sábado, 29 de agosto de 2009

Reminiscências

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Tenho 23 jovens aninhos, o que faz de mim um dos mais novos membros do grupo. Descobri o poliamor quando tinha 18 anos, na minha primeira relação, que se mantém ainda hoje. Já tinha lido o famoso Um Estranho numa Terra Estranha, de Heinlein, mas não me tinha feito nenhum clique – vi tudo aquilo como normal, talvez porque fui criada de uma forma que me habituou a respeitar as escolhas de vida dos outros.

Foto por Sofia Duarte

Quando me apaixonei, foi uma história algo caricata, e na primeira conversa um/@ d@s actuais companheir@s fez questão de me deixar bem claro que era poliamoros@ – muito embora nenhum de nós conhecesse na altura a palavra. Não me “assustei”, mas confesso que fiquei espantada – afinal, era realmente a primeira conversa, nunca tínhamos trocado sequer um casual bom dia.

Quando, cerca de um mês depois, começámos a nossa relação, nunca me passou pela cabeça outra coisa que não fosse respeitar aquilo que el@ tinha tido o cuidado de me informar logo desde o início. Quem era eu, afinal, para tentar alterar a forma de viver del@? Resolvi experimentar. A teoria fazia sentido para mim, embora soubesse que só quando tomasse contacto com a prática ia perceber realmente se conseguia ou não viver assim.

Cerca de cinco meses depois, tive o primeiro contacto com a realidade. Não foi um contacto agradável – houve erros de parte a parte, a pessoa não era a mais indicada e não soube expressar de forma clara aquilo queria, de tal forma que só anos depois conseguimos perceber realmente as suas intenções na altura.

Foi duro. Não foi fácil, e eu chorei, e pensei em desistir. Parecia demasiado difícil viver aquilo, e não me sentia apoiada. Mas amava-@ verdadeiramente, e por isso lutei. Acabei por ter momentos menos inteligentes, tanto aí como em outras relações ao longo do tempo em que se repetiram os mesmos erros. Desesperei várias vezes, pensando que não sabia se ia conseguir viver com tanta hipocrisia, com tanta falsidade.

Entretanto, conhecemos a palavra poliamor, conhecemos o grupo Poly Portugal, e crescemos. E, há pouco mais de um ano, surgiu uma nova pessoa. Com ela tudo foi, finalmente, senão fácil, pelo menos claro e límpido. Honestidade, finalmente. Respirei fundo, e foi mais fácil vivê-lo – embora continuasse a ter as minhas inseguranças, pelo menos sabia realmente com o que estava a lidar. El@ tornou-se não só fuck buddy del@, mas também amig@ do coração. E isso foi bom.

O tempo foi passando, e amb@s nos apaixonámos. Pela mesma mulher. Que também se apaixonou por nós. E agora somos três, o que faz de mim, segundo a minha irmã, alguém “muito à frente”. E somos felizes assim. Ainda não tivemos problemas, mas havemos de ter, claro. Não vivemos nenhum conto de fadas.

E pronto, esta é a minha história. A história de alguém que nunca teve uma relação monógama, embora nunca tivesse imaginado ter uma relação que não o fosse.
Texto da autoria de Sophia

11 comentários:

antidote disse...

Tenho de agradecer a vossa generosidade em partiilhar uma história tao pessoal, e salientar a vossa coragem em faze-lo. bisses...

Daniel Cardoso disse...

Parece que já temos alguma publicidade. :)

Ver o blog da minha amiga Vânia Beliz, aqui.

Anónimo disse...

Olá Sophia, Daniel, Antidote e todos os colaboradores/leitores deste blog. Estoou a viver uma situação difícil, sou poliamorosa na teoria, e agora que sinto que vou passar à prática, as coisas complicaram-se. Por isso queria fazer uma pergunta a quem quiser responder, mas em particular a autora deste texto: se a pessoa ou pessoas por quem o seu companheiro/a estivesse apaixonado/a não lhe "agradasse" como lidaria com isso? Não poderiam viver a três, mas também não seria correto "impedi-lo" de viver esse amor... Eu não gosto da pessoa que o meu companheiro quer trazer para a nossa relação... e não sei o que fazer...

Flik_Flak Girl.

Daniel Cardoso disse...

Flik_Flak Girl,

Entre os vários "tipos" mais frequentes de relações, um deles é a relação em "V". Isto é, uma pessoa está com duas pessoas, que não se relacionam entre si. (Claro que este V pode ser um sub-conjunto apenas de constelações maiores de relações, mas não compliquemos!)

De resto, acho que depende um bocado de como a relação se desenvolve, que "regras" existem (ou não!), etc. De resto, se assim é, mais do que "trazer para a nossa relação", como dizes, dá-me mais ideia de que é "criar uma nova(?) relação com..." alguém.

Quando as pessoas não "agradam" umas às outras, há sempre uma potencialidade para mais fricções e sarilhos, é preciso estar atent@ a isso, e que todas as partes envolvidas dêem o devido desconto e, quem sabe, tentem sanar diferenças.

E aqui fica a minha humilde contribuição. ;)

Luís Miguel Viterbo disse...

