Fotografia: Daniel Cardoso
Para quê dar a cara? Para quê dar a voz? Para quê dizer: sou lésbica? Para quê dizer: este homem, aqui, é o meu companheiro? Para quê falar daquelxs que nos oprimem? Para quê um feminismo, uma luta, um grito? Para quê, pergunto eu, fazer da minha vida uma forma de política? Porquê é que, pergunto eu, andarmos xs três de mão dada na rua me parece a mim mais do que andarmos xs três de mão dada na rua? Porquê dizer: sou poly? Não sei quando decidi fazer da minha vida, das minhas escolhas, das minhas relações, das minhas opções académicas e profissionais, das minhas opções de amizade e amor, não sei quando decidi fazer disto a minha bandeira, a minha cruzada. E todos os dias encontro respostas para estas perguntas. Quando oiço citar uma lésbica de 24 anos que diz ter o cuidado de não demonstrar comportamentos afectuosos para com a sua companheira em locais públicos quando há famílias com crianças, de forma a não chocar as crianças. Quando vejo que um par de namorados se coíbe de dar as mãos na rua. Quando sei que gays, lésbicas e bissexuais se afastam propositadamente dos locais onde moram e onde trabalham para viver a sua relação. Quando conheço relações de vários anos ocultas sob a capa da amizade. Quando sei que pessoas vivem toda a sua vida sem nunca dizer a verdade. Eu sou gay. Eu sou poly. Eu sou trans-queer-lés, whatever. Eu sou. Ser deveria ser quanto baste. E quando não temos mais nada, isso tem que ser a nossa força.
Inês
9 comentários:
Gostava de poder deixar aqui, como no Facebook, um simples "Like". Porque é só isso o que quero manifestar: um carinho, um mimo de solidariedade.
Embora as cruzadas não me entusiasmem, entusiasma-me a autenticidade, o não ter que se esconder nada, e por o foco na descoberta e na diversidade. A minha filha tem uma relação lésbica - não escolheria dizer que é lésbica porque não sei o que ela vai querer viver amanhã - e é com muita alegria que a vejo ter demonstrações de afecto com a namorada em público sem o mínimo constrangimento. Não exibe nem esconde. Tenho mais dois filhos, um com 22 e outro com 14. Nenhum deles teve dificuldade em aceitar, o de 14 acha sobretudo "giro" e diverte-se com a ideia de contar aos colegas da escola. Fico feliz por ver isto. Gosto delas, gosto de as ver felizes. No principio, ainda me preocupei: "Será mesmo dela ou fui eu que a traumatizei na infância?" Agora é-me indiferente, se é um trauma é um trauma feliz.
O fim da discriminação começa com o próprio, em sentir-se bem na sua pele. Nada para esconder, tudo para descobrir. Obrigada Inês :)
O que é? - Obrigada por ler e comentar...faz-me sentir que chego a algum lado. Fico feliz pela sua postura e atitude e feliz por consigo os seus filhos estarem seguros de poderem ser o que são, sem terem que perder o seu amor e respeito. Compreendo o que diz quanto às cruzadas...mas é vital que alguém as faça. Se ninguém as fizer, as coisas nunca irão mudar. Tanto é cruzada a minha, ao escrever aqui um texto que algumas pessoas vão ler, ou dar uma entrevista que outrxs vão ler/ver/ouvir, como é cruzada a relação da sua filha com a companheira dela, como é cruzada o seu «não exibe nem esconde». Essa é também uma forma de luta. Obrigada mais uma vez por partilhar connosco isso.
E obrigada ShortOkapi :)
Like ;-)
Disse-te uma vez em conversa que acho que todos têm o direito ser aquilo que são, seja lá isso que for, desde que os faça felizes, e ninguém tem o direito de boicotar a felicidade de ninguém mesmo que não concorde ou se preocupe com a forma como lá chegaram.
Eu orgulho-me de pessoas como tu, que dão a cara, a voz e a vida por uma cruzada! Que lutam com tudo o que têm sem medo das consequências...apenas com consciência delas e a coragem de lidar com elas, sejam quais forem. Fosse todo o mundo assim...
Orgulhei-me da reportagem que vi, das palavras que ouvi, e orgulho de te ver crescer com essa coragem e determinação que sempre tiveste em ti.
Eu, estarei aqui ao teu lado, para não te deixar desistir de lutar, mesmo que o resto do mundo aparente estar contra ti. E estou contigo, como estou com todxs aqueles que lutam todos os dias nesta cruzada!
Beijinho grande! =)*
Parabéns pela coragem Inês, és uma grande mulher. Vi a reportagem da TVI, via youtube, há uns dias e fiquei surpreendido mas agradado pela tua coragem.
Felicidades
Muito obrigada a todxs.
Acredita que és motivo de orgulho para os que te conhecem.
Beijos
Obrigada Anónimo. Beijos
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