quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Aquela coisa do sexo...

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Ando doente com esta coisa da educação sexual na escola. Não há reunião em que não se fale disto. E o ritual é quase sempre o mesmo. O Director de Turma aborda o tema com o tom de “tem de ser, há aqui este assunto…”. A maior parte dos professores baixa os olhos. O professor de Ciências diz qualquer coisa que quase sempre me irrita. E quando se pergunta quais os professores que querem participar no projecto, só falta ouvir os assobios para o ar. Nas primeiras reuniões ofereci-me. Depois comecei a perceber…


Este ano dou aulas a pessoas entre os doze e os quinze anos. E alguém inventou (não sei bem com base em quê) que nestas idades se falaria mais das relações e de sentimentos do que propriamente daquela coisa polémica, porca e poluída, que é o chamado… vamos lá… quer dizer…o…ou seja,… o sexo…

Começamos mal! Como é suposto “educar” as criancinhas, coitadinhas, que nestas idades nem andam a comer-se uns aos outros (Deus nos livre, os nossos anjinhos, nem devem saber o que isso é!)… Como é suposto educá-las se os próprios educadores não sabem sequer como abordar o assunto (nem querem saber)? Se muitos empurraram para a escola (ou para a televisão) a função de falar de sexo aos seus filhos, e agora adoptam a mesma táctica, empurrando para os professores de Ciências.

Estes fazem o seu papel, o mesmo que sempre fizeram: discorrer sobre aspectos técnicos dos sistemas reprodutores masculino e feminino. E fazer cara de papão para falar de DSTs e gravidez na adolescência. E deixar de lado assuntos como masturbação e homossexualidade. Até porque a lei só obriga a um mínimo de 12 horas (!) de Educação Sexual. E com uns filmes e meia dúzia de jogos despacha-se isso sem dar azo a perguntas embaraçosas. Felizmente “as crianças” têm uma capacidade admirável de subverter os planos e perguntar o que lhes apetece.

Depois há o lado dos pais. Que às vezes nem sabem bem em que ano os filhos andam, nem onde fica a escola. Mas se alguém resolve substituí-los nesta parte específica da educação (porque em todas as outras partes estão à vontade), ai isso é que não! Entre muitos medos e mitos, parece prevalecer o de que, ao se falar de sexo aos alunos, estes se vão sentir motivados a praticá-lo mais e mais cedo. Uma colega de Português comentava ironicamente que passa as aulas a falar dos livros que lê, e nunca notou que isso levasse os alunos a ler mais e mais cedo.

Mais uma vez, acredito que esta geração está para além destas imbecilidades. Que não absorve muitas das ideias pré-concebidas que lhe tentam passar mais ou menos subliminarmente. Porque, para o bem e para o mal, nasceram já com um grau de liberdade que os leva a ser muito mais intuitivos no que toca à sua sexualidade. Estão atentos e não são parvos, pelo menos para as coisas que lhes interessam. E o sexo é definitivamente uma dessas coisas.

4 comentários:

Sara Barbosa disse...

Não podia estar mais de acordo contigo, Lara. Não só na descrição das reuniões de C.Turma ( só o alívio quando me ofereço p ficar com pelo menos 4 horas é insdecrítivel...). As coisas que se ouvem de muitos professores só revelam o quanto os adultos precisam de Educação Sexual. Podia ficar aqui horas a falar deste tema. Mas o que me levou a copmentar foi sobretudo a parte final do teu texto, com a qual estou absolutamente de acordo, e digo: felizmente! Apesar dos pesares, apesar do muito apoio que precisam para que se fale mais de afectos e de sexo e menos de reprodução e Dst's ( que são temas importante mas não são "a" Educação Sexual) os nossos jovens, emgeral estão muitos passos à frente dos adultos. E lucky me que trabalho com os 15-18!

Sara Barbosa disse...

*indescritível ( e desculpem a trapalhonice da minha escrita...)

Pedro Luis disse...

Não posso deixar de relatar o que me aconteceu quando tinha, também, doze, treze anos, portanto à cerca de vinte e dois anos, e andava nessa altura no São João de Brito, um colégio de padres Jesuítas.

Nessa altura, alguns dos rapazes traziam umas revistinhas com pouco texto e muitas fotografias... artísticas... o que era uma grande galhofa entre os meninos. Um dia, uma dessas revistas trazia um grande plano, muito educativo, de uma senhora chupando um grande pénis. E houve uma qualquer mente brilhante (não fui eu!) que achou que seria ou uma boa forma de entretenimento ou uma interessante pesquisa sociológica, mostrar essa imagem às meninas, uma a uma, e ver as reacções.
As reacções foram bastante diversas, desde a indiferença ao choque, mas terá havido uma menina que deu com a 'língua nos dentes' e foi fazer queixa.
O interessante é a reacção que a escola teve, um colégio Jesuíta, resolveram fazer umas palestras sobre o que se poderia chamar de educação sexual, passaram uns filmes sim, falaram, mas mais importante dispuseram-se a ouvir as questões que tínhamos.

O que eu acho, é que a sexualidade está na nossa natureza através de uma saudável curiosidade, e nessas idades é quando essa curiosidade começa, não adianta adiantarmos-nos a eles, nem fingir que a sexualidade não existe, eles vão encontra-la de uma maneira ou de outra, vão ter questões e era bom que se sentissem à vontade para as porem. Mas, isto é tudo muito bonito de se dizer, porque a questão prática que a Lara coloca é quem o faz, porque toda a gente se corta, e toda a gente se corta porque não querem ter os pais das criancinhas a 'lembrarem-se' pelas razões erradas que têm um papel como educadores. Por outro lado, muitos destes professores não serão muito diferentes de certos pais, e terão lá os seus macaquinhos na cabeça.
Se calhar o importante neste aspecto era começar por 'educar' os pais, ou melhor, prepara-los. E quanto às criancinhas, ouvi-las, alguém com quem se possam sentir à vontade para falar.

Pedro Luis disse...

Entretanto descobri que este assunto me interessa mais do que suspeitava. Vale a pena regredir um bocado ao que sentíamos nestas idades, um exercício que nos esquecemos de fazer muitas vezes porque no fundo todos sabemos que não foi fácil e que felizmente, a bem ou a mal, já passou, e se calhar por isso evitámos lá regressar.

E pensando eu no que sentia e no que agora sei, ou julgo saber, é espantoso como coisas tão triviais metiam tanto medo. E era essa a grande questão, de acharmos que só nós é que sentíamos aquilo, de acharmos que se era um freak, e isso era uma barreira imensa que nos isolava, e bastava que alguém nos dissesse naquelas alturas que aquilo que sentíamos era 'normal', mas para isso era preciso conseguirmos falar disso e a vergonha era muita.

Por isso o que eles precisam é de alguém com que se sintam à vontade para se abrirem, alguém que eles não tenham medo que vá contar aos seus pais, que os ponham de castigo ou que lhes dê um sermão.

Bom às tantas estes comentários davam era para uma artigo. :)