segunda-feira, 13 de julho de 2009

Mononormatividade

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Assumo que, apresentações feitas e meia dúzia de artigos saídos, os leitores e/ou seguidores do blogue tenham já uma ideia formada do que se passa aqui. Assumo que, se muita gente vai aterrar aqui por acaso, e terá de navegar nos links ali ao lado para perceber em que utopia é que veio parar (processo que esperemos não dure muito tempo), outros saberão bem ao que vieram.

Dito tudo isto, esta posta hoje é sobre uma das minhas palavras favoritas: mononormatividade. (a palavra foi inventada primeiro como slang, e pegou como "exagero" ou superlativo de "normativo") Ou seja, todos os mecanismos que fazem com que nos comportemos de maneira pré-formatada... é a pressão social que nos diz que ser gay ou não monogâmico é errado, é a pressão que faz com que não vamos trabalhar de calções, mesmo que isso não afecte a nossa competência, ou não dizer ao chefe que não somos do Benfica, é tudo o que nos impele para um sentimento de minoria que se livraria de sarilhos se passasse a ser maioria, ou que, no caso de não impelir, nos tornam eventualmente alvos de discriminação (não se pode mudar a raça, a nacionalidade, a idade, por exemplo..).

Reparem que, atabalhoada como poderá ser a minha explicação, mononormatividade não é a mesma coisa que discriminação, embora mononormatividade quase sempre seja discriminatória..

Mononormatividade é algo muito intrinsecamente poly (vou a partir de agora chamar poly a tudo que seja Nao Monogamia Responsável, ok?). Nao só poly é contra as convenções sociais (e muitas vezes contra leis), como não há uma maneira única de ser ou pensar poly. Há talvez alguns arquétipos, algumas configurações mais frequentes, mas precisamente o assumir de um modo de vida em que a sinceridade (consigo próprio e outros) está acima da monogamia torna as coisas menos binárias, menos estanques e mais fluidas.

Mononormatividade é um tema muito vasto e hoje quero deixar-vos apenas os acepipes como entrada, e mais para a frente e conforme o vosso interesse podemos pegar ou aprofundar outros aspectos..

Um dado interessante e que é um bom ponto de partida, é que mesmo pessoas que não vivem poly, mas que não encaixam no modelo do casal monogâmico, são encaradas com desconfiança. As constituições dos países ocidentais, têm, desde há relativamente pouco tempo (80 anos), explicitamente passado a mensagem que a base da sociedade é a família e não mais o individuo (Comparem as primeiras constituições europeias de há +180 anos com as de agora).

Pessoas que vivem sozinhas, e felizes (Quirky Alone), são vistas como doentes ou uma excepção à ordem universal, ou mesmo um perigo para a sociedade. Mecanismos como o swing ou a neo-monogamia, com tudo o que têm de libertário, começam a ser bem vistos apenas desde que não haja envolvimento emocional e o casalinho original se mantenha intacto.

Criticas, construtivas ou não, feitas ao casamento tal como ele é, são anátema para muitos políticos (ex: Deputada critica casamento) que preferem nem se meter nisso. Evidência histórica que o casamento já foi uma instituição diferente, ou que houve outros contractos sociais paralelos (ver Affrérements ou casamentos entre homens na Península Ibérica até ao séc. XI) com diferentes papeis, e expectativas, é sistematicamente "esquecido"... Algo que cheire a "promiscuidade" é sempre o culpado dos tremores de terra, epidemias, e um par de botas, em vez de se procurar as verdadeiras causas e actuar sobre elas... Mas pular a cerca nunca será uma causa de tremores de terra, porque não conta como promiscuidade, não ameaça o par original..

Prometo então continuar a falar não só de Nao Monogamia responsável, mas de tudo o que seja sex positive, mesmo que não seja do meu agrado, simplesmente por ser sex-positive ou simplesmente libertário. Entendo que ninguém, nem Estado nem vizinhança, tem o direito ou sequer o capricho de interferir no que dois (ou três, ou vinte) adultos consentâneo fazem uns com os outros, por uma noite ou por uma vida inteira. Por outro lado, é contra os pilares de uma sociedade que se diz livre, inclusiva e diversa, que tal interferência, por Estado ou vizinhança ou empregador aconteça. Ficou claro?


Obrigada por lerem, e agradeço os vossos comentários e perguntas.

1 comentário:

Daniel Cardoso disse...

Isto de "neo-monogamia" não me faz muito sentido, parecendo-me até mais uma tentativa de branqueamento usando o belo do prefixo. Fazer uma coisa de forma nova ("neo") deve ser separado de fazer o oposto do que se quer referir com a palavra (reporto-me neste caso ao post inicial onde se fala de neo-monogamia, não a este)... Vá lá, digo eu...