Há semanas que não punha as teclas neste blog, mas se começasse a explicar porquê, provavelmente teria matéria para vários posts. E não falta quem me diga que faça isso precisamente, de modo que... cá vai uma tentativa de muro de lamentações.
A nossa família poly perdeu um membro. O que nos levantou, entre outras questões, a de encontrar outra(s) pessoa(s) para poder manter a casa. Fizemos um par de "propostas de casamento", recebidas com muito entusiasmo e honra. Mas depois de alguma ponderação, a resposta de ambos os lados foi a mesma e pode ser resumida nesta frase: "Não dá, estamos à rasca".
Tenho sempre algumas dúvidas sobre fazer deste blog uma coisa demasiado política, por mais que me digam que "o pessoal é político". Mas a verdade é que a situação em que estamos todos me influencia diariamente. Não só a vontade de escrever, mas também o ânimo de ir trabalhar, a libido e a disponibilidade para cozinhar, "a paz, o pão, habitação, saúde, educação. Só há liberdade a sério quando houver liberdade de mudar e decidir."
Não é por acaso que aqui se escreve menos ou há ainda poucas pessoas nos nossos encontros, apesar da divulgação na imprensa ter sido nos últimos tempos maior e mais constante do que nunca. As pessoas andam à rasca. Isso vê-se no trânsito, na fila do banco e nos bancos das escolas. Os níveis de stress e angústia atingem uma escala que não me recordo de ver. E com os problemas diários que se acumulam e agigantam, não será surpreendente que as pessoas não tenham vontade de questionar instituições como a monogamia.
A liberdade existe na teoria, mas faltam os meios. Falta a visão a longo prazo, impossibilitada pela precariedade. Eu, como quase todas as pessoas que conheço da minha geração, sou precária e mal paga. Mas só por mais uns meses, até voltar ao desemprego.
Acredito que isto se passe um pouco por tudo o que é forum e grupo de coisas "idealistas". O tempo não está para os sonhadores, dirão alguns. E por um lado têm razão. Mas queixarmo-nos para nós próprios e para o vizinho do lado não tem nenhum resultado a não ser chatear e desanimar ambos.
A manifestação que está marcada para o próximo dia 12 também não terá grande resutado prático. O governo não vai cair. Para isso seriam precisos milhões nas ruas em vez de escassos milhares. Seria preciso acreditar que há na calha uma alternativa melhor, quando na verdade o que se deve questionar é todo o sistema político e econónimo. Mas isso leva tempo, dá trabalho. E levantar os olhos do próprio umbigo, parecendo que não... ainda faz suar um bocadinho.
Normalmente não acredito em greves que não sejam de zelo e parecem-me as manifestações uma coisa em muitos aspectos ultrapassada. E no entanto lá estarei no Sábado. Não por acreditar que a minha presença vai acabar com a crise e as injustiças. Mas por me recusar a ser espezinhada em silêncio e ainda agradecer. Vou lá estar para olhar nos olhos todas as pessoas que, como eu, estão à rasca, umas ainda mais do que outras. A geração a quem se prometeu tudo e que assiste estupefacta ao(s) rato(s) que da montanha nascem.
Se não servir para mais nada, que sirva de terapia de grupo, para dizermos uns ao outros que não estamos sós, que não desistimos e não somos estúpidos.
A nossa família poly perdeu um membro. O que nos levantou, entre outras questões, a de encontrar outra(s) pessoa(s) para poder manter a casa. Fizemos um par de "propostas de casamento", recebidas com muito entusiasmo e honra. Mas depois de alguma ponderação, a resposta de ambos os lados foi a mesma e pode ser resumida nesta frase: "Não dá, estamos à rasca".
Tenho sempre algumas dúvidas sobre fazer deste blog uma coisa demasiado política, por mais que me digam que "o pessoal é político". Mas a verdade é que a situação em que estamos todos me influencia diariamente. Não só a vontade de escrever, mas também o ânimo de ir trabalhar, a libido e a disponibilidade para cozinhar, "a paz, o pão, habitação, saúde, educação. Só há liberdade a sério quando houver liberdade de mudar e decidir."
