quarta-feira, 30 de setembro de 2009
dois maridos!... outra vez?
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há uns dias, sentado no sofá, descansadinho da vida, alegremente zapando pelos vários canais de tv (a maioria sem grande interesse, diga-se de passagem), parei num episódio da série ally mcbeal...
já vi, aos bocados, admito, alguns outros episódios de diferentes temporadas e concluo que o tema central é a procura (desesperada, na maioria dos casos) de amor à "antiga"... um homem e uma mulher com um objectivo ideal: o casamento.
mas este episódio em que parei com mais interesse e atenção abordava o casamento, sim, mas de uma mulher e dois homens. o escritório de advogados da ally foi contratado para defender a dita mulher contra a acusação de bigamia.
para ela, assim como para os seus dois maridos, não havia crime algum... estavam tod@s de acordo com a situação e amavam-se de coração. o primeiro era o namorado de infância, de quem ela não se imaginava alguma vez separada e o segundo, um colega de profissão, com quem partilhava um outro lado dela, mais ligado à sua vida como médica.
resumida, a situação era perfeita para @s três.
a linha da defesa foi qualquer coisa parecida com esta e a conclusão do julgamento foi de uma leve pena suspensa para a "infractora"...
como é habitual nesta série, um dos advogados encanta-se por alguém e neste episódio calhou ao bom do john apaixonar-se, naturalmente, pela cliente bígama. esta, depois dele lhe confessar os seus sentimentos, imediatamente se dispõe a abrir espaço no seu coração para mais um!
delicadamente, mas sem a julgar, john declina tal oferta... embora a sua face deixasse transparecer mágoa por não sentir capacidade de aceitar esta outra forma de amar.
provavelmente este caso teria outras consequências, em que no mínimo seria exigido um divórcio.
mas pouco importa.
aqui está em causa a liberdade de amar, assim como a liberdade de escolha para cada pessoa o fazer à sua maneira.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
E é lá com eles…
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Em tempos, a minha amiga Maria João Cruz e eu resolvemos usar as nossas competências de escrita num projecto que nos poderia fazer ganhar bastante dinheiro: letras para música pimba. Decidimos assinar Lena & Macário (seríamos, assim, os Lennon / McCartney do mundo pimba tuga) e começámos a escrever para esse universo.
Rapidamente verificámos que o pimba não é para todos, e para escrevermos pérolas de javardice sobre gajas boas intercaladas com romance xaroposo ainda precisávamos de comer muita papa de milho com Bisolvon.
Na sequência deste projecto surgiu-me, entre outras coisas, o seguinte, que acabou por ser uma espécie de hino em defesa da liberdade e diversidade sexual e emocional, e que deixo aqui para a posteridade electrónica:
Rapidamente verificámos que o pimba não é para todos, e para escrevermos pérolas de javardice sobre gajas boas intercaladas com romance xaroposo ainda precisávamos de comer muita papa de milho com Bisolvon.
Na sequência deste projecto surgiu-me, entre outras coisas, o seguinte, que acabou por ser uma espécie de hino em defesa da liberdade e diversidade sexual e emocional, e que deixo aqui para a posteridade electrónica:
ANTES QUE ACABE
(É LÁ COM ELES)
Já conheci quem gostasse de quem gosta | que não gostem muito delas. | Já conheci quem se sentisse disposta | a três paixões paralelas.
Ele há de tudo | e muito mais: | histórias de amor, não há duas mesmo iguais.
E, vai-se a ver, é de noite que há de tudo. | Chego ao balcão, ponho-me à escuta. | Entra cerveja, sai desabafo. | Do macho-puta | à fêmea Safo, | é de noite que eu os ouço, | porque é de noite que se vê o fundo ao poço.
E está na hora de falar do Serafim – | o que é amante da mulher do Zé Cerqueira –, | que, em noite de bebedeira, | soltou-se e disse-me assim:
Eu quero viver a vida com uma mosquinha morta | que não me coloque entraves a casar atrás da porta.
E é lá com ele, | ele é que sabe. | O amor, é bom que comece antes que acabe.
E, já agora, vou falar também da Alice – | a minha amiga que vivia com a Joana –, | que, em noite de carraspana, | se abriu comigo e me disse:
O que eu quero é conhecer um ilustre desconhecido | que faça de mim um homem e queira ser meu marido.
E é lá com ela, | ela é que sabe. | O amor, é bom que comece antes que acabe.
E, sem demora, vou falar do Evaristo – | o meio-irmão da meia-irmã da Catarina –, | que, uma noite de cardina, | abriu a guelra e vai disto:
Eu quero ser um casal e viver uma vida a dois, | nos bons e nos maus momentos, sozinho com os meus botões.
E é lá com ele, | ele é que sabe. | O amor, é bom que comece antes que acabe.
Vamos embora, que eu quero é falar da São – | a namorada temporária do Pitosga –, | que, em noite de grande tosga, | vomitou a confissão:
Eu quero ser solitária e passar a vida em festas; | afagar-me a noite inteira e depois dormir a sesta.
E é lá com ela, | ela é que sabe. | O amor, é bom que comece antes que acabe.
Julgo que agora vou falar do Zé Gaspar – | a maior esponja que eu conheço assim de perto –, | que, em noite de bar aberto, | conseguiu filosofar:
Eu quero ter quem me aqueça como um cobertor de lã, | e já estou a ficar maluco por uma linda astracã.
E é lá com ele, | ele é que sabe. | O amor, é bom que comece antes que acabe.
E vai-se a ver, é de noite que eu os ouço, | porque é de noite que se vê o fundo ao poço.
E o Serafim? | É lá com ele. | E então a Alice? | É lá com ela. | E o Zé Gaspar? | É lá com ele, | ele lá sabe. | O amor, é bom que comece antes que acabe. | O amor, é bom que comece antes que acabe. |
O amor, é bom que comece antes que acabe.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Mostra e Conta II: Monogamia x Poliamor, 0-0
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Continuando o "mostra e conta", vamos pegar na pergunta "o que achas da Monogamia?" Vou pegar apenas num aspecto particular e não elaborar longamente sobre o pano para mangas, colarinhos e tendas multifamiliares que isto pode dar.
A primeira coisa que me veio à cabeça ao desenterrar alguns textos que li ou mesmo que escrevi (mea culpa, sim, minha grande culpa) sobre o assunto, é que muitas vezes são textos duma injustiça, ingenuidade e falta de rigor incríveis, pois comparam muitas vezes, digamos assim, os falhanços práticos da monogamia, ou aquilo que muita gente chama de monogamia e não é, com uma versão idealizada e infalível do poliamor, ou, por outras palavras, o que o poliamor ideal e teoricamente deveria ser.
Por outras palavras, é como se eu comparasse a História do Cristianismo com as suas Cruzadas, os massacres, a Inquisição, o colaboracionismo, com a definição e objectivos do Budismo (e varresse para debaixo do tapete as guerras em nome do Budismo, e igualmente as definições e objectivos do Cristianismo ocidental). (...)
Para mim a monogamia é apenas mais uma solução possível (…) que funciona para muita gente (falo de monogamia ppd e não de monogamia com traição e, digo sem ironia, mesmo esta funciona, curiosamente, para muita gente). Acho que podia funcionar para mim, mas sou mais feliz e ocupada vivendo poly. Na verdade é possível também viver em monogamia e em poliamor (deixo esta frase como trabalho de casa). Eu defendo, pessoalmente e como activista, o reconhecimento de que há mais formas de amar do que a "oficial", e que o poliamor, na sua variedade, merece respeito e é legitimo, mas que talvez não funcione para toda a gente, e não, não quero acabar com a monogamia. O que eu combato é a Monogamia como único modelo, a monogamia "de Estado", ou a monogamia como o único modelo que merece respeito.
Uma palavra acerca do casamento, uniões de facto e monogamia de Estado... não é justo que numa sociedade que se diz baseada no indivíduo livre (...), dois indivíduos casados tenham mais privilégios do que os não casados. Refiro-me ao poder testamentário e ao poder de procuração (...). Entendo que isso deveria ser regulado por cada indivíduo por si só e não pelo Estado e suas leis. Não percebo sequer qual a lógica de ser, digamos assim, o meu cônjuge-parceiro-amor a tomar uma série de decisões quando eu não as posso tomar. Consigo pensar numa série de pessoas sensatas que eu preferia pôr a tomar esse tipo de decisões (o desligar da máquina, (...) a amputação da perna, (...), etc.) que não são minhas relações e sem que isso queira dizer que gosto menos das minhas relações. (…) na verdade acho o casamento injusto contra não só todos os que vivem outros tipos de relações para além do par paradigmático, mas todos os celibatários, voluntários ou não. Na verdade, a única coisa justa a fazer seria a abolição do casamento civil.
A primeira coisa que me veio à cabeça ao desenterrar alguns textos que li ou mesmo que escrevi (mea culpa, sim, minha grande culpa) sobre o assunto, é que muitas vezes são textos duma injustiça, ingenuidade e falta de rigor incríveis, pois comparam muitas vezes, digamos assim, os falhanços práticos da monogamia, ou aquilo que muita gente chama de monogamia e não é, com uma versão idealizada e infalível do poliamor, ou, por outras palavras, o que o poliamor ideal e teoricamente deveria ser.
Por outras palavras, é como se eu comparasse a História do Cristianismo com as suas Cruzadas, os massacres, a Inquisição, o colaboracionismo, com a definição e objectivos do Budismo (e varresse para debaixo do tapete as guerras em nome do Budismo, e igualmente as definições e objectivos do Cristianismo ocidental). (...)
Para mim a monogamia é apenas mais uma solução possível (…) que funciona para muita gente (falo de monogamia ppd e não de monogamia com traição e, digo sem ironia, mesmo esta funciona, curiosamente, para muita gente). Acho que podia funcionar para mim, mas sou mais feliz e ocupada vivendo poly. Na verdade é possível também viver em monogamia e em poliamor (deixo esta frase como trabalho de casa). Eu defendo, pessoalmente e como activista, o reconhecimento de que há mais formas de amar do que a "oficial", e que o poliamor, na sua variedade, merece respeito e é legitimo, mas que talvez não funcione para toda a gente, e não, não quero acabar com a monogamia. O que eu combato é a Monogamia como único modelo, a monogamia "de Estado", ou a monogamia como o único modelo que merece respeito.
Uma palavra acerca do casamento, uniões de facto e monogamia de Estado... não é justo que numa sociedade que se diz baseada no indivíduo livre (...), dois indivíduos casados tenham mais privilégios do que os não casados. Refiro-me ao poder testamentário e ao poder de procuração (...). Entendo que isso deveria ser regulado por cada indivíduo por si só e não pelo Estado e suas leis. Não percebo sequer qual a lógica de ser, digamos assim, o meu cônjuge-parceiro-amor a tomar uma série de decisões quando eu não as posso tomar. Consigo pensar numa série de pessoas sensatas que eu preferia pôr a tomar esse tipo de decisões (o desligar da máquina, (...) a amputação da perna, (...), etc.) que não são minhas relações e sem que isso queira dizer que gosto menos das minhas relações. (…) na verdade acho o casamento injusto contra não só todos os que vivem outros tipos de relações para além do par paradigmático, mas todos os celibatários, voluntários ou não. Na verdade, a única coisa justa a fazer seria a abolição do casamento civil.
