Em termos de poliamor, de amor e intimidade, ou relações no geral, não sei o que é melhor ou pior, normal ou anormal, e isso cada vez me interessa menos. Por outro lado, saber o que é autêntico e me faz sentir viva, interessa-me cada vez mais.
É difícil escrever sobre a minha identidade afectiva. Quero, mas bloqueio. Há demasiada emoção e as palavras não conseguem corresponder. Tenho medo de ser mal compreendida, mal interpretada. Aprendi pela experiência que isso é possível, até provável, e sobretudo doloroso.
Conhecer o termo poliamor facilitou-me a vida. Antes só dizia a medo “não faço questão de ter exclusividade numa relação”, o que levava os homens a reagir com um ar interessado ("ah acho que tenho hipóteses…") e as mulheres a não me apresentarem os namorados. Agora tenho uma teoria fixe, um site para dar o link e até uma definição na Wiki. Não sou normal, mas pelo menos posso dizer “Sou poli!” com um ar convicto. A minha “esquisitice” passou a ter um nome.
Porque até aí sentia-me como se devia sentir há 50 anos o único gay de uma aldeia perdida no Texas. Sozinha. E se há coisas que não se pode fazer sozinho, há outras para as quais são precisos pelo menos três: por exemplo, ter uma relação poli.
Por isso, embora seja infantil, não consigo evitar sentir-me um bocadinho roubada. Passei quase metade da minha vida a tentar ter relações “normais” e a sentir que havia algo de errado comigo quando não funcionavam. Tentei adaptar-me até me doer a alma. Mas nunca consegui esquecer-me de quem sou, e ainda bem.
E chego a este momento da vida com a sensação de que ainda não vivi uma relação autêntica, à minha medida, onde pudesse caber toda. Ser amada por inteiro. E não é bonito olhar para uma vida, várias relações, três filhos, e perceber que estive sempre a controlar-me pelo menos um pouco para caber no quadrado. Precisei de desistir de partes de mim para ser aceite.
Faço questão de assumir-me como poli, embora seja na verdade uma “politeórica”. Os meus filhos sabem, os meus amigos sabem, e qualquer pessoa que me pergunte vai ter a resposta sincera. Faço questão. Não posso mudar o meu passado, mas posso mudar o meu presente e talvez possa ajudar alguém a aperceber-se de que há vida fora da caixa.
É por isso que fico tão feliz com este blogue e gostava que pudesse chegar ao maior número de pessoas possível. É uma espécie de reequilíbrio, poder fazer por outros o que há 30 anos ninguém pôde fazer por mim.
E embora não consiga deixar de sentir uma certa inveja benigna de quem está já a viver pacificamente com a sua “polieza” também é uma alegria ver que cada vez mais o conteúdo é mais importante que a forma. E as relações a recuperarem pouco a pouca a sua natureza imprevisível e criativa. E que cada vez mais pessoas escolhem ser autênticas e felizes em vez de ser “normais”, seja lá o que isso for….
3 comentários:
:-D
Déjà vu
:-D
Identifico-me bastante com o teu texto!
**** & { } { }
Uma forma autêntica de se manifestar e enfim dizer não a qualquer tipo de opressão.
Parabéns!
também me identifico em bastantes pontos com o teu texto.
Parabéns por não te teres esquecido de ti!
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