sábado, 11 de setembro de 2010

Teoria da manipulação afectiva (1)

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Antes de mais, todos nós, de uma maneira ou de outra já tentámos manipular. A um nível suave, a manipulação é omnipresente aos relacionamentos afectivos. No entanto, ela significa uma desigualdade podendo levar à subjugação e opressão, à sensação de sufoco, e à perda de auto-estima.
É preciso compreender como se manipula para que eficazmente sejamos capazes de reconhecer e evitar a manipulação qualquer que seja o lado em que nos colocamos.

Numa relação afectiva, o elemento manipulador é aquele que assegura a satisfação das suas vontades e dos seus interesses em detrimento dos do(s) outro(s) com quem se relaciona. Propositadamente ou por não os tomar em consideração, trata-se de um 'atalho' para atingir um fim. Distingue-se da influência, sendo esta um processo de persuasão bona fide.

A Chantagem
A manipulação baseia-se frequentemente numa assimetria que permite alguma forma de chantagem. Essa assimetria é frequentemente o quanto cada um está disposto a perder. Muitas vezes alude-se (ameaça-se indirectamente) a perda do amor, carinho, atenção ou desejo, obrigando o outro a equacionar o ceder perante uma coisa que face ao que pode perder é menor.
Sendo que é comum que esse expediente se torne repetitivo, podendo criar uma situação opressiva, porque cedendo uma vez torna-se mais difícil não voltar a ceder. Sendo esta a vulnerabilidade mais explorada em termos de manipulação afectiva, a dependência emocional.
No entanto, existem outras menos óbvias como o excesso de zelo.
Esta característica da personalidade é facilmente manipulável criando uma armadilha de culpa. Uma forma de intimidação que se baseia na sugestão de que a vítima não se preocupa ou cuida o suficiente, é egoísta ou tem a vida facilitada. Tem como resultado a vítima sentir-se mal consigo própria, criando ansiedade e pondo-a numa posição submissa.
Associado à irritabilidade, o excesso de zelo torna-se ainda mais facilmente manipulável com pouco esforço por parte do elemento manipulador. O importunar constante e/ou em momentos críticos resultará numa resposta menos reflectida e mais brusca, seguida de um sentimento de culpa e ansiedade.
(continua no próximo sábado: Teoria da Manipulação Afectiva 2)

5 comentários:

Marquesa do Sado disse...

O "excesso de zelo" tem por função criar dependência na vítima incauta. Sussurra: "És incapaz" e "Precisas de mim". Mal posso esperar pela 2ª parte!

Pedro Luis disse...

Nota: O 'Excesso de zelo', provavelmente não a melhor expressão, a que me refiro, é a auto-consciencialização(?) (self-consciousness), ou seja, a insegurança contínua de se estar a agir correctamente, o medo de desagradar o outro.

Marquesa do Sado disse...

A tua ideia sugere-me duas coisas, sendo que a primeira está indirectamente relacionada.

1.Tenho verificado várias vezes que pessoas com elevada dose de insegurança tendem a desenvolver-se mais, se acompanhadas de certa estrutura básica (que nem sempre há). A possibilidade de pôr-nos em causa, exigindo o melhor de nós mesmos, está na base de certa ideia de excelência adquirida com o tempo. Por outro lado, pessoas sentadas no conforto da sua identidade nem sempre têm o combustível para expandir os seus limites, porque lhes falta a simples noção dos mesmos. (Isto refiro apenas para tirar uma ideia construtiva sobre "insegurança", que me parece útil a pessoas que padeçam dela.)

2- Outra coisa: Tu falas em "assimetria" e naquilo que cada um está disposto a perder. Eu tenho algum cuidado no que toca aos manipuladores em ver o que é que no fundo pretendem. Também tenho verificado (e falamos apenas de relações afectivas e não comerciais, etc), que os manipuladores têm um medo enorme de perder a pessoa a quem manipulam. Não é tanto uma questão de "poder/autoritarismo" que está na base, senão o mesmo problema de auto-estima e uma estratégia diferente de lidar com ele. Algo como: "Eu culpo-me" estaria num dos lados, enquanto no outro "Eu culpo-te (e enfraqueço-te o suficiente para que não me fujas, porque preciso de ti, mas não te quero expor a minha vulnerabilidade".

É um jogo muito subtil, penso e muito interessante. Claro que no centro temos, mais uma vez (Ó coincidência!), a questão da "necessidade"...

"Empowerment" para uns, conforto na sua fragilidade para outros e deixávamos estas confusões e a ilusão infantil de segurança que nos dão. Eu penso que os manipuladores não são piores pessoas. Como os vejo, são pobres crianças abandonadas com medo do escuro... Taditos, fazem o que podem para sobreviver neste mundo inóspito e cruel! Deviam era cuidar mais de si mesmos, prantos...

António Lopes disse...

Gostar de algo ou de alguém, torna-nos dependentes e o que nos pode "salvar", creio eu, será a nossa capacidade de não precisar desse algo ou alguém!
:-)

Marquesa do Sado disse...

António, sei perfeitamente a que te referes, muito embora eu goste de salientar que dependermos uns dos outros é coisa que nos define e que, em moldes adequados, é libertador e magnífico: uma rede de colaboradores e não de doentes aditivos, incapazes de sobreviver per si, mas que dando-se uns aos outros vivem muito melhor. Quem recebe não tem de pedir e muito menos de manipular. :)