(Texto longo e completo aqui)
domingo, 27 de setembro de 2009
Fiéis, nós?
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Na semana passada, o Jornal i publicou a vigésima de uma série de 50 revistas sobre Portugal e os portugueses (as revistas levam o título genérico "nós"). O tema de Sábado, dia 19, era a fidelidade.
De entre diversos artigos sobre os vários tipos de fidelidade (ao clube de futebol, ao barbeiro, etc.), interessam-nos os que falam sobre a fidelidade ao(s) parceiro(s). Mais concretamente, um ensaio de Mónica Marques, "O Pecado Mora ao Lado", que refere concretamente o poliamor como uma possível solução para uma aparente grande confusão.
Aqui ficam também uma crónica de Miguel Esteves Cardoso, "Fiéis como cães, talvez", e ainda uma lista de animais supostamente monogâmicos, "No reino da monogamia", acerca da qual estes senhores muito teriam a dizer...
De entre diversos artigos sobre os vários tipos de fidelidade (ao clube de futebol, ao barbeiro, etc.), interessam-nos os que falam sobre a fidelidade ao(s) parceiro(s). Mais concretamente, um ensaio de Mónica Marques, "O Pecado Mora ao Lado", que refere concretamente o poliamor como uma possível solução para uma aparente grande confusão.
Aqui ficam também uma crónica de Miguel Esteves Cardoso, "Fiéis como cães, talvez", e ainda uma lista de animais supostamente monogâmicos, "No reino da monogamia", acerca da qual estes senhores muito teriam a dizer...
sábado, 26 de setembro de 2009
Procura-se bloggers para relações sérias
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Tenho três meses, sou um blog descontraído e open minded, gosto de me divertir mas também de conversas sérias e estou aberto a novas experiências. Tenho muito para dar mas também quero receber.
Aceita-se propostas de bloggers com ou sem experiência poliamorosa.
Aos Sábados este espaço está aberto a contribuições não só dos nossos convidados mas também de quem quiser escrever.
Envie o seu texto (entre 50 e 500 palavras) sobre poliamor para polyportugal@gmail.com.
Aceita-se propostas de bloggers com ou sem experiência poliamorosa.
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Da dificuldade do mono-amor
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Obviamente, escolher a monogamia não é o mesmo que escolher não desejar mais ninguém para além d@ parceir@ [...]. Se não tivéssemos as nossas próprias regras, como poderíamos saber se estamos a ser infiéis? Para amar os nossos parceiros, temos que ser viciados em regras. - Adam Phillips, 1996
Mas não será, na verdade, que Adam Phillips se enganou? Não temos que ser viciados em regras para amar @s noss@s parceir@s. Apenas para amar "a nossa própria ideia de monogamia". Porque, efectivamente, "as regras são formas de imaginarmos o que fazer" - e sem elas, corremos o risco de ter que usar a imaginação...!
E se amamos, acima de todas as coisas, a nossa ideia de monogamia, que espaço sobra para @ parceir@? Se sobra algum, estaremos então já, por definição, a não ser mono-amorosos.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Diário de Maria
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Esta semana andei a vasculhar no meu arquivo de notícias sobre poliamor. E cheguei à conclusão de que, de todos os artigos que já se publicaram, se tivesse que eleger o mais imparcial, objectivo e esclarecedor, teria que optar pela revista Maria. Mónica Nascimento, responsável por este artigo, terá sido talvez a jornalista que menos trabalho deu para acompanhar e esclarecer.
De muitos outros não se pode dizer o mesmo. Depois de horas de entrevistas, envios de documentação, dúzias de e-mails para trás e para a frente, os artigos saem com incorrecções grosseiras e linguagem mononormativa, insistindo que o poliamor está centrado na figura do casal (hetero, por supuesto). Ou com pérolas como "poliamor é uma relação entre três ou quatro pessoas que vivem juntas". É o que dá ir perguntar coisas aos psicólogos em vez de as perguntar a quem as vive há anos e está à distância de um click.
Bem sei que as pessoas não são perfeitas e todos estamos condicionados pela própria experiência. Mas sempre me habituei a pensar em psicólogos e jornalistas como pessoas que se desviam do seu caminho para, pelo menos em relação ao seu trabalho, serem imparciais e abertas a novas ideias.
Mas o que constato é que tentar explicar a um jornalista o que é o poliamor é o mesmo que dizer à minha mãe (ou sogra) "Quando o Jorge estava a estender a roupa...", e elas a replicarem "Ai tu estendes a roupa cá dentro?". Ou seja, eu a dizer uma coisa e a outra pessoa a ignorá-la e a encaixá-la imediatamente na sua realidade.
Diz-se a um jornalista "é tudo às claras, todos sabem de todos e estão confortáveis com isso", e eles vá de meter fotos com amantes debaixo da cama. Diz-se "é transversal a todas as orientações sexuais, não há geometrias fixas e as relações são igualitárias". E eles vá de embarcar na imagética típica de um homem com o seu harém.
Justiça seja feita à Máxima e à já referida Maria, que puseram nos seus artigos fotos de uma mulher com dois homens (as malucas!!). Mas um de cada lado e sem se tocarem... Que isto do poliamor, será rebaldaria, mas não há cá porcarias!
a a a
Bem sei que as pessoas não são perfeitas e todos estamos condicionados pela própria experiência. Mas sempre me habituei a pensar em psicólogos e jornalistas como pessoas que se desviam do seu caminho para, pelo menos em relação ao seu trabalho, serem imparciais e abertas a novas ideias.
Mas o que constato é que tentar explicar a um jornalista o que é o poliamor é o mesmo que dizer à minha mãe (ou sogra) "Quando o Jorge estava a estender a roupa...", e elas a replicarem "Ai tu estendes a roupa cá dentro?". Ou seja, eu a dizer uma coisa e a outra pessoa a ignorá-la e a encaixá-la imediatamente na sua realidade.
Diz-se a um jornalista "é tudo às claras, todos sabem de todos e estão confortáveis com isso", e eles vá de meter fotos com amantes debaixo da cama. Diz-se "é transversal a todas as orientações sexuais, não há geometrias fixas e as relações são igualitárias". E eles vá de embarcar na imagética típica de um homem com o seu harém.
Justiça seja feita à Máxima e à já referida Maria, que puseram nos seus artigos fotos de uma mulher com dois homens (as malucas!!). Mas um de cada lado e sem se tocarem... Que isto do poliamor, será rebaldaria, mas não há cá porcarias!
a a a
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
e ainda por cima no meu bmw!
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"então não é que o estafermo me anda a comer a vizinha?! ela vai com ele para o estacionamento na baixa e é mesmo ali no carro que aquela puta lhe faz o servicinho… ah! e o carro ainda por cima até está em meu nome… é um bmw, sabe?"
foi assim que fui abordado, há uns dias, por uma conhecida minha. a rapariga fumegava, danada com raiva do marido de há mais de trinta anos.
e continuou… "a puta é nossa vizinha no prédio, sabe? eu até já falei com o marido dela! disse-lhe que procurasse saber o que anda a fazer a mulher, mas parece que ele está a leste do paraíso e não vê nada. são uns tansos, estes homens! as mulheres põem-lhes os cornos e eles até acham que são umas santas! só me apetece dar-lhe uma sova, cabra manhosa!"
mal a conheço, mas tentei acalmá-la… perguntei-lhe se amava o marido… "aquele estúpido?! não, queria era vê-lo a milhas, mas o gajo não sai! bem em verdade não sei, são muitos anos.. se calhar até amo… estou confusa!"
aproveitando a confusão, disse-lhe que provavelmente eu não seria a pessoa mais apropriada a quem pedir conselhos nesta matéria. "mas porquê?" ripostou ela. "você parece uma pessoa sensata e de certeza que era incapaz de fazer algo deste género!"
ri-me e respondi-lhe que agora não seria capaz… bem pelo menos a parte da traição, o resto no carro, bem, ai já seria rapaz para… e tal…
ficou perplexa.
aproveitei e sugeri-lhe uma solução.
em vez de dar cabo de dois lares, porque não juntá-los num só e experimentar qualquer coisa de diferente. afinal ela até se dá bem com o marido da outra e está provado que a outra se dá bem com o marido dela…
nesse momento lembrou-se que ainda tinha muito para fazer e despediu-se de mim à pressa… nem olhou para trás!
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Dez mil horas de poliamor
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Uma teoria que tem vindo a ser recuperada e reformulada há quarenta anos diz que a chave do sucesso de qualquer pessoa em qualquer campo é, principalmente, uma questão de praticar uma determinada tarefa durante cerca de 10 mil horas. ¹
A ser verdade, deverão ser necessárias 10 mil horas de relações amorosas para uma pessoa se tornar especialista no assunto. E 10 mil horas de sexo para ser «bom na cama». E outras 10 mil de poliamor para se perceber realmente como isto funciona. Ai, e agora?
Contas feitas, a três horas de prática por dia, são quase dez anos de «exercício» necessário para cada tarefa.
No caso do sexo, aliás, é melhor contar com uma média mais realista. Nos Estudos de Kinsey, afirma-se que a média de actividades sexuais anda em torno das3,3 por semana (de 1,0 a 6,5 em 3/4 dos casos). Desta, apenas um terço corresponderá a sexo com outra(s) pessoa(s). Mesmo admitindo que a duração de cada actividade sexual é, em média, de uma hora (o que é, infelizmente, uma enorme sobrestimação), isso implica 174 anos de prática para se chegar ao nível de perito!
Com que idade é que somos bons poliamantes então, caraças?!
Solução: começar mais cedo em tudo, fazer muito mais sexo e durante muito mais tempo (por favor, é bom para todos!) e, mesmo assim, não esperar que o nirvana poliamoroso chegue antes dos 30.
Mas aqui fica a tentativa de fechar com uma nota positiva: Malcolm Gladwell, no seu livro mais recente (que eu não li), acrescenta à teoria das 10 mil horas que a família, a cultura e os amigos têm todos um papel primordial no sucesso de um outlier (conceito pescado da estatística para designar uma pessoa que se destaca por qualquer razão).
