quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Uma coisa é certa: hoje durmo contigo

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O ciúme tem razões que a razão desconhece. Pessoalmente, desconheço todas as razões do ciúme porque, como costumo dizer, esqueceram-se dessa peça quando passei na linha de montagem. E não é gabarolice. Bem sei o quanto isso irrita algumas pessoas, e os problemas que esse handicap já me trouxe. Tenho tentado ao longo da vida perceber as causas, razões e manifestações de tal mecanismo, mas temo bem que nem sempre consiga.
Quando o conheci estava numa daquelas fases da minha vida em que sou mais poly de nome que outra coisa (ao contrário do que algumas pessoas pensam, ser poly não significa dormir com uma pessoa cada dia só porque se pode). Foi um daqueles episódios que nos custa a acreditar quando acontecem, porque durante anos e anos de adolescência a coisa nunca funcionou. Achar alguém interessante ao primeiro olhar, ser correspondido e vir a concretizar a atracção. Mais do que achar fascinante que isso aconteça, fico irremediavelmente presa e perdida por pessoas com quem tomei a iniciativa. Por várias razões, normalmente os homens não nos deixam tempo para dar o primeiro passo. Ou se o damos fogem, mais tarde ou mais cedo, a sete pés.
Saímos dali e fomos jantar. A única vez que jantámos a mais de um quilómetro da casa dele. Mais tarde repetiria que essa era a única condição que punha para voltar a vê-lo. Jantar a essa distância, e cinema. Nunca aconteceu.
Tivemos uma relação da qual não me orgulho, mas com a qual aprendi muito. Nesse primeiro jantar falei-lhe da pessoa com quem vivo e do tipo de relação que temos. O brilho de admiração que vi nos seus olhos foi o mesmo que já tinha visto noutras pessoas, mas conseguiu acentuar-se ainda mais quando lhe disse que sim, podia dormir com ele, aquela mesma noite se quiséssemos. Ênfase posto na palavra dormir, porque à parte do sexo fabuloso que chegámos a ter e do qual ainda hoje me fala, acho que o que ele gostava mesmo era de dormir com alguém.
E tudo correu lindamente até ao dia em que, para além do namorado de quem ele já tinha conhecimento, tive sexo com outra pessoa. Alguém que eu conhecia há anos antes de o conhecer a ele, com quem já tinha estado quase, quase, várias vezes. E com quem surgiu uma oportunidade quando surgiu. Mesmo depois de todas as acusações e duras palavras que ouvi, nunca me senti culpada. Não tinha mentido a ninguém. E ainda assim via-me, mais uma vez, metida no papel da má da fita.
Continua...

1 comentário:

Andre disse...

Lara, gostei de ler o seu post. Me identifiquei com ele, ainda que da outra margem desse rio que corre e nos cinde entre meninos e meninas. Me faltou também na linha de montagem essa peça, a do ciúme. Só depois de muitos anos que eu fui descobrir que não sei o que é ou como é sentir ciúme. A gente vai passando pela vida, aprendendo palavras novas, e associando às experiências que achamos a que se referem. Foi só depois de muitos relacionamentos que eu percebi que não tenho a menor idéia do que seja. Sei que é um sentimento ruím e doloroso, e que pode causar sofrimento. Mas, dizer que eu sei o que é sentir ciúme é como dizer que eu sei como se sente um morcego cego e que voa se orientando só pelo som.