Ontem almocei com colegas de trabalho. Um grupo de gente bem-disposta, com muito sentido de humor (coisa que acho sempre uma rara bênção) e, julgava eu, de mente aberta. Vinham de uma conversa com outro colega, sobre homossexualidade(s). Os comentários foram curtos e não me chegaram para formar uma opinião, mas diria assim de repente que grassa por ali muita ignorância e falta de experiência. Percebi que estive em silêncio durante esses minutos, e que parte da minha cabeça estava ocupada a pensar quais seriam os comentários, se soubessem de metade da minha história de vida.
O único confronto do género que tive foi depois da minha entrevista no Rádio Clube, que o meu então chefe ouviu e imediatamente reconheceu a minha voz, que mesmo rouca é, pelos vistos, inconfundível. A conversa decorreu mais ou menos assim:
— Então como é que está a andar o projecto?
— Está a correr bem. Já fiz (blá blá blá…) e estava a pensar enviar (blá blá) até ao fim da semana, para depois (blá)..
— Muito bem… (pausa) Gostei muito de a ouvir ontem.
— De me ouvir? Como assim?
— Sim, na rádio.
(Dois milésimos de segundo para escolher entre “Vou negar tudo até à morte” ou “Vou pôr as tripas em cima da mesa, seja o que Deus quiser”. Mais um milésimo para me decidir pela segunda opção, lembrar-me que não acredito em Deus e que sou eu que vou ter de enfrentar todas as consequências, que podem ir da chacota ao assédio sexual ou ao despedimento. Meio milésimo para pensar “Que se lixe!”)
— Não foi ontem, foi na quarta.
E já estava. Não fui despedida. Quanto ao resto não garanto, mas o que ouvi depois disso foram apenas elogios e frases de admiração e incentivo. Não voltei a repetir a experiência, por falta de oportunidade ou pelo meu natural recato em ambientes de trabalho. Mas qualquer coisa me diz que nem sempre teria a mesma resposta.
Que o diga o actor Ernie Joseph, que interpreta Ben na série Family, sobre uma família poly, e que no início deste ano viu um belo contrato anulado, por participar em tão infame coisa. Parece que o desgraçado nem sequer é poliamoroso. É apenas um actor a interpretar um papel. No fim de contas, somos todos.
— Então como é que está a andar o projecto?
— Está a correr bem. Já fiz (blá blá blá…) e estava a pensar enviar (blá blá) até ao fim da semana, para depois (blá)..
— Muito bem… (pausa) Gostei muito de a ouvir ontem.
— De me ouvir? Como assim?
— Sim, na rádio.
(Dois milésimos de segundo para escolher entre “Vou negar tudo até à morte” ou “Vou pôr as tripas em cima da mesa, seja o que Deus quiser”. Mais um milésimo para me decidir pela segunda opção, lembrar-me que não acredito em Deus e que sou eu que vou ter de enfrentar todas as consequências, que podem ir da chacota ao assédio sexual ou ao despedimento. Meio milésimo para pensar “Que se lixe!”)
— Não foi ontem, foi na quarta.
E já estava. Não fui despedida. Quanto ao resto não garanto, mas o que ouvi depois disso foram apenas elogios e frases de admiração e incentivo. Não voltei a repetir a experiência, por falta de oportunidade ou pelo meu natural recato em ambientes de trabalho. Mas qualquer coisa me diz que nem sempre teria a mesma resposta.
Que o diga o actor Ernie Joseph, que interpreta Ben na série Family, sobre uma família poly, e que no início deste ano viu um belo contrato anulado, por participar em tão infame coisa. Parece que o desgraçado nem sequer é poliamoroso. É apenas um actor a interpretar um papel. No fim de contas, somos todos.
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