilmente, ler a verdade acerca das intenções, sentimentos e motivações dessas outras pessoas.

De forma que o primeiro passo para lidar com este tipo de situações, parece-me, não é ir buscar a secção inteira de auto-ajuda da biblioteca, mas encarar o papel que o próprio sujeito tem em produzir uma determinada verdade que, a partir daí, toma valor de episteme, e vai condicionar todas as subsequentes considerações sobre o assunto, ao delimitar e estruturar a própria compreensão do que acontece. Questionar a nossa própria possibilidade de falar "a Verdade" é algo que me parece fundamental. Aquilo que os livros de auto-ajuda fazem é, na maior parte dos casos, o oposto. Insistem no sujeito que produz uma Verdade maior, mas limitam-se a trocar uma mensagem por outra, tentando obter o efeito inverso ao actual. Que é, no fim de contas, o mesmo que tapar o sol com a peneira, tratar os sintomas sem curar a doença, etc etc etc...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Pelo direito a crescer sem «bulência»

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Na semana passada, voltou a falar-se de um tema que recorrentemente tem feito notícia: a violência escolar, ou bullying, como quase sempre é denominada na imprensa portuguesa, que não tem a flexibilidade linguística dos franceses e nao é capaz de inventar uma palavra nova quando faz falta.

A «bulência», chamemos-lhe assim, foi tema do Projecto de Lei 495/XI, que acabou por ser rejeitado em plenário no passado dia 21 de Janeiro. Não cheguei a ler o projecto de lei mas ficou-me na memória a frase de bullying parlamentar que o deputado Sérgio Sousa Pinto proferiu a esse respeito: «faz tanta falta às escolas e ao ordenamento jurídico como uma gaita num funeral» (não estou a inventar: vídeo aqui).