sexta-feira, 13 de abril de 2012

Beijo

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Hoje, ao que parece, é o dia do beijo.

O beijo é uma das coisas que mais me fascina. Não só porque adoro a actividade em si, mas também porque o beijo é uma das actividades mais ciosamente vigiadas (pelo menos por entre as publicamente aceites) que existe.
De tal ordem que, por muito que gostemos de um/x amigx, não podemos beijá-lx na boca, sob risco de estarmos a "confundir as coisas". Ou por mais que essa pessoa seja das pessoas em que mais confiamos, e com quem mais temos intimidade, o beijo transporta consigo (a leitura de) uma necessária sexualização das relações que é, por sua vez, visto como uma ameaça à integridade e estrutura das mesmas. (Sim, porque toda a gente sabe que o sexo estraga tudo, não é?). Se for entre pessoas do mesmo sexo, então, a homofobia ataca automaticamente.

Ora, isto é algo que me ultrapassa. Felizmente conheço mais do que uma pessoa que se sente também ultrapassada por estas lógicas de vigilância corporal - pessoas que beijo na boca como forma de cumprimento, sem que com isso esteja a sinalizar qualquer intenção sexual. Noutros casos, a vontade que tenho ou tive de beijar, ao de leve (!), alguém na boca como demonstração de cumplicidade, carinho, amizade, intimidade, não é bem recebida, compreendida ou, (no melhor dos casos) não é igualmente reciprocada.

Penso que isto tem que ver com uma (con-)fusão entre sexualização e intimidade. Porque é que os actos íntimos têm que ser lidos sexualmente? E porque é que os actos sexuais têm que ser lidos enquanto actos de intimidade? Ao separar (e recombinar quando desejável) cada um destes elementos, talvez possamos partir para um menor policiamento dos corpos, para uma menor secagem dos afectos e dos sentimentos, e para um aumentar da paleta emocional disponível.