De acordo com a teoria de Gladwell, poderá talvez depreender-se que um poly de sucesso só o é graças aos que o rodeiam. E rodeado, sem medos, de mais pessoas que o amam do que um monogâmico, estará assim mais inclinado para o caminho do «sucesso». Um poly terá por isso mais probabilidades de ser um bom poly do que um mono de ser um bom mono. Um poly pode lá chegar, um mono- (ó) pode bem tornar-se um mono (ô)… ²
_________________
(¹) Não li a teoria original das 10 mil horas. Cheguei aí por via do editorial ("Dear Betty, about your e-mail") do último número da revista Creative Screenwriting, que tinha a seguinte passagem: «The day before he passed away Aug. 4, the great screenwriting teacher and mentor Blake Snyder wrote a blog titled "10,000 Hours".» Foi pouco menos do que o suficiente para me suscitar a curiosidade. Andei a navegar pela Web e descobri que o inspirador e malogrado Snyder (de quem assisti a uma conferência em Los Angeles, li o primeiro livro, Save the Cat!, e fiquei a saber que morreu recentemente com uma embolia pulmonar) cita o último livro de Malcolm Gladwell(Outliers : Os melhores , os mais inteligentes, os mais bem sucedidos), que dedica um capítulo inteiro ("The 10,000-Hour Rule") a uma ideia que foi buscar ao interessantíssimo livro de Daniel Levitin Uma paixão humana : O seu cérebro e a música (cuja edição original ando a ler há muito tempo), o qual, por sua vez, reporta esta teoria a K. Anders Ericsson, referindo o livro Toward a General Theory of Expertise, que, por sua vez e aparentemente para terminar, fala de uma teoria de três a 30 mil horas exposta no capítulo "The mind’s eye in chess", dos influentíssimos Bill Chase e Herb Simon, na publicação Visual Information Processing, que são as actas do 8th Symposium on Cognition, Carnegie-Mellon University, de 1972. O mundo é pequeno, e revisitável. E, se se seguir as supostas fontes, a verdade é que a «teoria» das 10 mil horas parece não ter fundamento nenhum. Uff…
(²) mono: mercadoria que não tem venda ou que ninguém procura.
A ser verdade, deverão ser necessárias 10 mil horas de relações amorosas para uma pessoa se tornar especialista no assunto. E 10 mil horas de sexo para ser «bom na cama». E outras 10 mil de poliamor para se perceber realmente como isto funciona. Ai, e agora?
Contas feitas, a três horas de prática por dia, são quase dez anos de «exercício» necessário para cada tarefa.
No caso do sexo, aliás, é melhor contar com uma média mais realista. Nos Estudos de Kinsey, afirma-se que a média de actividades sexuais anda em torno das
Com que idade é que somos bons poliamantes então, caraças?!
Solução: começar mais cedo em tudo, fazer muito mais sexo e durante muito mais tempo (por favor, é bom para todos!) e, mesmo assim, não esperar que o nirvana poliamoroso chegue antes dos 30.
Mas aqui fica a tentativa de fechar com uma nota positiva: Malcolm Gladwell, no seu livro mais recente (que eu não li), acrescenta à teoria das 10 mil horas que a família, a cultura e os amigos têm todos um papel primordial no sucesso de um outlier (conceito pescado da estatística para designar uma pessoa que se destaca por qualquer razão).
De acordo com a teoria de Gladwell, poderá talvez depreender-se que um poly de sucesso só o é graças aos que o rodeiam. E rodeado, sem medos, de mais pessoas que o amam do que um monogâmico, estará assim mais inclinado para o caminho do «sucesso». Um poly terá por isso mais probabilidades de ser um bom poly do que um mono de ser um bom mono. Um poly pode lá chegar, um mono- (ó) pode bem tornar-se um mono (ô)… ²
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(¹) Não li a teoria original das 10 mil horas. Cheguei aí por via do editorial ("Dear Betty, about your e-mail") do último número da revista Creative Screenwriting, que tinha a seguinte passagem: «The day before he passed away Aug. 4, the great screenwriting teacher and mentor Blake Snyder wrote a blog titled "10,000 Hours".» Foi pouco menos do que o suficiente para me suscitar a curiosidade. Andei a navegar pela Web e descobri que o inspirador e malogrado Snyder (de quem assisti a uma conferência em Los Angeles, li o primeiro livro, Save the Cat!, e fiquei a saber que morreu recentemente com uma embolia pulmonar) cita o último livro de Malcolm Gladwell
(²) mono: mercadoria que não tem venda ou que ninguém procura.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Mostra e conta I: regras e valores
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Quer aqui quer no Our Laundry List, tenho evitado histórias pessoais, mas ando a chegar à conclusão que é exagero meu. Vou tentar começar uma série de "mostra e conta", em que me vou basear no arquivo de entrevistas que dei, ou em conversas que tive no Skype e "nerdices" semelhantes. O texto que se segue é uma adaptação das respostas às perguntas "Que regras é que tenho na minha constelação actual, e quais as regras e valores mais importantes" e "como se gere o tempo e o ciúme". Para quem não está completamente por dentro, há em meios poly a crença (sim, crença) muito espalhada que as relações poly funcionam bem quando há um bom e sólido sistema de regras, associado com a comunicação como um valor universal über alles, por isso é uma pergunta inevitável e pertinente (…).
Tive muitas relações com regras, principalmente no princípio desta aventura (aka a minha vida poly, há quase vinte anos). As regras ajudam porque definem o domínio, o espaço, muitas vezes maior do que pensamos, onde somos livres. Criam uma ideia em primeira aproximação (um pouco errónea) de segurança que ajuda a criar as bases para uma segurança de facto, a posteriori. Mas também pode acontecer que as regras podem estar mal definidas, por exemplo porque as pessoas conhecem mal as suas próprias necessidades, ou dos parceiros, ou porque numa altura precisam mais de segurança do que noutras, etc.
Neste momento, (...), mandámos a maior parte das regras pela janela porque simplesmente não estavam a trazer nenhum acréscimo de segurança ou bem-estar. A única regra neste momento é falar uns com os outros e avisar por exemplo se há ou vai haver "mouro na costa". Mantivemos esta regra não por ser uma "boa regra universal" mas porque no nosso caso particular não somos imunes a ciúme, e embora queiramos ser livres e que os outros sejam livres, não queremos surpresas (...). Fazemos regras pragmáticas para certas situações e janelas temporais (...) Há claro regras no que diz respeito a criar espaço para nos vermos, acerca de saúde (sexual e não só), dinheiro, férias, planta de um apartamento e distribuição dos móveis na casa (são poly friendly? geram privacidade? tornam processos e decisões transparentes?). (…)
Dito tudo isto, onde quero chegar é que o valor supremo para mim é a confiança, mais do que a comunicação. Como explicarei mais abaixo, a comunicação é uma óptima (mas não única) maneira de atingir confiança e respeito. Outros funcionarão de outra maneira. Por outras palavras, vejo a comunicação como ferramenta para a confiança e não como fim em si. Ilustrando com a gestão do ciúme e do escasso tempo, vemos ad nauseam em discussões electrónicas a defesa da comunicação mas IMHO no geral o truque subjacente é criar confiança e ou evitar situações que são fragilizantes para outra pessoa. Se isso é feito através de diálogo, através de regras detalhadíssimas, ou de regras gerais, ou simplesmente de "eu não quero ver nem saber o que fazes mas tens a minha bênção" é uma questão pessoal. Não funcionamos todos da mesma maneira, não criamos confiança todos da mesma maneira, não somos felizes da mesma maneira.(...).
O texto completo (demasiado longo para publicar no polyportugal) está aqui:
http://laundrylst.blogspot.com/2009/08/mostra-e-conta-regras-e-valores.html
Tive muitas relações com regras, principalmente no princípio desta aventura (aka a minha vida poly, há quase vinte anos). As regras ajudam porque definem o domínio, o espaço, muitas vezes maior do que pensamos, onde somos livres. Criam uma ideia em primeira aproximação (um pouco errónea) de segurança que ajuda a criar as bases para uma segurança de facto, a posteriori. Mas também pode acontecer que as regras podem estar mal definidas, por exemplo porque as pessoas conhecem mal as suas próprias necessidades, ou dos parceiros, ou porque numa altura precisam mais de segurança do que noutras, etc.
Neste momento, (...), mandámos a maior parte das regras pela janela porque simplesmente não estavam a trazer nenhum acréscimo de segurança ou bem-estar. A única regra neste momento é falar uns com os outros e avisar por exemplo se há ou vai haver "mouro na costa". Mantivemos esta regra não por ser uma "boa regra universal" mas porque no nosso caso particular não somos imunes a ciúme, e embora queiramos ser livres e que os outros sejam livres, não queremos surpresas (...). Fazemos regras pragmáticas para certas situações e janelas temporais (...) Há claro regras no que diz respeito a criar espaço para nos vermos, acerca de saúde (sexual e não só), dinheiro, férias, planta de um apartamento e distribuição dos móveis na casa (são poly friendly? geram privacidade? tornam processos e decisões transparentes?). (…)
Dito tudo isto, onde quero chegar é que o valor supremo para mim é a confiança, mais do que a comunicação. Como explicarei mais abaixo, a comunicação é uma óptima (mas não única) maneira de atingir confiança e respeito. Outros funcionarão de outra maneira. Por outras palavras, vejo a comunicação como ferramenta para a confiança e não como fim em si. Ilustrando com a gestão do ciúme e do escasso tempo, vemos ad nauseam em discussões electrónicas a defesa da comunicação mas IMHO no geral o truque subjacente é criar confiança e ou evitar situações que são fragilizantes para outra pessoa. Se isso é feito através de diálogo, através de regras detalhadíssimas, ou de regras gerais, ou simplesmente de "eu não quero ver nem saber o que fazes mas tens a minha bênção" é uma questão pessoal. Não funcionamos todos da mesma maneira, não criamos confiança todos da mesma maneira, não somos felizes da mesma maneira.(...).
O texto completo (demasiado longo para publicar no polyportugal) está aqui:
http://laundrylst.blogspot.com/2009/08/mostra-e-conta-regras-e-valores.html
domingo, 20 de setembro de 2009
Citações (2)…
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Monogamia: «o hábito ocidental de ter
uma mulher e quase nenhuma amante.»
uma mulher e quase nenhuma amante.»
Saki (1870-1916), "A Young Turkish catastrophe",
in Reginald in Russia and Other Sketches
O escritor britânico H. H. (Hector Hugh) Munro, conhecido como "Saki", é, infelizmente, pouco familiar em Portugal. Os seus contos de humor macabro foram poucas vezes traduzidos. No entanto, a Relógio d'Água fez uma edição recente de contos escolhidos, traduzidos por Manuel Resende,
sábado, 19 de setembro de 2009
Procura-se bloggers para relações sérias
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Tenho três meses, sou um blog descontraído e open minded, gosto de me divertir mas também de conversas sérias e estou aberto a novas experiências. Tenho muito para dar mas também quero receber.
Aceita-se propostas de bloggers com ou sem experiência poliamorosa.
Aos Sábados este espaço está aberto a contribuições não só dos nossos convidados mas também de quem quiser escrever.
Envie o seu texto (entre 50 e 500 palavras) sobre poliamor para polyportugal@gmail.com.
Aceita-se propostas de bloggers com ou sem experiência poliamorosa.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Fronteiras
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Um dos conselhos mais frequentemente repetidos para quem se está a aclimatar, ou a querer reforçar, uma relação poly, ou aberta, é a de definição de fronteiras, de limites.
Pequenas ou grandes coisas que cada pessoa envolvida deve ou não deve fazer. Normalmente, o uso deste tipo de acordos serve para reforçar o sentido de estabilidade e de tranquilidade, de permanência, contra "haja o que houver".
Mas há um risco sério a considerar. Em primeiro lugar, a pessoa que propõe o limite e a(s) pessoa(s) que o comentam não se encontram em situações necessariamente ideais, ou necessariamente semelhantes. Poderá haver, de qualquer uma das partes, a necessidade sentida de agradar, de "cooperar", de demarcar fronteiras demasiado claras, etc etc etc... E isto pode levar a que se peça "demais" ou se aceite "demais". Aqui o demais significa apenas "de forma pouco realista", na verdade. Em segundo lugar, é preciso ter em conta o que se pede a quem. Que tipo de pedidos são feitos. Será que é razoável? Será que é justo? Será que, se o pedido fosse invertido, a pessoa que o faz responderia da forma que está a requerer?
