Vou apenas resumir, brevemente, a análise que o Pepper Mint faz do ciúme como mecanismo de poder. Aqui, o ciúme será entendido como estando dentro de uma relação romântica. Abstractamente, o ciúme envolve três aspectos diferentes: os sentimentos de uma pessoa face às acções dx sua/seu parceirx, essas mesmas acções, e uma terceira pessoa, vista como rival.
O ciúme pode ser reclamado pela pessoa que o sente como forma de tentar controlar as acções dx parceirx.
O ciúme pode servir como arma de acusação pela outra pessoa envolvida na relação romântica.
O ciúme pode ser suscitado especificamente (ou tentar-se fazer isso) para tentar obter uma determinada reacção da pessoa a quem se está a tentar provocar ciúme.
Dentro da não-monogamia, o ciúme perde a sua faceta positiva, incontornável ou essencialista, e criam-se várias estratégias para lidar com ele:
- O ciúme pode ser categoricamente negado ou evitado.
- O ciúme pode ser deslegitimizado.
- O ciúme pode ser desprogramado.
- O ciúme pode ser gerido.
- O ciúme pode ser amainado através da criação de regras.
- O ciúme pode ser desconstruído.
- A responsabilidade por lidar com o ciúme passa para a pessoa que o sente.
- O ciúme pode ser erotizado para servir de apoio à não-monogamia (por exemplo, em contexto BDSM ou swing).
Através de uma ou mais destas técnicas, tenta-se subverter ou resistir ao dispositivo do ciúme.
Fonte directa:
Mint, Pepper (2009). The Power Mechanisms of Jealousy. In Understanding Non-Monogamies (Meg Barker & Darren Langdridge, Eds.), pp. 201-206. New York: Routledge.
5 comentários:
Olá,
Estive a ler um artigo sobre uma neurocientista italiana (não me lembro o nome da dita cuja), em que defende a impossibilidade de amar sem sentir ciúme.
Será?
Qual, a tua opinião?
Tchau
Olá António,
Gostaria de ler esse artigo, mas à partida não me parece minimamente realista, até porque não é possível fazer semelhante estudo (ou retirar tais conclusões) sem uma amostra global, o que faria desse projecto, algo totalmente bilionário.
Por outro lado, vários autores defendem que o ciúme, como tal, nem sequer existe realmente. Que é apenas a conjunção de várias sensações e sentimentos diferentes, e que quando se fala de "ciúme", a maior parte das pessoas estão a falar de coisas relativamente diferentes, mas com a ilusão de que estão todas a falar do mesmo...
Além disso, as nossas experiências e cultura também influenciam a nossa neurologia...
Abraço
Daniel
Olá Daniel
Eu não sabia onde andava o recorte. Mas já o encontrei. Assim que puder, envio-te a referência, até porque a dita cuja escreveu um livro sobre o assunto.
Concordo contigo e acrescentava que o ciúme (seja lá o que for) não surge apenas, creio eu, em relações amorosas, mas também em amizades e entre membros de espécies diferentes.
Logo, pela lógica, se é possível haver ciúme sem amor, então, não será o amor a causar o ciúme, mas outro ou outros factores que também estão presentes numa relação amorosa...
Tchau e obrigado.
Sim, de facto. Se pensarmos em amizade como amor, não muda grande coisa. Precisamente porque o ciúme, parece-me, tem uma raiz fundamentalmente social, e não é estritamente necessário ou demonstrativo de amor.
O texto (entrevista de meia página) saíu na revista Visão de 10-6-2010.
A Senhora chama-se Donatella Marazziti, psiquiatra especializada em bioquímica e investigadora na área da biologia dos afectos.
O livro: "E viveram felizes e ciumentos para sempre", da editora Guerra e Paz.
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