sexta-feira, 23 de abril de 2010

Liberdades e jantares

Publicado por Daniel Cardoso
Este sábado vai haver um jantarzinho poly ali em contexto de arraial de 25 de Abril.

Esta coisa da liberdade faz parte dos ideais do poliamor. Mas é uma liberdade que é responsável, uma liberdade que é adulta. Dizia já Sartre que estamos condenados a ser livres. Mas isso quer dizer que estamos também condenados a ser responsabilizados pelo que fazemos.

Cada vez mais, isto passa pelos actos que nos constituem. Pela maneira como nós nos pensamos como nós-mesmos. Não somos convidados constantemente a encontrarmo-nos? A recriarmo-nos? A descobrirmos quem somos?
Não sou por uma visão essencialista, pela descoberta de uma verdade transcendente e oculta, que irá ser "a" Verdade. Mas um possível efeito secundário desta pressão para a criação de uma auto-biografia reflexiva, com todas as possibilidades e os riscos que daí vêm, pode assemelhar-se a uma reestruturação aparentemente queer. Aparentemente indefinida, incerta, instável.

Queremos ser livres? Queremos ser independentes? Então, somos compelidos, se queremos ser coerentes, a querer ver no Outro a sua liberdade, a sua independência. E a condição da liberdade do Outro é a nossa liberdade, e a condição da nossa liberdade é a liberdade do Outro.

No poliamor, como na monogamia, perdemos e ganhamos coisas. A pergunta é: o que perdemos e o que ganhamos em cada uma delas? Em qual delas temos que fazer menos concessões, em qual delas estamos a alinhar mais realisticamente um projecto pessoal de vida e um projecto comum de vida? Não há, apesar do tom aparentemente retórico, uma resposta definida. Só uma resposta subjectiva - indefinida, incerta, instável. Então não subscrevamos uma resposta final, ponhamos em constante revisão as nossas posturas.

Essa revisão quer-se responsável, também. Quer-se consciente. Identificamo-nos com a monogamia? Porquê? Porque não? Identificamo-nos com o poliamor? Porquê? Porque não? E não se esqueçam: "Porque sim" não é resposta...

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