segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Encontro no fim do Mundo: os Moso

Publicado por 
Um documentário a ver, se possível: "Encontro no fim do Mundo, o povo Moso" (Eric Blavier, Thomas Lavarechy).

Na verdade não vi o documentário. Ouvi os comentários em segunda mão e desencadeei uma busca na net. Não vou escrever tudo aqui para vos deixar o prazer da descoberta e da investigação.

Os Moso são um povo que vive na China, junto ao Tibete, nas margens do lago Lughu. São 30.000 pessoas que tem visto as suas tradições bastante antigas mais ou menos preservadas.

Em poucas palavras, a sociedade Moso é matriarcal. As mulheres têm o papel predominante na sociedade e querem, podem e executam todas as tarefas. O poder e a influência passam da mãe para a filha que ela considera mais inteligente.

A mulher ao chegar à idade adulta adquire o direito de escolher amantes que recebe em casa dentro de um esquema que preserva a discrição mas que não tem nada de clandestino. As crianças que nascem destes enlaces são criadas dentro da família, às quais o pai biológico não pertence. Pares que se amam encontram-se discretamente mas em liberdade e sem compromisso. Por outras palavras, não usam do conceito de monogamia.

Não existe palavra para marido nem para pai, o que não quer dizer que os homens não participem da educação das crianças ou da sociedade em geral. Simplesmente desaparece completamente a ideia do pai biológico com direitos sobre a prole e a ideia de patriarca. Adicionalmente, parece não haver crime nesta sociedade, que não é tão pequena como isso. Ainda menos há crime passional. O ciúme é considerado uma doença infantil, que aparece muito pouco e, que ao contrário de entre nós, ocidentais, quando aparece não é encorajada.

O que vos mostro aqui não é o modelo que eu quero seguir, ou a sociedade utópica dos meus sonhos. É apenas mais um modelo dissidente daquele em que crescemos e nos habituamos a pensar que é o único possível. Quero apenas mostrar que em termos de relações, se não tentamos seguir o modelo monogâmico e patriarcal ocidental em que crescemos, há provavelmente tantas soluções como pessoas. Este é apenas um dos modelos possíveis. Não é o que eu escolheria, embora me pareça melhor do que é mainstream entre nós.
  • Link para um artigo que comenta o documentário.
  • Link para o resumo do romance "Leaving Mother Lake": para quem não quer seguir a documentação mais sociológica, está aqui um romance à volta de uma jovem Moso que deixa a sua vila para seguir uma carreira como cantora e se confronta com a cultura chinesa.
E finalmente um artigo cientifico sobre adopção e casais convencionais à luz da sociologia dos Moso.

(Escrito originalmente em 2005 este post foi uma sugestão da K., minha namorada na altura, que não se identificando como poly, quis que eu continuasse a assim viver, e me incentivou a começar projectos poly-activistas)

1 comentário:

p disse...

e, já agora, o livro de um jornalista argentino, Ricardo Coler: El reino de las mujeres (com tradução portuguesa - http://www.wook.pt/ficha/o-reino-das-mulheres/a/id/202961)
É um documento interessante sobretudo pela evolução de pensamento e mudança de perspectiva da "personagem" jornalista.