terça-feira, 6 de outubro de 2009

Terceira pele

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Faz agora 20 anos, escrevi e publiquei, em conjunto com um colega e amigo, as ideias que tínhamos vindo a desenvolver em longas conversas sobre relações afectivas.
Pouco tempo antes, tinha surgido o conceito de «curtir»: estava mais próximo do que idealizávamos para uma relação mas ainda não era bem aquilo.
O pequeno ensaio-manifesto chamar-se-ia Amizade, enamoramento : A elaboração dos acasos e está agora online na íntegra.

A elaboração dos acasos
Uma das nossas referências mais importantes era o lindíssimo livro de Roland Barthes Fragmentos de um discurso amoroso, que tínhamos devorado com o prazer da descoberta de quem tem vinte e tal anos.

De entre as muitas frases memoráveis que poderia aqui citar, escolho uma em particular, pela sua relação irónica com o meu estado actual (de bolsos vazios e coração cheio):
Le cadeau est attouchement, sensualité: tu vas toucher ce que j'ai touché, une troisième peau nous unit. Je donne à X... un foulard et il le porte […]

A prenda é carícia, toque, sensualidade: vais tocar aquilo em que eu já toquei, ficamos unidos por uma terceira pele. Dou um lenço a X e ele usa-o […]
(Tradução minha)

Substitua-se agora «prenda» por «punalua» (pessoa amada da minha pessoa amada) e transforme-se assim o teu objecto amoroso numa terceira pele.

Enquanto escrevo isto, a minha terceira pele está no quarto ao lado, pele com pele com uma outra terceira pele. E eu sinto-me inequivocamente bem nesta minha nova pele.

African Elephant Skin

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