Não é por acaso que aqui se escreve menos ou há ainda poucas pessoas nos nossos encontros, apesar da divulgação na imprensa ter sido nos últimos tempos maior e mais constante do que nunca. As pessoas andam à rasca. Isso vê-se no trânsito, na fila do banco e nos bancos das escolas. Os níveis de stress e angústia atingem uma escala que não me recordo de ver. E com os problemas diários que se acumulam e agigantam, não será surpreendente que as pessoas não tenham vontade de questionar instituições como a monogamia.
A liberdade existe na teoria, mas faltam os meios. Falta a visão a longo prazo, impossibilitada pela precariedade. Eu, como quase todas as pessoas que conheço da minha geração, sou precária e mal paga. Mas só por mais uns meses, até voltar ao desemprego.
Acredito que isto se passe um pouco por tudo o que é forum e grupo de coisas "idealistas". O tempo não está para os sonhadores, dirão alguns. E por um lado têm razão. Mas queixarmo-nos para nós próprios e para o vizinho do lado não tem nenhum resultado a não ser chatear e desanimar ambos.
A manifestação que está marcada para o próximo dia 12 também não terá grande resutado prático. O governo não vai cair. Para isso seriam precisos milhões nas ruas em vez de escassos milhares. Seria preciso acreditar que há na calha uma alternativa melhor, quando na verdade o que se deve questionar é todo o sistema político e econónimo. Mas isso leva tempo, dá trabalho. E levantar os olhos do próprio umbigo, parecendo que não... ainda faz suar um bocadinho.
Normalmente não acredito em greves que não sejam de zelo e parecem-me as manifestações uma coisa em muitos aspectos ultrapassada. E no entanto lá estarei no Sábado. Não por acreditar que a minha presença vai acabar com a crise e as injustiças. Mas por me recusar a ser espezinhada em silêncio e ainda agradecer. Vou lá estar para olhar nos olhos todas as pessoas que, como eu, estão à rasca, umas ainda mais do que outras. A geração a quem se prometeu tudo e que assiste estupefacta ao(s) rato(s) que da montanha nascem.
Se não servir para mais nada, que sirva de terapia de grupo, para dizermos uns ao outros que não estamos sós, que não desistimos e não somos estúpidos.
5 comentários:
Mais vale escrever pouco e bem... Grande posta!
Este blog já é político de uma ponta à outra desde que nasceu.
Excelente post, e bem vinda de volta!
Aproveito para desejar boa sorte e melhores dias a todos aqueles que se encontram 'à rasca', que não pertencem a só uma, mas a muitas gerações.
E por falar em famílias poly, ainda não olhei bem para questionário dos Censos 2011 mas deve dar pano para mangas.
E não é que caiu?
Por acaso não acho que caiu: atirou-se estrategicamente e tinha um colchão fofinho à espera. o governo fingiu que caiu para se reforçar. o povo saiu à rua dia 12 mas inconsequentemente. Se as pessoas que saíram à rua dia 12 quisessem que o governo caísse, por que não voltaram à rua, para celebrar, quando o governo "caiu"? Já está tudo com o rabo entre as pernas e com a cabeça enfiada na areia (não é nada comigo, não é nada comigo!) a pensar votar outra vez no sócrates, com medo de um pior passos coelho. E assim votar PS passou a ser "voto útil". Como se não houvesse alternativa.
As pessoas não estão suficientemente informadas para poderem tomar o poder. Ép or isso que precisamos primeiro de muita educação contra-corrente, de uma revolução cultural, de um 1º de maio renovado para depois podermos ter outro 25 de abril...
dito isto, eu procuro sair à rua (literal ou metaforicamente) todos os dias, em todas as lutas, preparada para assumir as consequências.
A quem o dizes... Passei três dias a lutar por justiça nas reuniões de avaliação da escola, enquanto me tentavam explicar porque é que posso ou não posso dar negativas, e em que alturas do ano. Claro que ninguém me perguntou o que fiz para ajudar a levantar os que passaram a positiva. E a razão de algumas pessoas para não defender o mesmo que eu tinha algo de "coitadinhos dos meninos" e muito de "não vamos arranjar confusão com a direção". Como diriam os outros, "a luta cansa, pá!".
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