Há pouco tempo, a minha vida levou uma sacudidela. Durante dois anos, tinha estado envolvida numa relação semi-poly — «semi» porque, se bem que o meu marido conhecesse e aprovasse a minha relação com o David, nenhum deles tinha qualquer outra relação além de mim. O David, divorciado há pouco tempo, falava muitas vezes comigo sobre o que poderia acontecer se ele conhecesse outra pessoa. Convenceu-me de que era mais naturalmente poly do que eu — mais capaz de amar várias pessoas em simultâneo — e que havíamos de encontrar uma forma de lidar com isso. E eu acreditei.
O David vivia do outro lado do mundo mas usávamos constantemente o Skype e o email, e eu tinha a sensação de que ele estava sempre comigo, mesmo que não estivesse fisicamente presente. Encontrámo-nos três ou quatro vezes por ano para fazer caminhadas na natureza ou passear por cidades europeias. Isto para mim era um equilíbrio feliz. Para ele nem tanto, porque havia grandes períodos de solidão pelo meio.
Era inevitável, assim, que ele encontrasse outra pessoa. Este Verão, durante uma caminhada na Noruega, cruzou-se com uma mulher, também divorciada. Em menos de um mês, arranjaram maneira de passar uma semana juntos na Grécia. O David estava decidido a falar-lhe aí da nossa relação, na esperança de que ela concordasse em ser poly também. Estávamos ambos iludidos, é claro: as pessoas poly são ainda muito raras.
Foi no Facebook que descobri que ele tinha mudado o «estado civil». No dia seguinte, recebi um email a explicar-me que teve de escolher entre mim e ela — um amor ocasional, ou um amor com compromisso e vida em comum. Escolheu-a a ela, como seria de prever. Ela não gostou muito da ideia do poliamor e disse-lhe que eu e ele poderíamos ser amigos mas «sem amor, sem paixão».
Gostava de saber se há outros polys que tenham passado por uma situação semelhante: uma relação cujo equilíbrio tenha mudado do dia para a noite sem ser por escolha própria. Nada disto é surpreendente, evidentemente. Primeiro, eu não estava numa relação verdadeiramente poly, nem ele — não havia compromissos, nem regras específicas. Além disso, tentando ver do ponto de vista da nova companheira do David, qual é a mulher que embarca num casamento sabendo que há «outra»? O David e eu, de resto, nunca tínhamos feito promessas um ao outro. Ele nunca me pedia para eu passar mais tempo com ele, e eu nunca o convidei a vir a minha casa.
O que me deixou desfeita foi a parte do «sem amor, sem paixão». Quem é que tem o direito de dizer a alguém por quem pode ou não apaixonar-se, quem pode ou não amar, com quem pode ou não ter uma relação íntima? Renunciar a um parceiro sexual é uma coisa, mas ser impedido de amar alguém parece-me de uma proporção tal que nem eu nem o meu marido alguma vez pensaríamos impor a alguém, e muito menos aceitar.
O David teve de escolher e escolheu-a a ela, numa relação monogâmica, não-poly, comigo em fundo como grande amiga mas não mais do que isso.
Não tenho a certeza como vou aguentar esta passagem de amante poly para amiga. O David parece ter lidado bem com a situação. Com o tempo, talvez eu consiga também. E não tenho dúvidas de que quero conseguir.
O David vivia do outro lado do mundo mas usávamos constantemente o Skype e o email, e eu tinha a sensação de que ele estava sempre comigo, mesmo que não estivesse fisicamente presente. Encontrámo-nos três ou quatro vezes por ano para fazer caminhadas na natureza ou passear por cidades europeias. Isto para mim era um equilíbrio feliz. Para ele nem tanto, porque havia grandes períodos de solidão pelo meio.
Era inevitável, assim, que ele encontrasse outra pessoa. Este Verão, durante uma caminhada na Noruega, cruzou-se com uma mulher, também divorciada. Em menos de um mês, arranjaram maneira de passar uma semana juntos na Grécia. O David estava decidido a falar-lhe aí da nossa relação, na esperança de que ela concordasse em ser poly também. Estávamos ambos iludidos, é claro: as pessoas poly são ainda muito raras.
Foi no Facebook que descobri que ele tinha mudado o «estado civil». No dia seguinte, recebi um email a explicar-me que teve de escolher entre mim e ela — um amor ocasional, ou um amor com compromisso e vida em comum. Escolheu-a a ela, como seria de prever. Ela não gostou muito da ideia do poliamor e disse-lhe que eu e ele poderíamos ser amigos mas «sem amor, sem paixão».
Gostava de saber se há outros polys que tenham passado por uma situação semelhante: uma relação cujo equilíbrio tenha mudado do dia para a noite sem ser por escolha própria. Nada disto é surpreendente, evidentemente. Primeiro, eu não estava numa relação verdadeiramente poly, nem ele — não havia compromissos, nem regras específicas. Além disso, tentando ver do ponto de vista da nova companheira do David, qual é a mulher que embarca num casamento sabendo que há «outra»? O David e eu, de resto, nunca tínhamos feito promessas um ao outro. Ele nunca me pedia para eu passar mais tempo com ele, e eu nunca o convidei a vir a minha casa.
O que me deixou desfeita foi a parte do «sem amor, sem paixão». Quem é que tem o direito de dizer a alguém por quem pode ou não apaixonar-se, quem pode ou não amar, com quem pode ou não ter uma relação íntima? Renunciar a um parceiro sexual é uma coisa, mas ser impedido de amar alguém parece-me de uma proporção tal que nem eu nem o meu marido alguma vez pensaríamos impor a alguém, e muito menos aceitar.
O David teve de escolher e escolheu-a a ela, numa relação monogâmica, não-poly, comigo em fundo como grande amiga mas não mais do que isso.
Não tenho a certeza como vou aguentar esta passagem de amante poly para amiga. O David parece ter lidado bem com a situação. Com o tempo, talvez eu consiga também. E não tenho dúvidas de que quero conseguir.
Scarlet Choche
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