Em tempos, a minha amiga Maria João Cruz e eu resolvemos usar as nossas competências de escrita num projecto que nos poderia fazer ganhar bastante dinheiro: letras para música pimba. Decidimos assinar Lena & Macário (seríamos, assim, os Lennon / McCartney do mundo pimba tuga) e começámos a escrever para esse universo.
Rapidamente verificámos que o pimba não é para todos, e para escrevermos pérolas de javardice sobre gajas boas intercaladas com romance xaroposo ainda precisávamos de comer muita papa de milho com Bisolvon.
Na sequência deste projecto surgiu-me, entre outras coisas, o seguinte, que acabou por ser uma espécie de hino em defesa da liberdade e diversidade sexual e emocional, e que deixo aqui para a posteridade electrónica:
Rapidamente verificámos que o pimba não é para todos, e para escrevermos pérolas de javardice sobre gajas boas intercaladas com romance xaroposo ainda precisávamos de comer muita papa de milho com Bisolvon.
Na sequência deste projecto surgiu-me, entre outras coisas, o seguinte, que acabou por ser uma espécie de hino em defesa da liberdade e diversidade sexual e emocional, e que deixo aqui para a posteridade electrónica:
ANTES QUE ACABE
(É LÁ COM ELES)
Já conheci quem gostasse de quem gosta | que não gostem muito delas. | Já conheci quem se sentisse disposta | a três paixões paralelas.
Ele há de tudo | e muito mais: | histórias de amor, não há duas mesmo iguais.
E, vai-se a ver, é de noite que há de tudo. | Chego ao balcão, ponho-me à escuta. | Entra cerveja, sai desabafo. | Do macho-puta | à fêmea Safo, | é de noite que eu os ouço, | porque é de noite que se vê o fundo ao poço.
E está na hora de falar do Serafim – | o que é amante da mulher do Zé Cerqueira –, | que, em noite de bebedeira, | soltou-se e disse-me assim:
Eu quero viver a vida com uma mosquinha morta | que não me coloque entraves a casar atrás da porta.
E é lá com ele, | ele é que sabe. | O amor, é bom que comece antes que acabe.
E, já agora, vou falar também da Alice – | a minha amiga que vivia com a Joana –, | que, em noite de carraspana, | se abriu comigo e me disse:
O que eu quero é conhecer um ilustre desconhecido | que faça de mim um homem e queira ser meu marido.
E é lá com ela, | ela é que sabe. | O amor, é bom que comece antes que acabe.
E, sem demora, vou falar do Evaristo – | o meio-irmão da meia-irmã da Catarina –, | que, uma noite de cardina, | abriu a guelra e vai disto:
Eu quero ser um casal e viver uma vida a dois, | nos bons e nos maus momentos, sozinho com os meus botões.
E é lá com ele, | ele é que sabe. | O amor, é bom que comece antes que acabe.
Vamos embora, que eu quero é falar da São – | a namorada temporária do Pitosga –, | que, em noite de grande tosga, | vomitou a confissão:
Eu quero ser solitária e passar a vida em festas; | afagar-me a noite inteira e depois dormir a sesta.
E é lá com ela, | ela é que sabe. | O amor, é bom que comece antes que acabe.
Julgo que agora vou falar do Zé Gaspar – | a maior esponja que eu conheço assim de perto –, | que, em noite de bar aberto, | conseguiu filosofar:
Eu quero ter quem me aqueça como um cobertor de lã, | e já estou a ficar maluco por uma linda astracã.
E é lá com ele, | ele é que sabe. | O amor, é bom que comece antes que acabe.
E vai-se a ver, é de noite que eu os ouço, | porque é de noite que se vê o fundo ao poço.
E o Serafim? | É lá com ele. | E então a Alice? | É lá com ela. | E o Zé Gaspar? | É lá com ele, | ele lá sabe. | O amor, é bom que comece antes que acabe. | O amor, é bom que comece antes que acabe. |
O amor, é bom que comece antes que acabe.
3 comentários:
Gostei, sim senhores!
Estava à espera que houvesse mais criações literárias. Falta aqui prosa a contrabalançar =)
Sei que não temos em Portugal nenhum Henry Miller ou um Bukowski (quer dizer, tínhamos o Luiz Pacheco, mas esse já pendia muito para a 'pedo-poligamia'...), mas deve haver aí (blog) malta com talento, nem que seja só para umas pinceladas a brincar - não sairia nada pior do que aquilo que sai parido todos os dias dos nossos cronistas do CM.
Não me ofereço porque domino mal o assunto. Mas gostei de ter encontrado este vosso blog: afinal há mais gente - e mais próxima de mim do que o que eu julgava - com as mesmas interrogações na cabeça que me têm intrigado (o amor confinado a caras-metades, almas-gémias, e o diabo a 7(neste caso a 2), sempre me pareceu uma visão muito redutora). Aqui já tenho com que me entreter,vou explorando as vossas maluqueiras =) (deixará de ser maluqueira no dia em que o Papa perfilhar estes modos de vida)
Obrigado, João, espero que continues a explorar.
Há aqui gente mais próxima de ti do que julgavas? Agora fiquei com curiosidade. Se clicares no nome com que assino (ShortOkapi) tens acesso ao meu perfil completo, com nome e tudo, e é fácil encontrares o meu contacto. Apita, que eu gostava mesmo de saber quem és, se por acaso te conheço. :)
ShortOkapi:
"Há aqui gente mais próxima de ti do que julgavas? Agora fiquei com curiosidade."
O que eu quis dizer (talvez me tenha explicado mal) foi que depois de alguma pesquisa fiquei sabendo que afinal não sou a única pessoa a pôr em causa a monogamia. Não fazia ideia de que havia os polyamories e outros movimentos que tais [tal é a minha ignorância... mas como só tenho 21 anos, acho que é perdoável ;)] que propõem/defendem alternativas à velha convenção monogâmica. E até há movimentos (vocês, por ex.) desses cá em Portugal - mais próximo do que eu imaginava, lá está.
É pouco provável que a gente se conheça.
mas tenho todo o gosto em conhecer malta nova, ainda pra mais malta com estas ideias avançadas e progressistas ;)
joao.f.medeiros@gmail.com
cump.
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