quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Castelos de cartão

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Tenho estado à espera que este filme estreie em Portugal. Mas há uns dias desisti e vi-o em casa. É espanhol e conta a história de três estudantes de Belas-Artes, que se envolvem numa relação amorosa, na qual se complementam. Apaixonam-se os três pelos três. Cada um encontra o seu lugar no conjunto, e constrói uma relação diferente com cada um dos outros. Todos têm as suas fragilidades e qualidades. E juntos formam algo equilibrado, puro, que traz força e beleza à vida dos outros.

O filme reveste-se de uma aura algo deprimente (sem grande necessidade), é bastante paradito, e vai alternando entre momentos de grande alegria e partilha, e outros de grandes dilemas e angústias. Ao contrário do que por vezes acontece, não é o ambiente que os rodeia que começa a minar aquela bolha de felicidade. São os próprios medos, principalmente quando alguns detalhes da relação mudam. E quando começam a surgir as primeira mentiras, o final começa a adivinhar-se.

A acção decorre nos anos 80, na movida de Madrid. Mas no original de Almudena Grandes, a história começa nos dias de hoje (2004), quando os três estão já um para cada lado e a protagonista feminina relembra aquela história com as seguintes palavras: "Tínhamos vinte anos, Madrid tinha vinte anos, Espanha tinha vinte anos, e tudo estava no seu sítio."

Há uma irritante mensagem comum a este tipo de filmes. Por mais bonito que tudo seja, está condenado a terminar, muitas vezes de formas terríveis. E isso nota-se ao longo de todo o filme. Quase nem conseguimos apreciar os bons momentos, incomodados pela sombra constante que nos avisa que aquilo é algo com uma duração limitada e que o tempo está a passar. O mesmo acontece no Dreamers, no Vicky Cristina Barcelona,... you name it.

Mas em todos eles se sente algo que é dito muito explicitamente no filme de Woody Allen. É que, muitas vezes, acrescentar uma pessoa à relação pode de facto, em vez de a complicar, fazê-la funcionar melhor. Ao ponto de nem sequer funcionar sem ela.

7 comentários:

Pedro Luis disse...

É de facto irritante, há um status quo que teima em tentar provar que está cá para durar.
Por outro lado perduram os finais, 'e viveram felizes para sempre', no que se refere à rapariguinha que encontre o seu 'knight in shinning armour', mas só se for boa menina!

Depende das personalidades, mas o aumentar o número de intervenientes não torna mais difícil, antes pelo contrário, de facto, um terceiro elemento pode até servir de uma espécie de mediador/testemunha em conflitos.

Daniel Cardoso disse...

Há um trabalho muito interessante do Georg Simmel sobre a especificidade e importância de se ser + do que 2 em qualquer grupo social; hei-de fazer post sobre isso. :P

António Lopes disse...

Lembrei do ditado:
"2 é bom, 3 é demais"

:-)

Quando me dizem isso, costumo responder:
"1 é pouco, 2 é bom, 3 é ótimo"

:-D

Di disse...

tenho que ver...
também me parece que três é que é...

Pedro Luis disse...

3 the new 2? :P

Marquesa do Sado disse...

Muito lindo, mas não confundir com 3º = pastilha elástica dos dois primeiros, o que muitas vezes acontece.

Também acho irritante essa mitologia reiterante da ordem social afectiva, mas, hey, é cinema, tem que vender. Sad but true. Virá o dia. Quem sabe um qualquer argumentista não escreverá um argumento corajoso, que será defendido por um produtor louco e realizado por um absoluto crente, por exemplo o João Pedro Rodrigues... Kidding....

António Lopes disse...

Bem, 3 é simbólico, poderiam ser 4 ou 5 :-D

E sem pastilhas, s.f.f.
;-)