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Considerando...
Que Manuel Damas se apresentou, no passado
dia 16/07/2014, no seu programa “Sexualidades, Afectos e Máscaras”, nº. 31, transmitido no canal MVM, das 21:30 às 22:30, enquanto médico e enquanto
sexólogo e que, a partir dessa posição, o mesmo fez
afirmações que a) não apresentam sustentação científica ou são contra o state of the art científico que lhes diz
respeito, b) são redutoras e patologizantes de uma minoria, aproximando-se do
discurso de ódio, c) envolveram o apelo à auto-mutilação e, potencialmente, ao
suicídio, contra os códigos deontológicos vigentes, tanto médico como para a
Comunicação Social; apresentamos abaixo uma descrição detalhada dos eventos
perante os quais vimos apresentar queixa pública:
- Afirmou, à revelia do Manual
para os Mídia sobre Prevenção do Suicídio publicado pela Organização
Mundial de Saúde, à revelia do Código Deontológico da Ordem dos Médicos
Portuguesa (no seu artigo 57º), e à revelia do Protocolo de Cooperação
celebrado no presente mês entre a Entidade Reguladora para a Comunicação
Social e o Plano Nacional para a Saúde Mental, Manuel Damas apresentou
como alternativa a estar numa relação poliamorosa, “vamos cortar os
pulsos, como nos filmes [...], cortar na longitudinal”, acompanhando
esta afirmação de mimética de auto-mutilação e tentativa de suicídio;
- Afirmou que o poliamor é um
caso de “prostituição emocional” e que se trata de “prostituir os
afectos”, empregando assim termos relativos ao trabalho sexual como
insulto ou comparação pejorativa, que vão contra o trabalho feito na área
do trabalho sexual realizado pela Associação CASA, da qual é Presidente da
Direcção;
- Afirmou, contra a investigação
de ponta feita na área, que é impossível amar mais do que uma pessoa ao
mesmo tempo;
- Afirmou que as relações
poliamorosas se baseiam todas, inevitavelmente, na exploração
psico-emocional de pessoas com problemas clínicos de auto-estima e de
dependência afectiva;
- Afirmou que as relações
poliamorosas são comparáveis a seitas religiosas radicais
norte-americanas;
- Afirmou que o facto de o número
de poliamorosos auto-identificados ser relativamente pequeno (sendo que o
número apresentado não corresponde sequer à realidade) era algo importante
“para a estabilidade interna da população portuguesa”, já que o poliamor
“faz mal à população”;
- Afirmou que as pessoas
poliamorosas são, pelo mero facto de estarem em relações poliamorosas,
criminosas;
- Afirmou que pessoas do sexo e
género feminino que estejam em relações poliamorosas são “servas”, fazem
parte de um “harém”, e que o facto de nelas estarem levanta dúvidas sobre
se estão “no perfeito juízo e na posse das capacidades de análise”;
- Afirmou que “a poligamia é mais
decente” ao mesmo tempo que se afirmou um “verdadeiro defensor da
igualdade de género”;
- Afirmou que “não contribui para
este peditório”, referindo-se a considerar, profissionalmente, o poliamor
como algo válido e passível de fornecer experiências tão saudáveis quanto
uma relação monogâmica, mas foi Padrinho da Marcha do Orgulho LGBT do
Porto de 2009 (em que o grupo PolyPortugal fez parte da Comissão
Organizadora), cujo Manifesto aborda explicitamente a existência de
“relacionamentos amorosos responsáveis entre mais de duas pessoas”,
demonstrando assim que ele já esteve, noutra ocasião, em movimentos que
apoiam relações poliamorosas;
Vimos por este meio...
Exigir que as várias instituições directa
ou indirectamente envolvidas na ocorrência ajam de acordo com os seus
princípios e, acima disso, com o que se encontra legalmente e deontologicamente
estipulado a nível nacional e internacional.
Para esse fim, vimos por este meio
formalmente apresentar queixa e requerer:
- Que a Entidade Reguladora para
a Comunicação Social averigue as ocorrências relatadas, intervindo em
conformidade com as suas próprias directivas junto do canal MVM;
- Que a Ordem dos Médicos
averigue as ocorrências relatadas, intervindo em conformidade com as suas
próprias directivas, junto do seu membro, Manuel Damas;
- Que a Associação CASA,
envolvida na produção do dito programa, se posicione publicamente face ao
sucedido;
- Que a Associação CASA, face ao
exposto acima, apresente um pedido público de desculpas aos vários grupos
e colectivos afectados;
- Que a Associação CASA afaste o
seu Presidente da Direcção, Manuel Damas, por crassa violação dos
objectivos da mesma Associação, nomeadamente da “Universalidade do Direito
à Felicidade” e da “vivência em plenitude dos Afectos, sem tabus nem
estereótipos”;
- Que o canal MVM, face ao
exposto acima, apresente um pedido público de desculpas aos vários grupos
e colectivos afectados;
- Que o canal MVM garanta aos
vários grupos e colectivos afectados, nomeadamente mas não limitado ao
grupo PolyPortugal, o exercício do Direito de Resposta, tal como se
encontra previsto na Lei de Imprensa;
- Que o canal MVM se comprometa a
emitir em condições semelhantes uma entrevista ou série de entrevistas a
profissionais com a devida qualificação para apresentar diferentes visões,
cientificamente fundamentadas, do tema.
As organizações signatárias
PolyPortugal
Poliamor
- BA (Bahia - Brasil)PortugalGay.pt
PortoGay
AEESMAE