História deliciosa ouvida na sala de professores. Um colega meu, que dá aulas de Expressão Plástica ao 1º Ciclo, contraria um puto de sete anos. A reacção é de birra, berros, e enquanto esperneia, o miúdo solta “O professor é gay!” Sustenho a respiração por um segundo, tal como provavelmente o fizeram todos os que assitiram à cena. Mas a resposta do meu colega é rápida e certeira: “Qual é o problema?? Queres ofender-me? Isso não é ofensa! Tens de arranjar uma ofensa!”
Imagino o desconcerto e frustação do miúdo. E apercebo-me que, realmente, grande parte da discriminação está do lado do discriminado. Que é preciso assumir a ofensa para que ela tenha efeito.
O mesmo colega perguntou-me, numa conversa casual, se tinha namorado. Respondi “Tenho vários” e a conversa continuou sem sobressaltos. Cada vez menos os meus ‘coming out’s são seguidos de exaustivas palestras sobre poliamor, em que tento justificar as minhas opções. Falar frontalmente e sem receios próprios retira ao ouvinte a legitimidade para fazer julgamentos. Ou dá-lhe a esperança de ver que outros caminhos são possíveis.
1 comentário:
Exactamente. A vergonha legitima a vergonha.
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