sábado, 25 de julho de 2009

Espelho espelho meu, existe alguém mais apaixonado do que eu?

Publicado por 
Olho ao espelho e sei que sou muitas. Uma só pessoa com muitos papéis que contribuem para a unidade da minha condição humana, social e económica. Sou filha, tia, amiga, colega de trabalho, amante. Sou um número de contribuinte no sistema económico, um número de BI ou de cidadão que me identifica com a nacionalidade portuguesa, mas quem sou eu emocionalmente ninguém pensou à partida. O espólio emocional é coisa em que ninguém pensa e que um indivíduo tem de construir sozinho, mais ou menos baseado em referências familiares e colectivas, por onde se vai parametrizando.
Eu sou como aqueles eléctricos nos quais os construtores pensaram em tudo menos na usabilidade dos carris. Eu podia ter ido pelos caminhos esperados, mas não fui.
Se sou ou não poly não sei, nem tão pouco me preocupo com isso. Há quem diga que sim e eu sorrio.
Entendo o amor como uma partilha. Uma partilha comprometida emocionalmente, compartimentada, mas não limitada. Não acredito que se ame menos por amar mais, seria estranho. Um pai não ama menos cada filho à medida que vai tendo mais. É um amor diferente, único e especial.
Gosto de dizer que amo.
Claro que às vezes me sinto cansada e se torna complicado gerir todas as pessoas que amo e com quem tenho relacionamentos, gerir expectativas de presença sobretudo. Gostava de poder ser mais, para dar mais e estar mais presente ainda. Por vezes tenho receio de ter uma ou outra acção leviana e magoar sentimentos. Encaro isso com a naturalidade de quem está num processo de aprendizagem, não procuro a perfeição, apenas a felicidade.
Por vezes tenho receio de encontrar um colega de trabalho ou simplemente um conhecido e estar a dar um beijo ao João e depois o encontrar noutro dia dessa semana e estar em igual situação com a Ana ou com o Pedro. São receios que me atravessam o pensamento com raios, não que me preocupe muito com o que pensam os outros, mas... há sempre um mas por alguns instantes.
Não sei como foi que comecei a viver de forma poliamorosa, não foi nenhuma decisão racional, foi uma evolução natural da minha vida. Era swinger e o envolvimento físico não me parecia satisfatório, não procurava variedade sexual na verdade, mas sim o amor nas suas mais diversas expressões e cada amante na sua unicidade me revelava tanto de mim como da vida e como de uma nova e intensa relação. Esta é uma evolução que assusta um pouco a maioria dos swingers porque têm receio que o relacionamento do casal seja abalado e que um dos seus membros se apaixone pelo de outro casal e haja uma ruptura. Por isso, na maioria dos casos ,apesar de haver algum relacionamento de amizade-festa-camaradagem, evita-se o envolvimento amoroso com o outro. Estranho se pensarmos que são pessoas que fazem sexo umas com as outras, mas muito legítimo do ponto de vista da auto-preservação quer pela maturidade que existe, quer por todas as inseguranças escondidas que implica trazer ao de cima e ultrapassar.
Sou feliz hoje e sobretudo livre. É libertador viver de acordo com o que acreditamos, rodeados de quem nos ama e partilha dos mesmos valores.
Os problemas, quando os há, considero-os desafios e todos os casais os têm, seja qual o modelo que tenham escolhido viver. Poucos há que falam tanto dos seus desejos, sexualidade e individualidade como nós, não que sejamos melhores, simplesmente porque nos preocupamos em incorporar no nosso ser as aprendizagens que vamos tento e em nos tornarmos pessoas livres, abertas e apaixonadas.

1 comentário:

carpe vitam! disse...

Isso faz todo o sentido para mim, já tinha pensado no argumento do amor dos pais pelos filhos. Também me revejo nessa evolução. Infelizmente, o meu par não. Sinto muita insegurança, porque se por um lado quero manter e continuar a evoluir na relação, por outro lado sinto que estou a magoar o meu par por querer experimentar e inovar...