Em virtude da sua nomeação para os Óscares, fez-se acompanhar na cerimónia de um jovem que não é o pai dos seus rebentos. Obviamente, a imprensa na altura não pôde deixar de reparar no facto - e muitos poly-activistas também não, ao que parece. Mas olhe-se para a reacção de Swinton, numa entrevista ao The Independent britânico:
In fact, while Googling her, I found Swinton's name on several 'polyamory' websites, hailed as an inspiring example for the multi-partner lifestyle. Swinton takes this information with wryly exaggerated scepticism. "[its]Rrrrright[its].... Well, that's good. I'm sure there are red-headed websites that are claiming me, and people above a certain height. It's all fine," she sighs, cheerfully, "I'm friend not foe. One man's polyamory - is that the word? - is another man's being really, really good friends with the co-parent of one's children while we're both in other relationships. I don't think that's so strange. But maybe it is - and that would be really sad."
Parece que Swinton foge propositadamente à referência, aparentando não conhecer a palavra, numa tentativa de não se filiar necessariamente com algo que - possivelmente - não conhece realmente. Por outro lado, a expressão que ela usa - "claiming me" - e que se aplica tanto às notícias sobre poliamor como sobre pessoas altas, deve fazer-nos reflectir sobre um duplo problema.
- Qual é a lógica presente por detrás da referência a figuras conhecidas, famosas, para demonstrar a ideia de poliamor, e que outros efeitos pode isso ter?
- Qual é o significado de nos afirmarmos poliamorosos - ou de fugirmos a isso - no contexto da criação de identidades, tanto nossas como alheias?
Entre a lista de famosos corriqueiramente chamados a testemunhar silenciosamente está Simone de Beauvoir, com Sartre - aliás, é possível ver isso nos comentários do post que me levou a escrever este. Dessas pessoas, que de resto já estão mortas, conhecemos bastantes detalhes da vida privada, que nos fazem tomar conclusões sobre ela, conclusões que pelos próprios já não podem ser refutadas. Mas Swinton fala apenas em "ser uma grande, grande amiga" do pai dos seus filhos, enquanto que ambos têm outras relações.
Encaixa-se isto dentro do que se poderia chamar um modelo estritamente poliamoroso? Ou seja: um modelo verdadeiramente monógamo, ou de monogamia em série, iria precludir esta prática? De resto, estaria Swinton a ser eufemística ao falar com o jornal, de forma a não alimentar ainda mais boatos e rumores? Eu diria que estas perguntas, e as suas respostas, pouco interessam. Desde que é feito um determinado movimento de apropriação ("claiming"), está-se a impor uma grelha e lógica de leitura e análise que não sabemos se encontra ou alguma vez encontraria eco no alvo dessa apropriação. Não é isto suficiente para despertar o cepticismo de 'Tilda'?
Continua...