Tive ontem uma experiência interessante, daquelas que comprovam, agradavelmente, coisas que já sabemos mas que, na maior parte dos casos, ficam-se mais por um saber teórico do que por situações para as quais podemos apontar e dizer "Sim, aqui está o que vos tinha falado".
Note-se, por via de aparte, que eu sou daquelas pessoas que acha que uma determinada teoria ou visão sociológica só faz sentido se pudermos sair à rua e esbarrar com essa tal teoria em funcionamento. De certo modo, foi o que me aconteceu.
Estava eu muito bem no computador quando um amigo meu me disse que tinha encontrado um fórum com uma thread sobre poliamor; eu perguntei onde, e ele disse que tinha sido aqui. Ora, eu nem sequer sabia que este fórum existia, quanto mais!... De forma que, lá vou eu ler a conversa. Eis senão quando, logo muito ao princípio, me deparo com o terceiro post, contendo uma descrição que me encaixava que nem uma luva. Olhando para o nick da pessoa em questão, não faço ideia de quem pudesse ser, pelo que pergunto ao meu amigo se sabia quem era a pessoa. Ele tinha uma suspeita e - para encurtar a história - era efectivamente a pessoa que ele estava a pensar e com quem eu depois me pus à fala (como, de resto, se pode ver mais abaixo).
Ora, o que é que eu tenho a fazer ressaltar sobre esta questão? Em primeiro lugar, a tal questão da teoria que se verifica - aquela máxima, de uma certa ala feminista, que insiste em dizer que o pessoal é político está aqui manifesta. Eu vivo a minha vida - e esta pessoa, que nunca tinha lido nada escrito por mim, ou sobre mim, veio avançar um testemunho de como eu vivo, utilizando-o como argumento num debate sobre um tema que é necessariamente político, num sítio onde eu provavelmente nunca viria a falar dele (quanto mais não seja, porque não o conhecia). Aqui está o cerne da questão: cria-se sensibilização, espaço para a diferença, e promovem-se atitudes positivas perante outras formas de viver através desse simples acto de viver. Se esta não é uma convocatória geral, saliente e pertinente para uma vivência poliamorosa com o mínimo de ambiguidades e subterfúgios possível, então não sei o que poderá ser. É verdade que este acontecimento foi a uma escala microscópica, mas a dinâmica em qualquer outro contexto seria exactamente a mesma, e portanto o princípio mantém-se. Mais: aquele singular testemunho vem transformar um copy-paste da wikipédia numa experiência, com pessoas reais, com resultados positivos para acompanhar.
Além do mais, a conversa daquela thread é, no cômputo geral das coisas, relativamente positiva. Se é verdade que parece haver uma certa postura generalizada que impede o questionamento dos próprios limites pessoais - e, de certa forma, isso entristece-me de uma maneira que nada tem que ver com poliamor, mas sim com a falta de confiança que as pessoas têm em si mesmas, em serem capazes de se transformar, de se superar, como se fossem donas de uma qualquer verdade última, essencial sobre si mesmas e o que são ou não capazes de fazer, como se o que são ou não capazes de fazer não fosse uma coisa eminentemente contextual, mutável e sujeita a influências internas e externas - também é verdade que se reconhece a validade das experiências que são diferentes das normativas, que são diferentes daquelas que aqueles sujeitos online reclamam e advogam para si mesmxs.
Conforme a exposição e sensibilização para o poliamor for crescendo, vai ser cada vez mais difícil encontrar e acompanhar cada uma destas pequenas mini-discussões que se vão formando sobre o assunto. Vai ser cada vez mais difícil tomar o tempo para tentar influenciar a visão que outras pessoas têm sobre poliamor, ou sobre promiscuidade, ou sobre relações abertas, etc. E isso pode gerar alguma ansiedade para quem se dedica a isto, creio - a ideia de que um nosso "bebé" possa estar a escapar para além da nossa visão. Só que isto é, em última análise, uma coisa positiva. É através desta fuga discursiva que a pluralidade e o dinamismo se mantêm dentro e fora do mundo das ideias. Quem vive politicamente - e todos o fazemos, mesmo quando não nos apercebemos - vive numa teia de interpretações e leituras que não controla nem pode controlar. Aquilo que acontece a partir daí não é da nossa responsabilidade directa, mas ainda assim há a possibilidade/potencialidade de, como neste caso, portar a nossa marca, portar um pouco do que fizemos no mundo.