Além disso, ainda se corre o risco de concordar com algo que descobrimos — às vezes, tão tarde demais! — que não conseguimos cumprir ou, também, que pedimos algo de que não sentimos realmente falta.
Estes pedidos servem, no entanto, mais para descobrir coisas sobre nós mesmos do que sobre qualquer outra coisa. Para cada pedido que fazemos, ou ao qual acedemos, devemos perguntar-nos: "porquê?". "Porque é que eu estou a pedir isto, e não aquilo?" "Que consequências para os outros poderão vir deste pedido?"
Assim, ao invés de transformarmos a nossa vivência poly numa lista de regras e receitas para todas as situações (então e as imprevisíveis?!), podemos antes aceitar que, como em tudo, as relações têm espontaneidade, imprevisibilidade, até mesmo... erros. E, no fim, se os sentimentos — sejam eles quais forem — se mantiverem como o estandarte pelo qual a relação pode crescer e fazer crescer as pessoas dentro dela, tanto melhor.
Pequenas ou grandes coisas que cada pessoa envolvida deve ou não deve fazer. Normalmente, o uso deste tipo de acordos serve para reforçar o sentido de estabilidade e de tranquilidade, de permanência, contra "haja o que houver".
Mas há um risco sério a considerar. Em primeiro lugar, a pessoa que propõe o limite e a(s) pessoa(s) que o comentam não se encontram em situações necessariamente ideais, ou necessariamente semelhantes. Poderá haver, de qualquer uma das partes, a necessidade sentida de agradar, de "cooperar", de demarcar fronteiras demasiado claras, etc etc etc... E isto pode levar a que se peça "demais" ou se aceite "demais". Aqui o demais significa apenas "de forma pouco realista", na verdade. Em segundo lugar, é preciso ter em conta o que se pede a quem. Que tipo de pedidos são feitos. Será que é razoável? Será que é justo? Será que, se o pedido fosse invertido, a pessoa que o faz responderia da forma que está a requerer?
Além disso, ainda se corre o risco de concordar com algo que descobrimos — às vezes, tão tarde demais! — que não conseguimos cumprir ou, também, que pedimos algo de que não sentimos realmente falta.
Estes pedidos servem, no entanto, mais para descobrir coisas sobre nós mesmos do que sobre qualquer outra coisa. Para cada pedido que fazemos, ou ao qual acedemos, devemos perguntar-nos: "porquê?". "Porque é que eu estou a pedir isto, e não aquilo?" "Que consequências para os outros poderão vir deste pedido?"
Assim, ao invés de transformarmos a nossa vivência poly numa lista de regras e receitas para todas as situações (então e as imprevisíveis?!), podemos antes aceitar que, como em tudo, as relações têm espontaneidade, imprevisibilidade, até mesmo... erros. E, no fim, se os sentimentos — sejam eles quais forem — se mantiverem como o estandarte pelo qual a relação pode crescer e fazer crescer as pessoas dentro dela, tanto melhor.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Good luck with that!
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Uma das perguntas que surgem sempre quando uma pessoa se diz poly, é a inevitável “Então e quantas relações é que tens neste momento?”. Para responder a isto, uma imagem que me vem já à cabeça é a de um buffet de casamento. É como se alguém me dissesse “Eia! Comida à farta o dia inteiro, 30 pratos e 40 sobremesas! Quantos quilos de comida é que meteste no bucho?”. É que eu, para além de gostar quase tanto de casamentos como de funerais, sou aquela pessoa que come menos nesses dias do que em dias normais. Não é a possibilidade que faz a vontade nem a disponibilidade.
Para além disso, há uma agravante nas questões do poliamor e das relações pessoais. É que, ao contrário do leitão de maçã na boca, as pessoas têm vontade própria e, algumas, desejos de exclusividade. Não basta querermos comer alguém, esse desejo também tem de ser recíproco. E a toda a gente que pense “Beeeem, isto do poliamor deve ser só comer gajas!!” (ou gajos, perdoem-me a tendência sexista no que se refere a frases alarves), a todas essas pessoas eu proponho que saiam por aí a tentar engatar, dizendo que são poly, que têm outras relações e que num futuro próximo todos se vão conhecer e participar em alegres almoços de domingo (ou piqueniques, que também os há).
Declararmo-nos poly e colocarmos ênfase na honestidade pode ser um dos maiores entraves à tão fantasiada quantidade de relações a que alguns nos associarão de imediato. Ser poly significa que não tomamos como dado adquirido a exclusividade amorosa, nem para nós nem para quem amamos. Quanto a encontrar pessoas que pensem da mesma maneira e que ainda por cima gostem de nós, o que vos tenho a dizer é "boa sorte"! Com ou sem maçã.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
dona flor e seus dois maridos
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d. flor e seus dois maridos... muit@s se riram com a novela protagonizada pelo josé wilker e a sónia braga, entre outr@s.. se calhar era o sonho secreto de muitas mulheres... estávamos nos anos 70 e a revolução em portugal ainda gatinhava.
aqui estão os três protagonistas de uma versão mais recente da peça de teatro, baseada no livro de jorge amado... ainda é um sucesso! ok... um dos mmaridos é imaginário mas vale na mesma!
estive a dar uma volta rápida pela internet... googlei e yahooei a palavra poliamor em português e inglês e encontrei os seguintes resultados, no minimo, interessantes:
no yahoo...
em português, 164.000 referências e 43 fotografias;
em inglês, 2.910.000 referências e 1.300 fotografias...
e no google...
em português, 32.400 referências e 8.200 fotografias;
em inglês, 614.000 referências e 42.000 fotografias...
somado dá perto de 4 milhões... só no google e yahoo!
aqui estão exemplos de fotos que escolhi... ambas representam situações reais...
e uns trios um pouco mais "arrojados"...
uma mais antiga... "vintage polyamory"! ai, ai, ai! já no tempo da minha avozinha se fazia disto!!! bem, bem, e muito mais para lá do tempo dela!
sempre houve pessoas que escolheram viver o seu amor de forma livre...
agora o casamento, para quem faz questão... por enquanto vamos ter de nos contentar com este imaginário aqui representado nestas fotos!
todas as semanas há jornalistas a pedir entrevistas sobre o tema poliamor e para além deste nosso blog existem milhares, assim como outros sítios na net.
organizam-se regularmente encontros, oficinas e conferências um pouco pelo mundo fora sobre este tema.
há ainda um facto muitíssimo importante e que, se repararmos bem nestas fotografias, está bem patente: a transversalidade do poliamor... todas e quaisquer combinações de pessoas são possíveis e acima de tudo, são aceites sem discriminação!
aqui estão os três protagonistas de uma versão mais recente da peça de teatro, baseada no livro de jorge amado... ainda é um sucesso! ok... um dos mmaridos é imaginário mas vale na mesma!
estive a dar uma volta rápida pela internet... googlei e yahooei a palavra poliamor em português e inglês e encontrei os seguintes resultados, no minimo, interessantes:
no yahoo...
em português, 164.000 referências e 43 fotografias;
em inglês, 2.910.000 referências e 1.300 fotografias...
e no google...
em português, 32.400 referências e 8.200 fotografias;
em inglês, 614.000 referências e 42.000 fotografias...
somado dá perto de 4 milhões... só no google e yahoo!
aqui estão exemplos de fotos que escolhi... ambas representam situações reais...
e uns trios um pouco mais "arrojados"...
uma mais antiga... "vintage polyamory"! ai, ai, ai! já no tempo da minha avozinha se fazia disto!!! bem, bem, e muito mais para lá do tempo dela!
sempre houve pessoas que escolheram viver o seu amor de forma livre...
agora o casamento, para quem faz questão... por enquanto vamos ter de nos contentar com este imaginário aqui representado nestas fotos!
todas as semanas há jornalistas a pedir entrevistas sobre o tema poliamor e para além deste nosso blog existem milhares, assim como outros sítios na net.
organizam-se regularmente encontros, oficinas e conferências um pouco pelo mundo fora sobre este tema.
há ainda um facto muitíssimo importante e que, se repararmos bem nestas fotografias, está bem patente: a transversalidade do poliamor... todas e quaisquer combinações de pessoas são possíveis e acima de tudo, são aceites sem discriminação!
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Quando a corrente passa e as luzes acendem
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Relembro aqui um texto da Lara (Sou todos eles... sou um polyedro), que fecha com a frase
Nos dias antes de o meu pai morrer, além de estar com ele e ajudar a minha mãe a tornar-lhe o fim de vida mais suportável, tive tempo para alguns dos melhores trabalhos que fiz até hoje, e para os amigos também. Certo dia, aquela rapariga «chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar»¹. Há anos que tinha optado por casar com outro. Nesse dia, deu-me um beijo. E só a seguir soube que o meu pai tinha morrido naquela noite.
No mês passado, tive uma reunião onde era suposto eu trazer uma ideia para uma peça de teatro, um one person show. Durante duas semanas não tinha chegado a ideia nenhuma. No próprio dia da reunião, porque as luzes do poliedro se acenderam em série (pelos melhores motivos!), em duas horas já tinha escrito uma ideia, parte do texto, a construção da personagem. E daí a pouco levaria para a reunião uma das ideias mais consistentes que já tive na minha vida de escrevinhador.
Aos meus amigos do Poly Portugal, a quem já viva numa relação poliamorosa e aos que estiverem agora a descobrir o poliamor, desejo que as luzes de todos os vossos vértices se acendam em combinações e ritmos diversos, nas mais variadas cores e intensidades. E que os pequenos curto-circuitos, as ocasionais lâmpadas fundidas, as possíveis desarmonias, caso surjam, sejam apenas ligeiros sobressaltos que não provoquem nenhum apagão.
_______
¹ Sim, eu sei que já na terça-feira passada me deu para citar a Valsinha. O que é que querem? Está tudo relacionado…
«Uma pessoa é algo tridimensional, um poliedro com várias faces, facetas e arestas. Com possibilidades infinitas de encontrar novas formas dentro de si e em intersecção com outros.»Sim, somos um verdadeiro poliedro. Mas um poliedro desmultiplicável. Quando acende uma luz numa das faces, quando passa corrente numa das arestas, tudo se desmultiplica como não supúnhamos antes ser possível. É o que acontece nos momentos de enorme tensão ou de enorme prazer.
Nos dias antes de o meu pai morrer, além de estar com ele e ajudar a minha mãe a tornar-lhe o fim de vida mais suportável, tive tempo para alguns dos melhores trabalhos que fiz até hoje, e para os amigos também. Certo dia, aquela rapariga «chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar»¹. Há anos que tinha optado por casar com outro. Nesse dia, deu-me um beijo. E só a seguir soube que o meu pai tinha morrido naquela noite.
No mês passado, tive uma reunião onde era suposto eu trazer uma ideia para uma peça de teatro, um one person show. Durante duas semanas não tinha chegado a ideia nenhuma. No próprio dia da reunião, porque as luzes do poliedro se acenderam em série (pelos melhores motivos!), em duas horas já tinha escrito uma ideia, parte do texto, a construção da personagem. E daí a pouco levaria para a reunião uma das ideias mais consistentes que já tive na minha vida de escrevinhador.