Cara Flik_Flak Girl,

O teu companheiro quer _viver_ com a nova punalua (= lover's lover)? Viver com alguém é um passo muito diferente de "namorar". Se ele quer viver com ela e tu não queres a escolha é dele. Estou convencido que viver com alguém, para que seja bom, não deve depender do que ditam as hormonas mas sim de outros factores mais relacionados com o que normalmente se chama «amizade». Mas se ele decidir ir viver com ela _em vez de_ viver contigo não estará necessariamente a pôr-te de lado ou a desconsiderar a vossa relação.

De facto, não é sempre fácil quando não se gosta dos amigos dos nossos amigos.

Se por acaso estiveres no grupo http://groups.yahoo.com/group/poly_portugal há encontros com alguma regularidade onde temos muitas vezes estas conversas. Ao vivo, com mais opiniões, pode ser que as pessoas do Poly Portugal te ajudem a clarificar as tuas questões ou a encontrar as tuas próprias soluções.

Luís Miguel Viterbo disse...

Já que estou com a mão na massa: Sophia, gostei muito do teu post. Contrariamente à opinião do Shakil, acho sempre bom ver histórias pessoais de quem as quer partilhar, porque é fácil que outras pessoas se revejam nelas e ganhem coragem para dar passos qe não dariam tão facilmente se se sentissem sozinhas. Talvez a Flik_Flak Girl nunca expusesse o problema dela se as entranhas da Sophia não tivessem sido mostradas antes.

Sophia disse...

Flik_Flak Girl

Confesso que é uma situação com a qual me seria complicado conviver... Já me aconteceu que @ meu companheir@ mais antigo se relacionasse com pessoas pelas quais eu não sentia sequer amizade, e por uma delas acabei até a sentir repugnância. Aquilo que fiz na altura foi, deixando sempre bem claro que a mim, _pessoalmente_, aquela pessoa não agradava, respeitar a escolha dele, e respeitar os momentos em que aquela pessoa estava connosco.

Acho muito importante tentares conhecer melhor essa pessoa, porque podes ter uma má impressão dela que depois se venha a dissipar. E, quando possível, o melhor é sempre haver harmonia entre todos...

Por último, a decisão final será sempre dele. Não o tentes encostar à parede, é o meu conselho, a não ser que sintas que não consegues mesmo suportar a situação, e mesmo assim tem cuidado. Ninhuém gosta de receber um ultimato, e em minha opinião isso não é forma de lidar com coisa nenhuma.

Tenta manter a calma, e ser compreensiva. Lembra-te que ele gosta realmente daquela pessoa, e que ao o tentares afastar dela, o estás a magoar.

My two cents, e dá notícias! :)

Anónimo disse...

Desde que tomei conhecimento com o conceito de poliamor (e eu nem gosto muito do conceito, mas pronto...) que o vejo como a possibilidade maravilhosa de as relações se poderem desenvolver não só a dois, mas a muitos, de forma equilibrada, harmoniosa, livre, sem preconceitos. Por isso nunca fui muito adepta daquilo que o Daniel Cardoso chama de "relação em V", porque para mim isso já não é bem poliamor, embora seja uma relação tão válida quanto as outras. É por isso que me encontrei em conflito, como expliquei. Não é assim que eu quero viver o poliamor
Agora vejo que o Poliamor para mim é ´muito mais que a liberdade de se relacionar com outros que existe dentro de uma relação.

Sophia: nunca foi uma hipótese para mim sequer fazer ultimatos, ameaças, birras, para mim isso vai contra tudo aquilo que acredito. Estava na duvida entre continuar a relação ou sair dela, porque o aparecimento desta pessoa realmente muda tudo.
Agora poucas duvidas me restam, ja venho matutanto isto há algum tempo e com a vossa ajuda, tudo foi ficando mais claro. Vou sair, quem está mal muda-se como se costuma dizer. Sou eu que não me revejo nesta relação (com esta pessoa especifica, porque com outras se bem que menos serio não houve problema), seria muita hipócrisia da minha parte, que ando sempre a apregoar o poliamor, fazelo pensar sequer num "ou eu ou ela" ou "com esta não" ou "eu cheguei primeiro" ou outra coisa qualquer que reprimisse seus desejos e sua liberdade. Não sei como conseguiu viver com a situação que descreveu de quase repugnancia, é que para mim "respeitar as escolhas" no poliamor não chega.

Obrigada a todos pela ajuda, vou voltar aqui.

Flik_Flak Girl.

Sophia disse...

Flik_Flak Girl,

Costumo dizer, quando explico o poliamor aos meus amigos, que há tantas formas de o viver quantas as pessoas que o vivem... Para si "respeitar as escolhas" não chega, mas para mim não faria sentido acabar uma relação que na altura tinha já três anos, estando eu completamente apaixonada pela pessoa, só porque a pessoa se apaixona por alguém de quem pessoalmente não gosto. ;)

Espero que continue a visitar-nos. :)

Anónimo disse...

:-)

Obrigada. A minha decisão esta tomada, mas gostava de saber como é que as coisas se "resolveram" no seu caso. Fiquei curiosa conseguiu continar a relação criando um V com a entrada da pessoa de que não gostava?

Flik_Flak Girl

Sophia disse...

Flik_Flak Girl

A pessoa em causa era uma _fuck buddie_, não houve intenção de formar um V. Se houvesse, teria sido bastante mais difícil lidar com a situação, claro está. Ainda assim, se tivesse sido essa a decisão d@ meu companheir@, teríamos discutido a questão, e chegado a um acordo. Ou pelo menos assim espero. ;)