Note-se, por via de aparte, que eu sou daquelas pessoas que acha que uma determinada teoria ou visão sociológica só faz sentido se pudermos sair à rua e esbarrar com essa tal teoria em funcionamento. De certo modo, foi o que me aconteceu.
Estava eu muito bem no computador quando um amigo meu me disse que tinha encontrado um fórum com uma thread sobre poliamor; eu perguntei onde, e ele disse que tinha sido aqui. Ora, eu nem sequer sabia que este fórum existia, quanto mais!... De forma que, lá vou eu ler a conversa. Eis senão quando, logo muito ao princípio, me deparo com o terceiro post, contendo uma descrição que me encaixava que nem uma luva. Olhando para o nick da pessoa em questão, não faço ideia de quem pudesse ser, pelo que pergunto ao meu amigo se sabia quem era a pessoa. Ele tinha uma suspeita e - para encurtar a história - era efectivamente a pessoa que ele estava a pensar e com quem eu depois me pus à fala (como, de resto, se pode ver mais abaixo).
Ora, o que é que eu tenho a fazer ressaltar sobre esta questão? Em primeiro lugar, a tal questão da teoria que se verifica - aquela máxima, de uma certa ala feminista, que insiste em dizer que o pessoal é político está aqui manifesta. Eu vivo a minha vida - e esta pessoa, que nunca tinha lido nada escrito por mim, ou sobre mim, veio avançar um testemunho de como eu vivo, utilizando-o como argumento num debate sobre um tema que é necessariamente político, num sítio onde eu provavelmente nunca viria a falar dele (quanto mais não seja, porque não o conhecia). Aqui está o cerne da questão: cria-se sensibilização, espaço para a diferença, e promovem-se atitudes positivas perante outras formas de viver através desse simples acto de viver. Se esta não é uma convocatória geral, saliente e pertinente para uma vivência poliamorosa com o mínimo de ambiguidades e subterfúgios possível, então não sei o que poderá ser. É verdade que este acontecimento foi a uma escala microscópica, mas a dinâmica em qualquer outro contexto seria exactamente a mesma, e portanto o princípio mantém-se. Mais: aquele singular testemunho vem transformar um copy-paste da wikipédia numa experiência, com pessoas reais, com resultados positivos para acompanhar.
Além do mais, a conversa daquela thread é, no cômputo geral das coisas, relativamente positiva. Se é verdade que parece haver uma certa postura generalizada que impede o questionamento dos próprios limites pessoais - e, de certa forma, isso entristece-me de uma maneira que nada tem que ver com poliamor, mas sim com a falta de confiança que as pessoas têm em si mesmas, em serem capazes de se transformar, de se superar, como se fossem donas de uma qualquer verdade última, essencial sobre si mesmas e o que são ou não capazes de fazer, como se o que são ou não capazes de fazer não fosse uma coisa eminentemente contextual, mutável e sujeita a influências internas e externas - também é verdade que se reconhece a validade das experiências que são diferentes das normativas, que são diferentes daquelas que aqueles sujeitos online reclamam e advogam para si mesmxs.
Conforme a exposição e sensibilização para o poliamor for crescendo, vai ser cada vez mais difícil encontrar e acompanhar cada uma destas pequenas mini-discussões que se vão formando sobre o assunto. Vai ser cada vez mais difícil tomar o tempo para tentar influenciar a visão que outras pessoas têm sobre poliamor, ou sobre promiscuidade, ou sobre relações abertas, etc. E isso pode gerar alguma ansiedade para quem se dedica a isto, creio - a ideia de que um nosso "bebé" possa estar a escapar para além da nossa visão. Só que isto é, em última análise, uma coisa positiva. É através desta fuga discursiva que a pluralidade e o dinamismo se mantêm dentro e fora do mundo das ideias. Quem vive politicamente - e todos o fazemos, mesmo quando não nos apercebemos - vive numa teia de interpretações e leituras que não controla nem pode controlar. Aquilo que acontece a partir daí não é da nossa responsabilidade directa, mas ainda assim há a possibilidade/potencialidade de, como neste caso, portar a nossa marca, portar um pouco do que fizemos no mundo.
2 comentários:
Ou resumido, como uma outra amiga costuma dier: "O Mundo é um bidé!" xD
Parece um resumo justo :)
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