A maior parte dos posts deste blog sobre o poliamor vão no "bom" sentido. Vão no sentido de demonstrar o quão bem podemos estar, o quão bem conseguimos estar, no sentido de mostrar o quanto podem ser traçados pontos de contacto entre experiências de âmbito poliamoroso e de outros tipos de relação - monogamia, monogamia em série, etc. - e como assim podemos crescer todxs juntxs.
Mas também há um lado feio da coisa. Bem, vários. Um deles também já foi bastante explorado aqui: o que acontece quando a relação falha, o que acontece quando se confunde poliamor com outros tipos de relação não-monogâmica (especialmente aqueles tipos que de responsáveis têm pouco ou nada). E isso pode ser devastador, da mesma forma como qualquer fim de qualquer relação pode ser devastador, não interessa se somos poly ou não.
Outro recebeu menos atenção, e é desse que eu quero falar. Que é aqueles momentos em que nos forçam a escolher em exclusividade, mesmo quando - no poliamor - parecemos ser tão avessxs a fazer escolhas exclusivas. De que escolha falo? Daquela que se levanta, de vez em quando, forçosa, entre família herdada e família intencional.
É aquela coisa a que se chama discriminação. E essa discriminação pode ser daquela agressiva, física, que acaba em gente morta. Mas também pode ser daquela subtil, que se demonstra quando disfarçamos que estamos com mais do que uma pessoa ao mesmo tempo; quando se vai ao café com mais do que uma pessoa e estamos a controlar o nosso próprio comportamento. E é o que acontece quando existem pressões psicológicas: quando nos apelidam de malucxs, de imorais, de pervertidxs, e quando nos dizem que assim é impossível construir uma vida, um projecto de vida. E a verdade é que existem mil e um projectos de vida, e para construir um projecto de vida basta uma pessoa... o resto não tem que ser de maneira nenhuma específica.
E que sofrimento isso pode causar! Que mau é, para toda a gente envolvida. Porque, diga-se, até mesmo quem discrimina sofre na sua visão distorcida do mundo - sofre por um sofrimento que pensa estar a identificar e a tentar evitar. Não obstante, é um sofrimento auto-infligido, um sofrimento que vem de não se saber dar ao Outro o espaço, a liberdade, a autonomia de se ser. Viver de forma poliamorosa é uma escolha - se ser-se não-monogâmicx é ou não, já depende de a quem se pergunta, e é outra conversa na qual não me vou meter. Essa escolha, como muitas outras, tem que ser respeitada se dizemos respeitar princípios como a auto-determinação, liberdade e não-discriminação.
Respeitar não é:
- bullying psicológico;
- vitimização invertida;
- falsas escolhas e falsas dicotomias;
- ameaças veladas;
- tratamento diferenciado em situações semelhantes;
- alienação parental/familiar;
- insultos;
- etc...
Reparem, todxs temos direito a discordar das opções de quem gostamos. Mas nenhum de nós tem o direito de impor as suas posições e vontades, de forma explícita ou sub-reptícia, sobre xs outrxs. Porque um ambiente de bullying e um estalo não podem ser colocados, parece-me, numa escala de gravidade. Estão, ambas as coisas, para além da linha do aceitável.
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