sexta-feira, 11 de maio de 2012

Dois artigos sobre poliamor no P3

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Hoje trazemos mais cobertura noticiosa sobre poliamor, desta feita no P3, pelas mãos de Amanda Ribeiro.

A primeira peçaPoliamor: o amor não se divide, multiplica-se

A segundaPoliamor: como é viver uma relação a três ou mais?

Leiam, comentem, divulguem!

quarta-feira, 9 de maio de 2012

3ª Marcha contra a Bifobia, Intersexofobia, Homofobia, Lesbofobia, Polifobia e Transfobia

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Foi há uns poucos dias que vi anunciada a 3ª Marcha contra a Bifobia, Intersexofobia, Homofobia, Lesbofobia, Polifobia e Transfobia. Tanto quanto sei, é a primeira vez que uma manifestação pública se dirige, no nome, à questão específica do poliamor (e daí o “polifobia”, embora eu costume escrever polyfobia só mesmo para não criar confusões – coisa que nem sei muito bem se resulta ou não).


Esta atitude, por parte da PATH, é de louvar, não apenas pela inclusão do poliamor no nome, mas pelo desdobrar, explicitar e visibilizar também da intersexualidade (e, já agora, dos elementos mais comuns da sigla LGBT).

Por outro lado, convém lembrar e reflectir sobre o que é esta coisa da “polyfobia”, já que a palavra será certamente ainda desconhecida de muita gente (como “poliamor” o é). Claramente, todas estas fobias pretendem fazer um paralelismo e dar continuidade à ideia de homofobia, a primeira a aparecer historicamente enquanto palavra. O uso da palavra em contexto escrito surgiu em 1971, pela mão de George Weinberg, que pretendia assim significar o medo de estar perto de pessoas homossexuais mas também, e significativamente, o medo que essa proximidade pudesse funcionar como um vector de contágio e, assim, atacar a heterossexualidade das pessoas homofóbicas. Este medo iria portanto ter as características de outros tipos de fobias, gerando reacções irracionais, violentas, cujo objectivo seria a protecção de um risco inexistente de contágio – uma abordagem psicologizante do fenómeno.

O termo homofobia e seus derivados (presentes no nome da marcha) marcaram, na altura, um ponto de viragem importante: o recentrar da génese do problema; a deslocação retórica do “problema da homossexualidade” para o “problema da homofobia”, quase que diametralmente oposto. Porém, isto também implica um problema: esta viragem é feita mantendo os termos de base da situação. Troca-se uma psicologização por outra. Essa psicologização acaba a ocultar, até certo ponto, o nível supra-pessoal da “homofobia”, na medida em que a violência não é apenas pessoal e subjectiva, mas também estrutural e institucional. 

E, não obstante a importância de pensarmos nas palavras que usamos, e no peso que elas têm, não deixa de ser verdade que o próprio significado de “homofobia” e suas variantes se tem vindo a alterar. Quando falamos de homofobia institucional, quando falamos de homofobia estrutural – podemos estar a usar a mesma palavra, mas não porque acreditemos que uma instituição tem necessariamente uma psique. Antes, e não obstante o continuado uso da “fobia”, temos vindo a desenvolver um pensamento sobre como a hostilidade não é apenas pessoal, nem é apenas contextual. Podemos, por exemplo, relacionar este medo com outros elementos: nomeadamente, com o papel que o Outro é feito ocupar no questionar das certezas identitárias e das mundo-visões do “Eu”.

Mais uma coisa: no meio disto tudo, nunca é demais lembrar – a hostilidade contra as pessoas poliamorosas e contra a ideia abstracta de poliamor existe.
Existe quando alguém nos deseja uma “feliz vida com SIDA”. Ou quando alguém avisa uma pessoa com quem temos uma relação que ela vai apanhar SIDA. (Para quem estiver a pensar “Bem, se calhar ele é seropositivo”: não, não sou; e ainda que o fosse, este é um comentário que é hostil tanto para pessoas poly, como para pessoas seropositivas.)

Existe quando nos dizem que viver assim é “animalesco”.

Existe quando vamos na rua e temos que ouvir comentários machistas a serem-nos dirigidos, e não nos sentimos segurxs.

Existe quando beijar duas pessoas ao mesmo tempo deixa uma dezena a olhar para nós.

Existe quando apresentam queixa de nós no trabalho por nos afirmarmos publicamente como poly.






E existe em tantas, tantas outras situações…

Não quero fazer deste um texto triste. Quero fazer deste um texto feliz – porque estou feliz, porque me sinto feliz por haver quem avance, quem inove, quem alargue horizontes.

Obrigado, PATH. Obrigado pela tertúlia para a qual me convidaram. Obrigado por lutarem por mim também. De todo o meu coração (coração de poly!), obrigado.