sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Como será o futuro?

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Estou agora em Londres, num hotel, à espera que venham as horas do jantar. Vai ser num restaurante indiano, boa comida e - felizmente! - não vou ser eu a pagar. O que é que isto tem que ver com Poliamor? Nada.

Mas estar aqui, no Reino Unido, local onde falar de polyamory não faz erguer tantas sobrancelhas em demonstração de desconhecimento, faz-me pensar sobre como poderá ser o futuro. Aqui, já há um dia escolhido para celebrar o poliamor. Aqui surge muito do debate e da actividade em torno do poliamor. Há uma plataforma minimamente montada e organizada, que está a anos-luz do que se faz, neste momento, em Portugal. Quer isso dizer que nós somos os atrasadinhos do costume, ou assim? Não. Mudanças sociais demoram o seu tempo, têm o seu ritmo, e não é por haver algumas pessoas empenhadas no assunto que, da noite para o dia, se constrói algo. Também o Reino Unido passou por esta fase. Também nos EUA se passou por esta fase.

O poliamor tem que ver com uma mudança. Uma mudança pessoal, subjectiva, relacional. E como a mudança não pára de mudar, tenho curiosidade em saber como irá ser o poliamor daqui a dez ou vinte anos. Esperemos que esteja cá para o saber. Mas também sei que, aconteça o que acontecer, há uma série de pessoas a quem é preciso agradecer por estarem a contribuir para que, daqui a esses tantos anos, possamos talvez estar como os poly do R. U. A Lara e a antidote, que escrevem aqui, são duas dessas pessoas.

Conhecê-las, e conhecer o trabalho delas, foi um momento importante da minha vida, como é importante para qualquer pessoa descobrir que existe uma base de apoio, um princípio de trabalho, um esforço inicial feito. Há, certamente, muita gente por aí que não pretende viver relações monógamas. Desse conjunto de pessoas, algumas pessoas quererão inclusive não as viver de uma forma aberta e respeitosa. Descobrir como fazer isso pode ser complicado, pode ser um caminho incerto. Ter referências e guias elimina, por um lado, o medo da anormalidade e, por outro, permite encontrar quem tenha empatia. Isto porque houve quem, a certo ponto, fez um esforço para fazer ver, para tornar visível, essa sua faceta. Porque houve quem tenha empenhado tempo e recursos para fazer com que essa palavra - poliamor - tivesse expressão.

Não basta que as coisas existam. Não basta a ideia abstracta da liberdade de escolha. Para podermos escolher, temos que saber quais as possibilidades. Para isso, é necessária publicidade - o acto de tornar algo público. E eu quero estar aqui quando o Poliamor atingir esse estatuto público. Não estou à espera de nenhuma revolução. Gosto, porém, de ver mudanças. E gosto ainda mais de mudar com elas.

1 comentário:

sapiens disse...

Por falar em mudanças de comportamentos e da concepção das relações afectivas cá vai um link: http://www.clicrbs.com.br/especial/sc/donnadc/19,0,2780981,Escritora-investiga-como-relacionamentos-amorosos-funcionam.html
Gostei particularmente desta parte: "O script romântico padrão na sociedade é muito forte. As pessoas começam seus relacionamentos com expectativas irreais. Nós não aprendemos as técnicas que realmente precisamos para sustentar relacionamentos de longo prazo. Sabemos que o romance não dura para sempre, mas não sabemos como repor quando acaba."... resta-me dizer que por vezes a cultura trata-nos realmente mal.