sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Balanças

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Tomar decisões é uma daquelas coisas complicadas que todos nós fazemos, todos os dias. Nem sempre pensamos muito, ou muito profundamente, nas que tomamos. Desde que dou aulas de Ética, apercebi-me ainda mais da quantidade industrial de formulações diferentes que tantas outras pessoas já inventaram para tentar resolver essa árdua tarefa de tomar decisões. O que me leva a concluir que, fundamentalmente, ninguém se decide no que toca a tomar decisões. =)

Causas e efeitos, princípios ou consequências, Bem e Mal - e tudo entre estas coisas. O problema é que, como somos constantemente relembrados, parece que só a racionalidade pura e mais abstracta conta para a tomada de decisões. O que, convenhamos, dificulta um bocado a árdua tarefa - ou não! - de tomar decisões com base em sentimentos e emoções. Não basta ir cuscar "O Erro de Descartes" para chegar lá, convenhamos.

Tomar a decisão de iniciar uma nova relação, ou de propor semelhante coisa, requer muito pensamento. Requer uma longa olhadela para a agenda (gasp!), para a(s) relação(ões) pré-existentes, para aquilo que sentimos... Requer coragem, também, para pedirmos a outra pessoa que se coloque no meio de uma situação que é, ainda e infelizmente, estranha ou sui generis. E mesmo para quem conhece, de fora, o poliamor, pode ser complexo dar também esse passo.

Para quem, seja de fora ou de dentro, se preocupa com todas as questões envolvidas - ou com tantas quantas consegue - arrisca-se a bater com a cabeça na parede com a complexidade envolvida. Com todos os sentimentos, com todas as possibilidades más, com todas as fragilidades. Isso às vezes faz com que seja difícil manter os olhos no alvo. E o alvo é sermos felizes, e termos relações felizes (com outr@s e connosco).

Manter os olhos no alvo requer também esquecermo-nos, durante momentos, do que pode correr mal e olhar para a potencialidade que as situações têm de correr bem. De podermos retirar delas algo de bom, uma aprendizagem, um sorriso, um novo amor. E quem não está directamente envolvido nas tomadas de decisão precisa também de ter a coragem de ousar abrir-se à novidade, à diferença; criar o espaço para que nasça ali alguma outra coisa.

Por isso é que falar de constelações familiares no poliamor faz tanto sentido. Mesmo naqueles casos em que nem toda a gente se relaciona com toda a gente - como os clássicos triângulos ou tríades - há, ainda assim, um envolvimento necessário de todas as pessoas. Todas se afectam mutuamente, para bem e para mal. Seja a nova pessoa que não quer perturbar as relações existentes de forma excessiva, ou as pessoas pré-existentes que também não queiram impedir que a nova relação floresça - isto para pegar nos bons exemplos.

E mesmo que isto pareça que se está a fazer malabarismos com balanças, a verdade é que também se cresce e se aprende muito. E, com empenho e um bocadinho de sorte, também se ama e se é amado. Muito mesmo. No meio de uma família-constelação.

2 comentários:

Lara Poly disse...

Estou contigo!
É preciso coragem, abertura, flexibilidade, mas acima de tudo é preciso uma grande vontade de ser feliz. E de fazer os outros felizes.
Boa sorte para a tua constelação! Fico aqui a fazer figas...

Daniel Cardoso disse...

Obrigado e, como já sabes, desejo exactamente o mesmo para a tua! :)