Falemos do que não vem nos livros de História, nem nos tratados de Antropologia ou Sociologia.
Tive um fim-de-semana doce e surpreendente, porque sim, conheci alguém e basicamente entrámos em reclusão voluntária, confidências erráticas e compulsivas, além do habitual esquecimento do que sejam horários, fome ou sono.
No meio de toda esta verborreia falámos de tudo o que não vem nos livros de História. Por exemplo, contei-lhe que o que eu me lembro do 25 de Abril são murais pintados, são soldados barbudos a gingar por Lisboa em fardas muito amarrotadas, e uma despensa a abarrotar de conservas (pelos vistos muita gente resolveu açambarcar o supermercado). Ela contou-me que o que se lembra dos dias após a queda do muro de Berlim são cascas de banana. Sim, cascas de banana. Pelos vistos havia uma procura enorme por bananas por pessoas que vinham de todos os Ostländer de comboio a Berlim de propósito comprar bananas (E tampões também, pelos vistos). E que os comerciantes obviamente exploraram isso, e que a situação atingiu extremos de haver contentores de lixo a abarrotar só de cascas de banana.
No meio disto pus-me a pensar quais é que são as cascas de banana ou os soldados barbudos do poliamor. O poliamor tem sido estudado, documentado, filmado, gozado, assumido, denegrido, mas sempre documentado ou descrito. Há 7 anos, eu ainda tinha que explicar o que era o poliamor na maior parte das vezes. Hoje em dia, não sei se por via do activismo, ou se por via da cidade especial em que vivo e das "cenas" em que me movo, não conheço ninguém que não saiba o que é o poliamor. Tenho nostalgia do tempo em que não havia um hype poly, e em que poly ainda não significava "vou fazer o que me apetece e os outros que se fecundem".
De modo que a minha pergunta, para mim própria e a vocês, é, quais é que são para vocês as cascas de banana do poliamor?
8 comentários:
Tens graça. Realmente é escorregadio... Rapidamente se percebe que não se trata nada de fazer o que te apetece. Isto levanta toda a verdade da tua capacidade de amar. A banana é essa. As pessoas querem autenticidade. Se isso começar por ser trendy, tudo bem. Depois fica quem quer e quem pode ficar.
Authenticity is the new fidelity. :D
Diria que é bonito, mas autenticidade sozinha nao chega.
Autenticidade e dedicação.
Pois não chega, e não há formula ou conjunto bonito de palavras, cheias de significado e profundidade, que resolva os males das relações se não encontramos nelas aquilo que procuramos/necessitamos.
Pedro, eu não sou de palavras bonitas, ok?
Posso não ter entendido bem, mas fizeste-me lembrar o meu amigo Nuno, que é um querido e eu adoro-o e é uma pessoa extraordinariamente afectiva, mas não consegue apaixonar-se por ninguém. Então a tendência dele é um pouco a que refere Antidote: faz o que quer, os outros que se fecundem, porque ninguém realmente lhe interessa. Cada vez que falo com ele queixa-se de sentir-se só, mas a verdade é que não consegue parar em alguém o tempo suficiente para prestar-lhe atenção. Então, tudo é superficial, repetitivo e monótono. Eu acho aquilo doloroso. E não posso acreditar que ele não conheça pessoas interessantes. Ele não dorme, sabes? Para ele a vida parece um comboio. E as pessoas são um bocado assim: sempre a aviar. Parece aquela coisa do "só estou bem onde não estou". Parece que há sempre algo melhor para chegar, então não se pára em ninguém. O problema é que as coisas precisam de tempo para se formarem. E o Nuno, mal está na coisa já tem a cabeça noutro lugar. Então, onde não há tempo, não há construção. Pode haver beleza?
"Dedicação" não é uma "palavra bonita". É uma palavra prática e eficiente, que resolve coisas. Tudo aquilo a que nos dedicamos geralmente dá resultados: as plantas, o trabalho... Porque raio achamos que o afecto é diferente? Será que estamos à espera de que as coisas apareçam magicamente feitas? Eu acho que o Nuno está. E enquanto espera por isso não tem o que quer. E queixa-se. E eu fico a olhar para ele, incrédula.
Ter muita gente à volta e não ter ninguém - eu acho que isto PODE acontecer neste universo poly, se não falarmos mais de "dedicação".
Beijinho.
Falava em termos gerais não directamente das tuas palavras ou da palavra dedicação. E dizia que o que interessa no fundo é encontrar o que se procura. A dedicação pode ajudar, e autenticidade também e outras palavras idem, mas se não se encontra o que se busca está tudo estragado.
Olá Marquesa :-)
"...Ter muita gente à volta e não ter ninguém - eu acho que isto PODE acontecer neste universo poly, se não falarmos mais de "dedicação"...."
Quem foi que disse "sozinho no meio da multidão?"
:-)
Creio que aquilo que os poli ou os mono querem numa relação é basicamente a mesma coisa.
A diferença (pequena?) é que uns exigem exlcusividade e outros não! :-D
Agora, se a pessoa nem sabe o que quer ou se quer algo "perfeito", então, como disse o Pedro, "tá tudo estragado" :-D
E, dando a minha opinião sobre a pergunta em debate, não sei se as cascas de banana do Poliamor, serão assim tão diferentes das do "monoamor".
:-D
bjs
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