sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A magia de falar

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Infidelity is as much about the drama of truth-telling as it is about the drama of sexuality. [...] The successful lie creates an unnerving freedom. [...] Lying, in other words, is not so much a way of keeping our options open, but of finding out what they are. Fear of infidelity is fear of language. - Phillips, 1996

A experiência da mentira é uma experiência traumática. A criança, ao se aperceber pela primeira vez que o acto falado não encerra em si uma predição, mas apenas uma subjectividade, é confrontada com a possibilidade de que tudo seja - ou que tudo possa ser - mentira. E, portanto, qualquer fé que pudesse ter na linguagem, qualquer esperança que a linguagem fosse transparente, óbvia, totalmente eficiente, etc..., desaparece. Não obstante, é a linguagem que usamos para pormos coisas em comum. Apesar da dificuldade que temos, fundamentalmente, em acreditar no acto de comunicar e no que daí advém, comunicamos.

Comunicamos porque não podemos deixar de o fazer, comunicamos porque é na comunicação que encontramos esse mesmo medo primordial mas também as ferramentas para o sanar, para o atenuar.


No poliamor, como na monogamia, a infidelidade existe. Mas é uma infidelidade que se centra principalmente na honestidade, e que implica a existência de comunicação frequente. Ainda assim, ambas as coisas se relacionam com a linguagem. E a liberdade perturbante que a infidelidade monógama permite, e de que fala o texto, pode perfeitamente ser substituída por uma liberdade fiel, por uma liberdade em que a honestidade pode permitir o mesmo que a infidelidade promete.

Ainda assim, resta um problema. Em relações poly, como em relações mono, a infidelidade também tem os seus atractivos linguísticos. Como a traça para a chama, o poder "mágico" da linguagem d@ infiel - o poder de fazer acreditar no que não existe - pode mesmerizá-l@. Porém, de forma diferente, a relação poliamorosa não requer (ou não é coadjuvada com) a mentira como forma de descobrir "que opções existem" - porque as opções que existem podem ser descobertas introspectivamente, relacionalmente, comunicacionalmente. Com honestidade.

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