terça-feira, 2 de março de 2010

Se eu fosse um grão de milho

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Chego a casa estourado de um trabalho que consiste em ter ideias e escrever, e tenho à minha frente o computador a dizer-me que preciso de ter ideias e escrever aqui no PolyPortugal. Sugerem-me que faça uma composição que comece por "Se eu fosse um grão de milho". E porque não? Não tenho dúvida de que não é pior do que nenhuma das ideias que tive no caminho para casa. Por isso, aqui vai:

Se eu fosse um grão de milho, seria um fruto, fiquei a saber após leitura desta doutíssima fonte e das referências que lá vêm:
The sex life of corn
Conclusão: a expressão «ser bom (ou boa) como o milho» até é capaz de fazer sentido. Se mesmo nisto se pode encontrar uma lógica, o mundo certamente está perdido — é o mínimo que se pode concluir.

A verdade é que sou insaciável na minha sede de conhecimento de curiosidades sem utilidade aparente, e por isso li de facto o artigo. E fiquei a saber que uma planta de milho tem gâmetas (células sexuais) masculinos e femininos, que realmente é uma coisa invejável. Mas depois não me parece que haja grande diversão por ali. A bandeira ou pendão do milho (são umas inflorescências macho na ponta da espiga), uma vez por ano, liberta pólen, que são os elementos reprodutores masculinos, ou seja, o equivalente ao esperma nos mamíferos, acho eu. O pólen é levado pelo vento para as barbas (que, apesar do nome, são os elementos reprodutores femininos) e pronto: nasce um lindo grão de milho.

«Bom como o milho»? Mas que raio de vida sexual é esta? Se eu fosse um grão de milho, seria muito infeliz com certeza. Antes padre católico: ao menos poderia ter uma vida sexual activa e até com bastante diversidade (e teria sempre a instituição a proteger-me…)¹

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(¹) Talvez não seja demais deixar claro que esta última frase é escrita com uma especial ironia. Embora a parte que começa na palavra «poderia» seja totalmente verdade, o desejo implícito de querer essa verdade para mim é, esse sim, uma ironia. A este propósito, não podia concordar mais com o brilhante Stephen Fry e o seu discurso no Intelligence Squared contra a moção "The Catholic Church is a force for good in the world" (vale mesmo a pena ver as duas partes na totalidade):

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