Aos meus amigos do Poly Portugal, a quem já viva numa relação poliamorosa e aos que estiverem agora a descobrir o poliamor, desejo que as luzes de todos os vossos vértices se acendam em combinações e ritmos diversos, nas mais variadas cores e intensidades. E que os pequenos curto-circuitos, as ocasionais lâmpadas fundidas, as possíveis desarmonias, caso surjam, sejam apenas ligeiros sobressaltos que não provoquem nenhum apagão.
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¹ Sim, eu sei que já na terça-feira passada me deu para citar a Valsinha. O que é que querem? Está tudo relacionado…
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Vá para fora lá dentro: Verdes e Poliamor (Alemanha)
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Em Munique há varias stammtische (encontros regulares) poly, uma das quais é um grupo grande de pessoas que se interessam por poly, não o vivendo necessariamente, e que se encontra uma vez por mês, principalmente para conviver, mas também para por vezes se falar de coisas sérias, e às vezes até mesmo poly.
Os políticos estão claramente atentos, e procuram, na Alemanha como em Portugal, gerir e apropriar-se de qualquer grupo de interesse que possa significar massa negocial ou de lobby ou talvez simplesmente tornar o mundo melhor através do adoptar da bandeira de grupos pequenos, minoritários, mas significativos. Decidam qual das opções em função do nível actual da vossa bílis.
Recentemente apareceu num dos encontros um pequeno grupo da Grüne Freiheit (a Liberdade Verde, uma facção libertária dos Verdes). Depois desse encontro, recebemos através da mailing list que organiza os encontros, um comunicado deste grupo. Tencionam em fins de Setembro, depois das eleições para o Parlamento Federal, trazer ao Parlamento da Baviera, juntamente com outros grupos dos Verdes (ou, caso não seja possível, como debate interno e público dentro dos Verdes), uma discussão sobre o tema Poliamor. A ideia é preparar novas frentes de luta para os Verdes lançarem a discussão acerca de como, durante a batalha pela igualdade de acesso ao casamento pelos pares do mesmo género, eles acabaram também por cair na caixinha da relação modelo entre duas pessoas.
Para recuperar desta falha, querem lançar o tema Poliamor e discutir que conquistas e que formas de luta se deveriam pôr na ordem dos trabalhos. Em concreto, querem discutir o privilégio implícito que há em qualquer casamento (antidote dixit: Boa!), e se faz sentido trazer esse privilégio para relações não monogâmicas, que podem ser reguladas (antidote dixit: Tiro no pé, parem!!!!). E como, além dos juristas e advogados que vão estar na discussão, convém que haja alguém que saiba daquilo que fala, pedem a colaboração de pessoas do grupo que queiram estar presentes.
A coisa triste: o grupo é constituído maioritariamente por poly wannabes e ninguém se chegou à frente. Mas aguardo ansiosamente pelo fim de Setembro para assistir ao desenrolar disto.
E que farão os restantes Verdes europeus?
Os políticos estão claramente atentos, e procuram, na Alemanha como em Portugal, gerir e apropriar-se de qualquer grupo de interesse que possa significar massa negocial ou de lobby ou talvez simplesmente tornar o mundo melhor através do adoptar da bandeira de grupos pequenos, minoritários, mas significativos. Decidam qual das opções em função do nível actual da vossa bílis.
Recentemente apareceu num dos encontros um pequeno grupo da Grüne Freiheit (a Liberdade Verde, uma facção libertária dos Verdes). Depois desse encontro, recebemos através da mailing list que organiza os encontros, um comunicado deste grupo. Tencionam em fins de Setembro, depois das eleições para o Parlamento Federal, trazer ao Parlamento da Baviera, juntamente com outros grupos dos Verdes (ou, caso não seja possível, como debate interno e público dentro dos Verdes), uma discussão sobre o tema Poliamor. A ideia é preparar novas frentes de luta para os Verdes lançarem a discussão acerca de como, durante a batalha pela igualdade de acesso ao casamento pelos pares do mesmo género, eles acabaram também por cair na caixinha da relação modelo entre duas pessoas.
Para recuperar desta falha, querem lançar o tema Poliamor e discutir que conquistas e que formas de luta se deveriam pôr na ordem dos trabalhos. Em concreto, querem discutir o privilégio implícito que há em qualquer casamento (antidote dixit: Boa!), e se faz sentido trazer esse privilégio para relações não monogâmicas, que podem ser reguladas (antidote dixit: Tiro no pé, parem!!!!). E como, além dos juristas e advogados que vão estar na discussão, convém que haja alguém que saiba daquilo que fala, pedem a colaboração de pessoas do grupo que queiram estar presentes.
A coisa triste: o grupo é constituído maioritariamente por poly wannabes e ninguém se chegou à frente. Mas aguardo ansiosamente pelo fim de Setembro para assistir ao desenrolar disto.
E que farão os restantes Verdes europeus?
domingo, 13 de setembro de 2009
Meet the Polyamorists
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Foi publicado hoje, no jornal britânico The Independent um artigo sobre poliamor. Embora foque mais a realidade do Reino Unido e de Espanha, apresenta várias questões de fundo.
É um artigo cuidado, bem escrito e plural. Vale a pena o esforço de ler as cinco páginas.
sábado, 12 de setembro de 2009
Mais do que um: contra as relações Nesquik
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Segue-se uma abordagem possível a uma questão que, para mim, é relativamente recente, e que disfarça alguma hesitação brincando um pouco. Sem a moralina do costume, sem as vacinações institucionais a que nos vamos sujeitando, na fúria classificatória que nos desvia de ser pessoas para nos transformar em coleccionadores de borboletas, a intenção que aqui se oculta passa pela denúncia da imposição de modelos, que oprime, exclui — e não brinca em serviço. Peço que leiam, pois, este post como uma espécie de foreplay a qualquer coisa mais séria; como um pré-texto escrito para mais do que um/a… E que poliamorosamente vos dedico.
Desde a passagem do poli…teísmo para o monoteísmo, o culto fetichista ao número Um cresceu exponencialmente. Fantasma fundador, a unidade começa a confundir-se com perfeição; e porque uma relação pressupõe sempre mais do que um (sendo o meio uma evidente limitação biológica), o dois, por proximidade numérica e facilidade fusional, lá se institui. O sacrossanto Um, reinando então sobre tudo, vai de confundir as relações entre pessoas com uma espécie de leite achocolatado: quanto mais uniforme, indistinto — concordante e enjoativo — melhor se amanha a beberagem! E com o alto patrocínio da Igreja, lá se encorajam as relações Nesquik, mexidas com a ampla colher do sr. Bispo, que homem nenhum pode apartar. Mais do que o poli, o que perturba este esquema instituído é mesmo a liberdade.
A liberdade tem esta propriedade incomodativa de enguia esquiva, que coloca em perigo qualquer finalização institucional. Numa passagem que sempre me intrigou, Sartre alerta, com acutilância quase cínica, para a impossibilidade do amor realizado devido a este absoluto a que se chama “liberdade”.
Se eu desejo alguém (ainda mais quando esse desejo ganha o qualificativo difuso a que chamamos “amor”), eu admiro e ambiciono a sua liberdade, não para a reduzir mas para que ela permaneça. Ora isto coloca a relação num limbo difícil. É que se eu conquisto realmente essa liberdade, acabo por anulá-la, perdendo-se o desejo numa lógica de subjugação; se ela persiste, o desejo lá se mantém, combativo e difícil, sem fusão ou solução. Poli ou não poli, o que cai aqui por terra é a chamada relação Nesquik, tão propalada pela cristandade, pelo reino das consciências casamenteiras e pelas samaritanas parteiras que por aí pululam, dizendo sins à vida. Ainda por cima a partir de um livro intitulado Ensaio de ontologia fenomenológica, escrito por uma das pessoas que mais realizadamente viveu numa relação aproximada ao “modelo” poli — très chic, não é verdade?!
Independentemente do argumento de Sartre, gostaria de vos dizer, agora um pouco mais a sério: Sou professor de Filosofia, assumindo desde logo uma responsabilidade pública no combate aos vários autoritarismos encapotados pelo bom nome da “moral”. Não que ela não seja necessária, mas porque o sentido de uma moral passa pela sua refundação. Que ela se exalte, pois — poliamorosamente ou não —, contra as relações Nesquik, cujo carácter modelar todos os dias constrói vítimas. Entre elas, em acto ou em potência, estamos todos: eu e vocês.
Desde a passagem do poli…teísmo para o monoteísmo, o culto fetichista ao número Um cresceu exponencialmente. Fantasma fundador, a unidade começa a confundir-se com perfeição; e porque uma relação pressupõe sempre mais do que um (sendo o meio uma evidente limitação biológica), o dois, por proximidade numérica e facilidade fusional, lá se institui. O sacrossanto Um, reinando então sobre tudo, vai de confundir as relações entre pessoas com uma espécie de leite achocolatado: quanto mais uniforme, indistinto — concordante e enjoativo — melhor se amanha a beberagem! E com o alto patrocínio da Igreja, lá se encorajam as relações Nesquik, mexidas com a ampla colher do sr. Bispo, que homem nenhum pode apartar. Mais do que o poli, o que perturba este esquema instituído é mesmo a liberdade.
A liberdade tem esta propriedade incomodativa de enguia esquiva, que coloca em perigo qualquer finalização institucional. Numa passagem que sempre me intrigou, Sartre alerta, com acutilância quase cínica, para a impossibilidade do amor realizado devido a este absoluto a que se chama “liberdade”.
Se eu desejo alguém (ainda mais quando esse desejo ganha o qualificativo difuso a que chamamos “amor”), eu admiro e ambiciono a sua liberdade, não para a reduzir mas para que ela permaneça. Ora isto coloca a relação num limbo difícil. É que se eu conquisto realmente essa liberdade, acabo por anulá-la, perdendo-se o desejo numa lógica de subjugação; se ela persiste, o desejo lá se mantém, combativo e difícil, sem fusão ou solução. Poli ou não poli, o que cai aqui por terra é a chamada relação Nesquik, tão propalada pela cristandade, pelo reino das consciências casamenteiras e pelas samaritanas parteiras que por aí pululam, dizendo sins à vida. Ainda por cima a partir de um livro intitulado Ensaio de ontologia fenomenológica, escrito por uma das pessoas que mais realizadamente viveu numa relação aproximada ao “modelo” poli — très chic, não é verdade?!
Independentemente do argumento de Sartre, gostaria de vos dizer, agora um pouco mais a sério: Sou professor de Filosofia, assumindo desde logo uma responsabilidade pública no combate aos vários autoritarismos encapotados pelo bom nome da “moral”. Não que ela não seja necessária, mas porque o sentido de uma moral passa pela sua refundação. Que ela se exalte, pois — poliamorosamente ou não —, contra as relações Nesquik, cujo carácter modelar todos os dias constrói vítimas. Entre elas, em acto ou em potência, estamos todos: eu e vocês.
Hugo Monteiro
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Uma curta...
