terça-feira, 15 de setembro de 2009

Quando a corrente passa e as luzes acendem

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Relembro aqui um texto da Lara (Sou todos eles... sou um polyedro), que fecha com a frase
«Uma pessoa é algo tridimensional, um poliedro com várias faces, facetas e arestas. Com possibilidades infinitas de encontrar novas formas dentro de si e em intersecção com outros.»
Sim, somos um verdadeiro poliedro. Mas um poliedro desmultiplicável. Quando acende uma luz numa das faces, quando passa corrente numa das arestas, tudo se desmultiplica como não supúnhamos antes ser possível. É o que acontece nos momentos de enorme tensão ou de enorme prazer.


Nos dias antes de o meu pai morrer, além de estar com ele e ajudar a minha mãe a tornar-lhe o fim de vida mais suportável, tive tempo para alguns dos melhores trabalhos que fiz até hoje, e para os amigos também. Certo dia, aquela rapariga «chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar»¹. Há anos que tinha optado por casar com outro. Nesse dia, deu-me um beijo. E só a seguir soube que o meu pai tinha morrido naquela noite.

No mês passado, tive uma reunião onde era suposto eu trazer uma ideia para uma peça de teatro, um one person show. Durante duas semanas não tinha chegado a ideia nenhuma. No próprio dia da reunião, porque as luzes do poliedro se acenderam em série (pelos melhores motivos!), em duas horas já tinha escrito uma ideia, parte do texto, a construção da personagem. E daí a pouco levaria para a reunião uma das ideias mais consistentes que já tive na minha vida de escrevinhador.

Aos meus amigos do Poly Portugal, a quem já viva numa relação poliamorosa e aos que estiverem agora a descobrir o poliamor, desejo que as luzes de todos os vossos vértices se acendam em combinações e ritmos diversos, nas mais variadas cores e intensidades. E que os pequenos curto-circuitos, as ocasionais lâmpadas fundidas, as possíveis desarmonias, caso surjam, sejam apenas ligeiros sobressaltos que não provoquem nenhum apagão.
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¹ Sim, eu sei que já na terça-feira passada me deu para citar a Valsinha. O que é que querem? Está tudo relacionado…

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