Era uma vez um casalinho muito apaixonado. Esse casalinho, na altura ainda à moda antiga com menino e menina, havia já uns anitos antes decidido que essa coisa de exclusividade não era para ele. Tudo bem. Acontece ainda que a menina do casal começou a sentir que afinal gostava era de meninas, ainda que continuasse a gostar da outra metade do casal. Ora, o menino sempre foi muito curioso e pensou, “Pá, eu gostaria de aprender mais sobre isso de meninas que gostam de meninas e de meninos ao mesmo tempo.”
Infelizmente, 0s nossos heróis não conheciam ninguém que falasse dessas coisas. Os amigos e colegas ou só gostavam do sexo oposto, ou então estavam bem no fundo do armário. Havia até uma certa hostilidade de fundo acerca de 'fufas', 'paneleiros' e 'gilettes' por entre a malta conhecida. “Hum”, pensou o menino, “o melhor é ir à net e ver o que há para aí, afinal os newsgroups já me ensinaram muita coisa.”
Isto foi em meados dos noventa, altura em que a net explodia em Portugal.
O menino depressa aterrou no soc.bi, grupo muito fofinho e cheio de informação não só útil, como divertida acerca de bissexualidade. Aí o menino viu como havia gente que era bissexual e orgulhosa disso, gente muito positiva que apoiava quem vinha com dúvidas e gente que se organizava em grupos de apoio e reivindicação. O menino também ouviu muitas histórias de discriminação não só da sociedade em geral, mas da própria comunidade homossexual, mas isso é um outro conto. E vejam lá, um dia o menino discerniu um grupinho de gente no soc.bi que também estava noutro grupo, o alt.polyamory.
Esse grupinho, com múltiplas orientações sexuais, falava de relações amorosas com mais do que dois, vividas responsavelmente. O menino resolveu visitar esse tal de alt.polyamory, porque lhe pareceu cortado à sua medida. E foi aí que viu, gravada a ouro na parede da sua vida a palavra “polyamory”. Afinal já havia uma palavra que descrevia a forma como vivia com a sua menina, e melhor ainda, havia gente que falava disso sem medo e abertamente, e que falava de outras sexualidades. A grande revelação não foi a forma de viver, que já era conhecida do casalinho, mas sim as incontáveis variações possíveis, e a diversidade dos que assim viviam, e como essa forma de vida as aproximava.
E alegre por ter um nome para o seu viver, aliviado por saber que não estava sozinho no mundo, o nosso casalinho deixou de ser à moda antiga e passou a ser de geometria variável e viveu feliz para todo o sempre.
Fim!
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