O que me faz sempre mais confusão é aquela ideia do “prefiro não saber”. Consigo entender que não se queira saber detalhes específicos de tragédias alheias e distantes, acerca das quais achamos que não conseguimos fazer nada. Mas acho bastante estranho que se prefira não saber o que acontece na vida de um filho ou de um amante.
A pessoa com quem estava a ter esta conversa preferia não saber muito mais coisas. Para além de achar que “todos os homens traem” é uma inexorável verdade (e portanto não quer pensar nisso), dizia também não querer saber de histórias de vivências alternativas. Suponho que se souber, passa a sentir-se cumplice.
Contou-me uma história de um amor a três. Eu tentei ficar caladinha. Mas às tantas não resisti a meter a minha colherada e opinar que se todos sabiam uns dos outros, era melhor e mais seguro. Acontece que esta história não era assim tão linear. Havia pequenas não-verdades, quanto a mim perfeitamente desnecessárias. E misturar relações pouco convencionais, nas quais não se tem nenhum tipo de rede, com mentiras, semi-verdades ou ocultações, parece-me o caminho mais directo para o fracasso e a dor profunda.
Tentei ficar-me por aí mas não foi possível. Porque quem prefere não saber, na realidade quer saber de tudo. E acabou por escolher saber tudo sobre a minha opinião e experiência com amores múltiplos.
No final já me dizia qualquer coisa como “vamos continuando a falar, que pode ser que eu mude a minha maneira de pensar”. E não era de todo esse o meu objectivo. Tentei que cada uma ficasse com a sua razão, respeitando a da outra. Mas parece-me que a maior parte das pessoas com quem falo suspeita que há graves erros de lógica no modelo de relações que a sociedade lhes vendeu. Que pelo menos desconfiam que as coisas podem ser melhores. E algumas desejam-no urgentemente.
1 comentário:
A curiosidade está instituída na sociedade ocidental...
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