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Ontem estive a jantar com A.; depois do jantar juntou-se a nós B., companheir@ de A.
Isto porque A. queria conversar connosco, expressar a B. o seu interesse por... bem, por mim na verdade... e questionar B. sobre o que pensava disso mesmo, o que quereria fazer, etc... Todos aqueles detalhes de quem começa a saltar de uma relação de carácter mais fechado, para uma de carácter mais aberto — mesmo que o seja de forma pontual, por exemplo.
Tendo podido falar com B. posteriormente, reparei que a honestidade não é apenas libertadora, mas que também pode tornar-nos alvos de uma coisa muito bonita: a confiança.
Isto porque A. queria conversar connosco, expressar a B. o seu interesse por... bem, por mim na verdade... e questionar B. sobre o que pensava disso mesmo, o que quereria fazer, etc... Todos aqueles detalhes de quem começa a saltar de uma relação de carácter mais fechado, para uma de carácter mais aberto — mesmo que o seja de forma pontual, por exemplo.
Tendo podido falar com B. posteriormente, reparei que a honestidade não é apenas libertadora, mas que também pode tornar-nos alvos de uma coisa muito bonita: a confiança.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
E você? Já disse a verdade hoje?
Publicado por
Dizer a verdade é um vício. Quando nos habituamos a ser frontais, já não há volta atrás. Já não se quer viver de outra maneira. Acreditem em mim, que não fiz outra coisa senão mentir, desde que soube falar até que saí de casa dos meus pais.
Não digo que não continue a mentir (ou a ocultar coisas), a eles e a todas as pessoas que me pareçam totalmente incapazes de se sintonizar com o que digo ou, na maior parte dos casos, indisponíveis para tal. Por norma oscilo entre a verdade absoluta e o silêncio. Misteriosamente para mim, há pessoas que preferem não comunicar. E desta forma, coisas pequenas transformam-se em monstros, muitas vezes capazes de destruir relações.
A honestidade total é libertadora e catártica. Muitas vezes dolorosa enquanto processo, mas para mim extremamente gratificante enquanto objectivo. Nos últimos dias tenho tido bastante das duas coisas e apesar de há uns anos para cá ter feito um esforço de erradicação de qualquer forma de falsidade na minha vida, parece-me que há ainda muito a fazer.
A ideia não é ser despudoradamente frontal com toda a gente a toda a hora, uma espécie de Dr. House poly, até porque nem toda a gente lida bem com a verdade, ou ainda não está preparada para isso. Mas quero aproveitar ao máximo os nichos de verdade absoluta que algumas pessoas me proporcionam, e aumentar a minha cota de verdade junto de outras. Muitas vezes surpreendemo-nos com as reacções alheias. Vale a pena arriscar.
E você? Já disse a verdade hoje?
Não digo que não continue a mentir (ou a ocultar coisas), a eles e a todas as pessoas que me pareçam totalmente incapazes de se sintonizar com o que digo ou, na maior parte dos casos, indisponíveis para tal. Por norma oscilo entre a verdade absoluta e o silêncio. Misteriosamente para mim, há pessoas que preferem não comunicar. E desta forma, coisas pequenas transformam-se em monstros, muitas vezes capazes de destruir relações.
A honestidade total é libertadora e catártica. Muitas vezes dolorosa enquanto processo, mas para mim extremamente gratificante enquanto objectivo. Nos últimos dias tenho tido bastante das duas coisas e apesar de há uns anos para cá ter feito um esforço de erradicação de qualquer forma de falsidade na minha vida, parece-me que há ainda muito a fazer.
A ideia não é ser despudoradamente frontal com toda a gente a toda a hora, uma espécie de Dr. House poly, até porque nem toda a gente lida bem com a verdade, ou ainda não está preparada para isso. Mas quero aproveitar ao máximo os nichos de verdade absoluta que algumas pessoas me proporcionam, e aumentar a minha cota de verdade junto de outras. Muitas vezes surpreendemo-nos com as reacções alheias. Vale a pena arriscar.
E você? Já disse a verdade hoje?
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
igualdade ou comemos tod@s
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o movimento pela igualdade no acesso ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo (mpi) tem hoje mais um momento na sua existência. realiza-se esta noite, no hotel ibis saldanha, um encontro com representantes dos partidos com assento parlamentar. o objectivo deste encontro/debate é, naturalmente, clarificar as posições dos partidos em relação ao casamento civil para tod@s na próxima legislatura.
desde o seu início, em abril deste ano, que o mpi tem na lista de subscritores inúmeros nomes de pessoas poliamorosas ou polisimpatizantes, independentemente de estarem a favor, ou não, do casamento entre duas pessoas.
já experimentei o casamento e não o quero repetir. gosto de ter a liberdade de poder viver com quem quero e nas condições que escolher para esse relacionamento, seja ele qual for.
no entanto apoio o mpi.
a razão é muito simples e clara: quero viver numa sociedade inclusiva onde tod@s temos a liberdade de poder casar, querendo... pelo menos enquanto essa mesma sociedade insistir em manter a instituição casamento.
desde o seu início, em abril deste ano, que o mpi tem na lista de subscritores inúmeros nomes de pessoas poliamorosas ou polisimpatizantes, independentemente de estarem a favor, ou não, do casamento entre duas pessoas.
já experimentei o casamento e não o quero repetir. gosto de ter a liberdade de poder viver com quem quero e nas condições que escolher para esse relacionamento, seja ele qual for.
no entanto apoio o mpi.
a razão é muito simples e clara: quero viver numa sociedade inclusiva onde tod@s temos a liberdade de poder casar, querendo... pelo menos enquanto essa mesma sociedade insistir em manter a instituição casamento.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
O mundo compreendeu e o dia amanheceu em paz
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No plano afectivo, fora da minha família de origem, houve ao longo da minha vida uma mão cheia de pessoas que se tornaram parte central da minha história.
Ontem, em momentos diferentes, contei a duas dessas pessoas (A. e B.) que estou enamorado (por C.) como há mais de um ano não me acontecia e não maldisse a vida tanto quanto era o meu jeito de sempre falar (obrigado, Chico e Vinicius*).
A. não é poly. Tem uma relação exclusiva com a única pessoa com quem teve intimidade (e filhos) na vida, e quer continuar assim. Comigo, tem há duas dúzias de anos uma relação que ela própria, sob tortura, classificaria certamente de «poliamorosa casta».
B. não sabe mas julga que não é poly. Vive com a mesma pessoa há dúzia e meia de anos, é uma grande amiga minha há uma dúzia e a amizade coloriu-se durante meia dúzia.
Tanto A. como B. ficaram genuinamente felizes por mim. Noutras alturas, com outros amores meus mais complicados, não tinham ficado felizes. São pessoas com intuição e que, por me amarem (obrigado, Jorge, pelo uso descomplexado do verbo «amar»), querem o melhor para mim. E o meu estado de enamoramento reduplicou por contágio.
A cada dia que passa, sinto que estou a aprender o ABC do poliamor. O A.+B.+C.+n. Amar aprende-se até secar.
Nunca escondi de ninguém o que penso sobre relações afectivas. Publiquei, fiz activismo, dei a cara. Mas é mais fácil falar genericamente das minhas ideias — e ao mundo — do que concretamente dos meus amores — e às pessoas que amo.
Não esperei por 11 de Outubro. Fiz ontem verdadeiramente o meu coming out poly.
Ontem, em momentos diferentes, contei a duas dessas pessoas (A. e B.) que estou enamorado (por C.) como há mais de um ano não me acontecia e não maldisse a vida tanto quanto era o meu jeito de sempre falar (obrigado, Chico e Vinicius*).
A. não é poly. Tem uma relação exclusiva com a única pessoa com quem teve intimidade (e filhos) na vida, e quer continuar assim. Comigo, tem há duas dúzias de anos uma relação que ela própria, sob tortura, classificaria certamente de «poliamorosa casta».
B. não sabe mas julga que não é poly. Vive com a mesma pessoa há dúzia e meia de anos, é uma grande amiga minha há uma dúzia e a amizade coloriu-se durante meia dúzia.
Tanto A. como B. ficaram genuinamente felizes por mim. Noutras alturas, com outros amores meus mais complicados, não tinham ficado felizes. São pessoas com intuição e que, por me amarem (obrigado, Jorge, pelo uso descomplexado do verbo «amar»), querem o melhor para mim. E o meu estado de enamoramento reduplicou por contágio.
A cada dia que passa, sinto que estou a aprender o ABC do poliamor. O A.+B.+C.+n. Amar aprende-se até secar.
Nunca escondi de ninguém o que penso sobre relações afectivas. Publiquei, fiz activismo, dei a cara. Mas é mais fácil falar genericamente das minhas ideias — e ao mundo — do que concretamente dos meus amores — e às pessoas que amo.
Não esperei por 11 de Outubro. Fiz ontem verdadeiramente o meu coming out poly.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Encontro no fim do Mundo: os Moso
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Um documentário a ver, se possível: "Encontro no fim do Mundo, o povo Moso" (Eric Blavier, Thomas Lavarechy).
Na verdade não vi o documentário. Ouvi os comentários em segunda mão e desencadeei uma busca na net. Não vou escrever tudo aqui para vos deixar o prazer da descoberta e da investigação.
Os Moso são um povo que vive na China, junto ao Tibete, nas margens do lago Lughu. São 30.000 pessoas que tem visto as suas tradições bastante antigas mais ou menos preservadas.
Em poucas palavras, a sociedade Moso é matriarcal. As mulheres têm o papel predominante na sociedade e querem, podem e executam todas as tarefas. O poder e a influência passam da mãe para a filha que ela considera mais inteligente.
A mulher ao chegar à idade adulta adquire o direito de escolher amantes que recebe em casa dentro de um esquema que preserva a discrição mas que não tem nada de clandestino. As crianças que nascem destes enlaces são criadas dentro da família, às quais o pai biológico não pertence. Pares que se amam encontram-se discretamente mas em liberdade e sem compromisso. Por outras palavras, não usam do conceito de monogamia.
Não existe palavra para marido nem para pai, o que não quer dizer que os homens não participem da educação das crianças ou da sociedade em geral. Simplesmente desaparece completamente a ideia do pai biológico com direitos sobre a prole e a ideia de patriarca. Adicionalmente, parece não haver crime nesta sociedade, que não é tão pequena como isso. Ainda menos há crime passional. O ciúme é considerado uma doença infantil, que aparece muito pouco e, que ao contrário de entre nós, ocidentais, quando aparece não é encorajada.
O que vos mostro aqui não é o modelo que eu quero seguir, ou a sociedade utópica dos meus sonhos. É apenas mais um modelo dissidente daquele em que crescemos e nos habituamos a pensar que é o único possível. Quero apenas mostrar que em termos de relações, se não tentamos seguir o modelo monogâmico e patriarcal ocidental em que crescemos, há provavelmente tantas soluções como pessoas. Este é apenas um dos modelos possíveis. Não é o que eu escolheria, embora me pareça melhor do que é mainstream entre nós.
(Escrito originalmente em 2005 este post foi uma sugestão da K., minha namorada na altura, que não se identificando como poly, quis que eu continuasse a assim viver, e me incentivou a começar projectos poly-activistas)
Na verdade não vi o documentário. Ouvi os comentários em segunda mão e desencadeei uma busca na net. Não vou escrever tudo aqui para vos deixar o prazer da descoberta e da investigação.
