sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Saltitando entre o sexo e o amor

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Mostraram-me, há uns dias, um texto que queria partilhar convosco, uma pequena coluna de opinião no i, de Francesco Alberoni.

Nomeadamente, as várias e até perigosas ideias que lá se encontram, de forma mais ou menos disfarçada, e que correspondem a um ideal relacional e a uma lógica que se pode considerar, em última instância, sex-negative, hetero-centrista e até discriminatória.

Entre retoques editoriais e a opinião em si, o título começa por ser, por si mesmo, perigoso: “O amor é um risco, o sexo não”. É claro que, mais tarde, percebemos que isto se pretende referir ao aspecto psico-social da questão. Mas, hoje em dia, será que queremos dizer realmente que o sexo não é um risco? Será que podemos generalizar assim tanto?

Alberoni segue dizendo que, no século XIX, se escondia e proibia o sexo, mas se falava e escrevia sobre amor sem quaisquer limites. Corrijam-me se estou errado, mas este livro, ex libris de toda uma corrente literária, parece negar essa ideia. Ou então as contradições presentes durante a era Vitoriana, se preferirem. Ou até mesmo a extensa análise que Foucault faz da questão.

Mas passemos adiante. O adiante são umas linhas abaixo – os jovens “que aos trinta anos” “não encontraram a pessoa certa”.

E o perigo da sexualidade vinha, segundo o autor, do “risco de uma maternidade indesejada”. O que, suponho eu, deixaria de lado a população que seja estritamente homossexual, no que toca a esta análise, fornecendo portanto para o autor um excelente contraponto. Mas ultrapassado esse risco, então... olha, agora já não há grande insegurança!

E, seguindo a lógica freudiana, tal como a histeria era a substituição do desejo sexual proibido, também agora as discotecas, “falta de regras das raves” e as drogas são o substituto do amor apaixonado reprimido. Ah, e não esquecer, “a anulação da pessoa nas festas e orgias”! Para contrariar esta anulação da pessoa, o texto incita-nos a tomar um risco: ironicamente, o risco de “abandonarmo-nos ao amor”. Parece que, afinal de contas, fazemos o mesmo por outros meios.

Por fim, o sexo que se torna fácil “depois de dissociado do amor” (alguém devia receitar isto, ao invés de Viagra!) constitui, com outras coisas – psicofármacos, neste caso – um empobrecimento da humanidade. Porque “o amor é um risco” – e aqui, fala-se explicitamente do amor apaixonado – mas quem não o corre não vive. Até porque se corre também o risco que desapareça o “amor exclusivo”!

O que dizer? A pessoa certa. A desumanização quando o sexo é tomado como um valor positivo em si mesmo. A fusão disso com o consumo de drogas e outros comportamentos. A ideia de que a pessoa, sozinha, é menos alguma coisa, que só vive quando ama romanticamente. E, para fechar, o temor pelo desaparecimento do “amor exclusivo”. Leia-se “do amor que exclui”. Que deixa de fora. Que afasta.

Porquê?

(Desde já, perdões pelo áudio manhoso. A letra da música.)

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