sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Do outro lado

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Sempre tive uma pergunta, e gostava de saber se alguém que lê este blog me sabe responder...

Como é que uma pessoa que se identifica como monogâmica passa a encarar a monogamia, depois de tomar contacto com o poliamor? Há alguma diferença? Há algum questionamento, ou alteração de comportamentos, atitudes, etc., mesmo que a pessoa não passe a identificar-se como poliamorosa?

Respostas agradecem-se. :)

6 comentários:

Joyce Craveiro disse...

sempre me considerei monógama e há pouco mais de uma década atrás, enquanto vivia nos EUA e ouvi pela primeira vez falar em poliamor, senti um enorme alívio! sempre tive uma grande dificuldade em sentir-me plenamente satisfeita nas minhas monogamias, como se algo (ou alguém?) estivesse em falta. até antes de ouvir falar no termo, tentei ter uma relação aberta no meu casamento da altura - algo que foi muito mal visto por parte da minha cara metade. então foi muito bom saber que existem pessoas que pensam e sentem como eu mas que conseguem consolidar os seus sentimentos e ter relações e vidas saudáveis. só tenho uma grande pena que a sociedade em geral tenha tão grande dificuldade em aceitar como "normal" algo que é normal para muitas pessoas. se fosse algo aceite pela sociedade, de certo haveriam muitas mais pessoas que se considerassem poliamorosas e muitas mais pessoas em relacionamentos felizes!

Daniel Cardoso disse...

joyce,

Obrigado pelo testemunho - e as minhas desculpas pela demora!

Acho que é importante, este trabalho de vermos as pluralidades à nossa volta. Não há liberdade sem as várias possibilidades de escolha. :)

i disse...

por tomar contacto queres dizer tomar conhecimento? deu tema de conversa e muita discussão entre amigos. não passo a encarar os relacionamentos de forma diferente porque realmente não me identifico. acho que só consigo amar uma pessoa ao mesmo tempo e só consigo ser amada por alguém que esteja só comigo. Apesar de ter bastante desconfiança em relação a como o poliamor pode realmente resultar, não tenho uma posição negativa. se funciona para algumas pessoas, óptimo. o que importa é sermos felizes.
acima de tudo, como disse, tomar contacto com o poliamor, deu uma conversa de meia noite tremenda num pub em cardiff com pessoas de diferentes nacionalidades. foi interessante :)

Daniel Cardoso disse...

Obrigado pela resposta, i.

A minha questão ia de facto no sentido do «tomar conhecimento» e como é que o poliamor pode - ou não - levar a que as pessoas analisem as suas relações, mesmo que monogâmicas, com olhos diferentes. Uma das frases mais interessantes que eu já vi escrita foi de alguém que, numa mailing list, se afirmava "mono mas com sistema operativo poly". E eu fiquei com curiosidade em saber se seria algo mais disseminado. Porque o poly tem muito mais em si, em termos de recomendações, estratégias e valores de base, do que aquilo que se poderia esgotar na questão específica da não-monogamia responsável...

Anónimo disse...

O que não percebo é a insistência que determinados valores ou estratégias são poli. Não são Pode haver mais consciência disso na generalidade das pessoas que se assumem como poli, o que não significa que não haja muitos mentecaptos que se afirmem poli. E muito boa gente que tem óptimas relações monogâmicas... A honestidade não é um exclusivo poli. Nem é sequer algo que haja necessariamente em relações poli.

Daniel Cardoso disse...

Anónimo...

Os valores e as estratégias podem efectivamente ser poli, o que não quer dizer que sejam exclusivamente poli - e isso são duas coisas bastante diferentes. Além disso, existem elementos específicos a se pertencer a uma determinada identidade - qualquer identidade - e "poly" é uma identidade.

Claro que existirão mentecaptos que se afirmam poli, mas também existem mentecaptos que se afirmam monogâmicos. Mentecaptos há em todo o lado... isso não impede que não exista um sentir e um viver que, de certa forma, se singulariza por se auto-identificar.

Por outro lado, é precisamente porque existem elementos que não são exclusivamente poly que eu fiz este post - para compreender as sinergias entre essas várias coisas.

Mas há aí uma incorrecção: a honestidade faz parte, necessariamente, de uma relação poly. Qualquer definição irá incluir o debate, a negociação, o consentimento. Para isso, é preciso honestidade. Agora o contra-exemplo apresentado poderiam ser as relações do género "Don't Ask, Don't Tell" - mas isso também é honestidade. Definem todas as pessoas envolvidas que a relação se irá processar desta forma, e isso é uma postura de honestidade, completamente diferente da traição tradicional.

Acima de tudo, não podemos cair no risco de achar que, no fundo no fundo, tudo é igual à vivência normativa heterossexual e monogâmica, e que todas as outras variações, são pouco ou nada importantes.