Os Moso são um povo que vive na China, junto ao Tibete, nas margens do lago Lughu. São 30.000 pessoas que tem visto as suas tradições bastante antigas mais ou menos preservadas.
Em poucas palavras, a sociedade Moso é matriarcal. As mulheres têm o papel predominante na sociedade e querem, podem e executam todas as tarefas. O poder e a influência passam da mãe para a filha que ela considera mais inteligente.
A mulher ao chegar à idade adulta adquire o direito de escolher amantes que recebe em casa dentro de um esquema que preserva a discrição mas que não tem nada de clandestino. As crianças que nascem destes enlaces são criadas dentro da família, às quais o pai biológico não pertence. Pares que se amam encontram-se discretamente mas em liberdade e sem compromisso. Por outras palavras, não usam do conceito de monogamia.
Não existe palavra para marido nem para pai, o que não quer dizer que os homens não participem da educação das crianças ou da sociedade em geral. Simplesmente desaparece completamente a ideia do pai biológico com direitos sobre a prole e a ideia de patriarca. Adicionalmente, parece não haver crime nesta sociedade, que não é tão pequena como isso. Ainda menos há crime passional. O ciúme é considerado uma doença infantil, que aparece muito pouco e, que ao contrário de entre nós, ocidentais, quando aparece não é encorajada.
O que vos mostro aqui não é o modelo que eu quero seguir, ou a sociedade utópica dos meus sonhos. É apenas mais um modelo dissidente daquele em que crescemos e nos habituamos a pensar que é o único possível. Quero apenas mostrar que em termos de relações, se não tentamos seguir o modelo monogâmico e patriarcal ocidental em que crescemos, há provavelmente tantas soluções como pessoas. Este é apenas um dos modelos possíveis. Não é o que eu escolheria, embora me pareça melhor do que é mainstream entre nós.
- Link para o documentário: "Encontro no fim do Mundo, o povo Moso" (Eric Blavier, Thomas Lavarechy).
- Link para um artigo que comenta o documentário.
- Link para o resumo do romance "Leaving Mother Lake": para quem não quer seguir a documentação mais sociológica, está aqui um romance à volta de uma jovem Moso que deixa a sua vila para seguir uma carreira como cantora e se confronta com a cultura chinesa.
(Escrito originalmente em 2005 este post foi uma sugestão da K., minha namorada na altura, que não se identificando como poly, quis que eu continuasse a assim viver, e me incentivou a começar projectos poly-activistas)
domingo, 6 de setembro de 2009
Introdução ao Poliamor (I)
Publicado por
foto: Stella/Getty Images/fStop |
Qual será o melhor texto para se ler se não se souber absolutamente nada sobre poliamor?
É provável que muitos poliamoristas respondam a esta pergunta com um texto de Franklin Veaux intitulado Polyamory? : What, like, two girlfriends? («Poliamor? O quê, tipo duas namoradas?»)
Veaux conseguiu fazer umas FAQ (Perguntas Mais Frequentes) que são sem dúvida um dos textos mais simples, mais completos e mais fáceis de ler que existem sobre poliamor. O texto tem sido actualizado e aperfeiçoado pelo menos desde 2003 e continua sem publicação em livro.
Aqui segue, para abrir o apetite, uma tradução do início, tentando manter o espírito do original:
OK, então o que é isso do "poliamor"?
A palavra "poliamor" é baseada num termo grego e noutro do latim, com o conceito de "muitos amores" (literalmente, poly = muitos, amore = amor). Uma relação poliamorosa é uma relação romântica que envolve duas ou mais pessoas.
Quer dizer, tipo swing?
Não exactamente. O swinging tem um espírito diferente. Os swingers giram em torno do sexo como forma de diversão, apesar de poderem desenvolver amizades e ligações mais profundas. No poliamor, as ligações profundas são o espírito essencial, apesar de o sexo ser muitas vezes divertido.
Ah, estou a ver. Tipo ter um caso a sério com outra.
Não. Isso também é um espírito diferente. O termo técnico para isso é "trair".
Com certeza. Realmente há cá uma diferença!…
E há mesmo! Aquilo que define uma relação poliamorosa é que todas as pessoas envolvidas sabem do envolvimento, e concordam com o envolvimento, de todos os outros.
Se fores casado, e tiveres uma namorada de que a tua mulher não saiba, ou que a tua mulher suspeite existir mas sem ter a certeza, ou de que a tua mulher sabe mas não se sente bem com isso, não és poly, és infiel. Da mesma forma, se andas a comer o carteiro quando o teu marido vai para fora, não és poly, és infiel.
O poliamor é definido por um consentimento informado de todos os participantes. Sem isso, não é poly. Se não podes convidar uma pessoa que ames para o jantar de Natal com o resto da tua família porque não queres que se saiba o que andas a fazer, provavelmente isso não é poly.
Poly o tanas. Isso é só uma maneira de dizeres que o teu parceiro te deixa traí-lo.
Não. Trair é infringir as regras. Se não infringires as regras da tua relação, não estás a trair, por definição.
As regras não precisam de ser explícitas; até mesmo infringir as regras tácitas de uma relação é trair. Se fizeres alguma coisa que não te sentes confortável a contar à tua parceira, ou se fizeres alguma coisa que sabes que faria o teu parceiro infeliz se ele soubesse, é provável que estejas simplesmente a traí-lo.
O poliamor é uma forma completamente diferente de definir uma relação. É o reconhecimento do facto de que as relações não aparecem nas prateleiras em «tamanho único».
[…]
É provável que muitos poliamoristas respondam a esta pergunta com um texto de Franklin Veaux intitulado Polyamory? : What, like, two girlfriends? («Poliamor? O quê, tipo duas namoradas?»)
Veaux conseguiu fazer umas FAQ (Perguntas Mais Frequentes) que são sem dúvida um dos textos mais simples, mais completos e mais fáceis de ler que existem sobre poliamor. O texto tem sido actualizado e aperfeiçoado pelo menos desde 2003 e continua sem publicação em livro.
Aqui segue, para abrir o apetite, uma tradução do início, tentando manter o espírito do original:
OK, então o que é isso do "poliamor"?
A palavra "poliamor" é baseada num termo grego e noutro do latim, com o conceito de "muitos amores" (literalmente, poly = muitos, amore = amor). Uma relação poliamorosa é uma relação romântica que envolve duas ou mais pessoas.
Quer dizer, tipo swing?
Não exactamente. O swinging tem um espírito diferente. Os swingers giram em torno do sexo como forma de diversão, apesar de poderem desenvolver amizades e ligações mais profundas. No poliamor, as ligações profundas são o espírito essencial, apesar de o sexo ser muitas vezes divertido.
Ah, estou a ver. Tipo ter um caso a sério com outra.
Não. Isso também é um espírito diferente. O termo técnico para isso é "trair".
Com certeza. Realmente há cá uma diferença!…
E há mesmo! Aquilo que define uma relação poliamorosa é que todas as pessoas envolvidas sabem do envolvimento, e concordam com o envolvimento, de todos os outros.
Se fores casado, e tiveres uma namorada de que a tua mulher não saiba, ou que a tua mulher suspeite existir mas sem ter a certeza, ou de que a tua mulher sabe mas não se sente bem com isso, não és poly, és infiel. Da mesma forma, se andas a comer o carteiro quando o teu marido vai para fora, não és poly, és infiel.
O poliamor é definido por um consentimento informado de todos os participantes. Sem isso, não é poly. Se não podes convidar uma pessoa que ames para o jantar de Natal com o resto da tua família porque não queres que se saiba o que andas a fazer, provavelmente isso não é poly.
Poly o tanas. Isso é só uma maneira de dizeres que o teu parceiro te deixa traí-lo.
Não. Trair é infringir as regras. Se não infringires as regras da tua relação, não estás a trair, por definição.
As regras não precisam de ser explícitas; até mesmo infringir as regras tácitas de uma relação é trair. Se fizeres alguma coisa que não te sentes confortável a contar à tua parceira, ou se fizeres alguma coisa que sabes que faria o teu parceiro infeliz se ele soubesse, é provável que estejas simplesmente a traí-lo.
O poliamor é uma forma completamente diferente de definir uma relação. É o reconhecimento do facto de que as relações não aparecem nas prateleiras em «tamanho único».
[…]
sábado, 5 de setembro de 2009
Os meus medos...
Publicado por
Não, não tenho medo de cães grandes, só dos que mordem mesmo.
Ou melhor, há coisas que nos mordem e magoam mas talvez o pior seja o medo das coisas, que nós achamos, que nos podem magoar. Isto será específico de pessoa para pessoa.
Nas minhas poli-relações, pelo menos nas que são "full time", surgem-me alguns receios que não estão na relação em si mas no mundo que me rodeia.
Fazendo uma introspecção e analisando as coisas que me preocupam quando vivo as minhas relações, há claramente duas coisas que se destacam. Ambas se relacionam com a maneira como as pessoas que considero próximas podem encarar esta realidade poliamorosa na minha vida. Uma está relacionada com os amigos e outra com a família "tradicional" (biológica).
Estes medos são mais óbvios nestas relações "full time", e tenho duas neste momento, o que me tem feito pensar um pouco mais neste assunto. Tenho outras pessoas que amo, e com quem tenho intimidade, mas que vejo esporadicamente e cujas relações são vivenciadas de outras formas...
Nos meus amigos receio o tratamento e a hierarquização que podem dar às pessoas que amo, às minhas relações. Já o disse antes, não tenho relações primárias ou secundárias, não faço comparações e cada uma vale por si.
Mas os meus amigos podem não o fazer! E isso, vá lá, aborrece-me...
Resumindo, temo o dia em que alguém que me seja próximo trate um dos meus amores de forma diferente baseado nestes pressupostos com os quais não me identifico.
Na minha família "tradicional" temo a não aceitação. Penso que este problema será mais transversal e alcança muitos outros tipos de relações. Mas para quem vem de uma família super-tradicional e católica como a minha, estes medos intensificam-se!
Tudo bem, eu não devo explicações a ninguém, sou maior e vacinado... Mas a última coisa que quero é ver sofrer alguém de quem gosto, que amo.
Se puder evitá-lo, faço-o. E é o que tenho feito, ocultando a realidade, o que não me tem sido muito difícil pois não vivemos perto.
Não sei como costumam lidar com os vossos medos, eu não gosto de os ter à perna, e um dia destes, se tiver de ser, cai o Carmo e a Trindade!
Ou melhor, há coisas que nos mordem e magoam mas talvez o pior seja o medo das coisas, que nós achamos, que nos podem magoar. Isto será específico de pessoa para pessoa.
Nas minhas poli-relações, pelo menos nas que são "full time", surgem-me alguns receios que não estão na relação em si mas no mundo que me rodeia.
Fazendo uma introspecção e analisando as coisas que me preocupam quando vivo as minhas relações, há claramente duas coisas que se destacam. Ambas se relacionam com a maneira como as pessoas que considero próximas podem encarar esta realidade poliamorosa na minha vida. Uma está relacionada com os amigos e outra com a família "tradicional" (biológica).
Estes medos são mais óbvios nestas relações "full time", e tenho duas neste momento, o que me tem feito pensar um pouco mais neste assunto. Tenho outras pessoas que amo, e com quem tenho intimidade, mas que vejo esporadicamente e cujas relações são vivenciadas de outras formas...
Nos meus amigos receio o tratamento e a hierarquização que podem dar às pessoas que amo, às minhas relações. Já o disse antes, não tenho relações primárias ou secundárias, não faço comparações e cada uma vale por si.
Mas os meus amigos podem não o fazer! E isso, vá lá, aborrece-me...
Resumindo, temo o dia em que alguém que me seja próximo trate um dos meus amores de forma diferente baseado nestes pressupostos com os quais não me identifico.
Na minha família "tradicional" temo a não aceitação. Penso que este problema será mais transversal e alcança muitos outros tipos de relações. Mas para quem vem de uma família super-tradicional e católica como a minha, estes medos intensificam-se!
Tudo bem, eu não devo explicações a ninguém, sou maior e vacinado... Mas a última coisa que quero é ver sofrer alguém de quem gosto, que amo.
Se puder evitá-lo, faço-o. E é o que tenho feito, ocultando a realidade, o que não me tem sido muito difícil pois não vivemos perto.
Não sei como costumam lidar com os vossos medos, eu não gosto de os ter à perna, e um dia destes, se tiver de ser, cai o Carmo e a Trindade!
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
A magia de falar
Publicado por
Infidelity is as much about the drama of truth-telling as it is about the drama of sexuality. [...] The successful lie creates an unnerving freedom. [...] Lying, in other words, is not so much a way of keeping our options open, but of finding out what they are. Fear of infidelity is fear of language. - Phillips, 1996
A experiência da mentira é uma experiência traumática. A criança, ao se aperceber pela primeira vez que o acto falado não encerra em si uma predição, mas apenas uma subjectividade, é confrontada com a possibilidade de que tudo seja - ou que tudo possa ser - mentira. E, portanto, qualquer fé que pudesse ter na linguagem, qualquer esperança que a linguagem fosse transparente, óbvia, totalmente eficiente, etc..., desaparece. Não obstante, é a linguagem que usamos para pormos coisas em comum. Apesar da dificuldade que temos, fundamentalmente, em acreditar no acto de comunicar e no que daí advém, comunicamos.
Comunicamos porque não podemos deixar de o fazer, comunicamos porque é na comunicação que encontramos esse mesmo medo primordial mas também as ferramentas para o sanar, para o atenuar.
No poliamor, como na monogamia, a infidelidade existe. Mas é uma infidelidade que se centra principalmente na honestidade, e que implica a existência de comunicação frequente. Ainda assim, ambas as coisas se relacionam com a linguagem. E a liberdade perturbante que a infidelidade monógama permite, e de que fala o texto, pode perfeitamente ser substituída por uma liberdade fiel, por uma liberdade em que a honestidade pode permitir o mesmo que a infidelidade promete.
Ainda assim, resta um problema. Em relações poly, como em relações mono, a infidelidade também tem os seus atractivos linguísticos. Como a traça para a chama, o poder "mágico" da linguagem d@ infiel - o poder de fazer acreditar no que não existe - pode mesmerizá-l@. Porém, de forma diferente, a relação poliamorosa não requer (ou não é coadjuvada com) a mentira como forma de descobrir "que opções existem" - porque as opções que existem podem ser descobertas introspectivamente, relacionalmente, comunicacionalmente. Com honestidade.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Violently happy... 'cause I love you
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Há uns anos, António, o cartoonista do famoso papa com o preservativo no nariz, fez aquilo que só se faz uma vez na vida: apresentou como cartoon da semana no Expresso um desenho onde se lia "Esta semana não aconteceu nada."
Neste momento tenho vontade de fazer algo do género. Mas não é verdade que não tenha acontecido nada. Na semana que passou contei mais um ano de vida, partilhado com pessoas que a enchem de alegria. E em cada dia desta semana fiz uma nova descoberta, senti-me melhor, mais feliz e empowered.
Digo muitas vezes, em tom de brincadeira, que quem tem uma vida poly não tem tempo para mais nada. Que é uma ocupação a tempo inteiro. Nem sempre é assim. Mas esta semana foi. Por isso, perdoem-me a displicência, mas esta semana esteve a loja fechada para balanço.
Andei a poliamorar.
Neste momento tenho vontade de fazer algo do género. Mas não é verdade que não tenha acontecido nada. Na semana que passou contei mais um ano de vida, partilhado com pessoas que a enchem de alegria. E em cada dia desta semana fiz uma nova descoberta, senti-me melhor, mais feliz e empowered.
Digo muitas vezes, em tom de brincadeira, que quem tem uma vida poly não tem tempo para mais nada. Que é uma ocupação a tempo inteiro. Nem sempre é assim. Mas esta semana foi. Por isso, perdoem-me a displicência, mas esta semana esteve a loja fechada para balanço.
Andei a poliamorar.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
e agora, uma coisa completamente diferente
Publicado por
esta semana era minha intenção escrever, ou, em boa verdade, usar um texto meu de julho passado, sobre o escândalo no instituto português do sangue. estamos tod@s muito irritados com a posição de olim e as coisas que ele disse sobre as pessoas homossexuais poderem dar sangue.
entre nós que ninguém nos ouve, é claro que tod@s @s pessoas homossexuais que querem dar sangue, dão! assim como as pessoas poliamorosas, ou quaisquer outr@s... simplesmente manipulam a informação no questionário.
assim para alguém que tenha interesse, faço referência ao meu texto sobre o assunto em: andardebicla.blogspot.com
e agora, uma coisa completamente diferente
mas, depois de ler o texto da sofia no passado sábado, mudei de ideias. ela abre o coração sobre os altos e baixos da sua vida (poli)amorosa. curta, é certo, pois a sofia tem 23 anos, mas muito elucidativa. ela aborda, com honestidade, as dificuldades que este tipo de relações amorosas podem trazer, assim como fala das vantagens, que, no caso dela e d@s companheir@s, estão a dar muito bons resultados e neste momento há três pessoas a viver felizes.
no seu texto, a sofia fala neste colectivo em construção que dá pelo nome de poly portugal e do crescimento que tem tido desde a altura que o conheceu.
há umas semanas, numa acesa discussão sobre activismo em portugal, ouvi o seguinte comentário: "sim, mas vocês no poly portugal tornaram-se amigos, para além do activismo..."
é verdade!
de meia dúzia que aparecia nos primeiros encontros no linha d'água, passámos a mais de trinta na semana passada, num piquenique que durou a tarde inteira!
para muitos de nós foi um alívio saber que há um nome para esta forma de amar e que há outras pessoas que pensam da mesma maneira.
entre nós que ninguém nos ouve, é claro que tod@s @s pessoas homossexuais que querem dar sangue, dão! assim como as pessoas poliamorosas, ou quaisquer outr@s... simplesmente manipulam a informação no questionário.
assim para alguém que tenha interesse, faço referência ao meu texto sobre o assunto em: andardebicla.blogspot.com
e agora, uma coisa completamente diferente
mas, depois de ler o texto da sofia no passado sábado, mudei de ideias. ela abre o coração sobre os altos e baixos da sua vida (poli)amorosa. curta, é certo, pois a sofia tem 23 anos, mas muito elucidativa. ela aborda, com honestidade, as dificuldades que este tipo de relações amorosas podem trazer, assim como fala das vantagens, que, no caso dela e d@s companheir@s, estão a dar muito bons resultados e neste momento há três pessoas a viver felizes.
no seu texto, a sofia fala neste colectivo em construção que dá pelo nome de poly portugal e do crescimento que tem tido desde a altura que o conheceu.
há umas semanas, numa acesa discussão sobre activismo em portugal, ouvi o seguinte comentário: "sim, mas vocês no poly portugal tornaram-se amigos, para além do activismo..."
é verdade!
de meia dúzia que aparecia nos primeiros encontros no linha d'água, passámos a mais de trinta na semana passada, num piquenique que durou a tarde inteira!
para muitos de nós foi um alívio saber que há um nome para esta forma de amar e que há outras pessoas que pensam da mesma maneira.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Agitprop
Publicado por
Há quem afirme ter gaydar a ponto de produzir frases como «aquela pessoa é gay, só não sabe ainda que o é» (eu acho altamente duvidoso mas de facto a intuição é um bicho estranho). No entanto, ainda não conheci ninguém que afirme ter um poly-detector.
Ora, sem poly-detector como posso eu encontrar pessoas poly fora do círculo do PolyPortugal? Como posso eu recrutar pessoas poly sem ir para um comício gritar «My name is Miguel Viterbo and I'm here to recruit you»?
Bem, uma das minhas actividades naturais tem sido a «divulgação» poly. Mas o que me dá gozo de vez em quando é fazer a divulgação, mesmo assim, sem aspas. Ou, melhor ainda, meter-me em acções subversivas. Quem leu o livro ou viu o filme Fight Club (Clube de combate) não esquecerá nunca o poder do tumulto e da agitprop.
Faz agora um ano, fui ao casamento de um amigo meu. Ele sabe o que eu penso sobre relações afectivas e sobre o casamento. Por isso, fechou os olhos, incrédulo, mas sorriu-me quando o chefe de sala, durante o copo-d'água, distribuiu por todos os convidados, entre o primeiro e o segundo prato, panfletos de divulgação do poliamor.
E, de facto, acabou por não ser só uma blague: depois de perceberem que aquilo não estava no programa oficial (ou seja, que os noivos não tinham enlouquecido), algumas pessoas passaram mesmo o fim da tarde a falar comigo sobre o conceito.
É preciso ir espalhando a palavra, é preciso ir semeando. E está na altura de outra acção do género. O Borda d'Água é que manda: em Setembro, semear amores-perfeitos.
Ora, sem poly-detector como posso eu encontrar pessoas poly fora do círculo do PolyPortugal? Como posso eu recrutar pessoas poly sem ir para um comício gritar «My name is Miguel Viterbo and I'm here to recruit you»?
Bem, uma das minhas actividades naturais tem sido a «divulgação» poly. Mas o que me dá gozo de vez em quando é fazer a divulgação, mesmo assim, sem aspas. Ou, melhor ainda, meter-me em acções subversivas. Quem leu o livro ou viu o filme Fight Club (Clube de combate) não esquecerá nunca o poder do tumulto e da agitprop.
Faz agora um ano, fui ao casamento de um amigo meu. Ele sabe o que eu penso sobre relações afectivas e sobre o casamento. Por isso, fechou os olhos, incrédulo, mas sorriu-me quando o chefe de sala, durante o copo-d'água, distribuiu por todos os convidados, entre o primeiro e o segundo prato, panfletos de divulgação do poliamor.
E, de facto, acabou por não ser só uma blague: depois de perceberem que aquilo não estava no programa oficial (ou seja, que os noivos não tinham enlouquecido), algumas pessoas passaram mesmo o fim da tarde a falar comigo sobre o conceito.
É preciso ir espalhando a palavra, é preciso ir semeando. E está na altura de outra acção do género. O Borda d'Água é que manda: em Setembro, semear amores-perfeitos.
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