sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Carta Pessoal Aberta

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Car@s discriminador@s,

Vejo-vos a pregarem contra a existência de vários amores. Vejo-vos a falarem da infelicidade inerente a se ser poly. Mas não vos vejo, coerentemente, a falar da infelicidade de ser mono. Porque, espante-se!, a felicidade (ou infelicidade, pronto...) não se prende com a modalidade, e sim com a execução.

Considerar que alguém será automaticamente infeliz num ou noutro tipo de relação sem se considerar as pessoas envolvidas é estar a fazer uma clara petição de princípios que se limita, no fundo, a uma ingerência sobre a vida pessoal. Como podemos considerar saber o que outra pessoa irá sentir, irá fazer, irá achar. Que se considere, retrospectivamente, que ess@s discriminador@s tinham razão no resultado - não o terão nunca na razão fundamental que apresentam, porque não é possível divinar o futuro. Logo, qualquer coisa que peça poderes divinatórios estará por definição errada.

Por outro lado, vós sois quem causa o sofrimento contra o qual avisais. Com os vacticínios que fazeis, por supostas pias razões, estais a provocar o que alegadamente quereis impedir.

Deixem as pessoas ser felizes. Deixem as pessoas sofrer. Deixem as pessoas errar. Deixem as pessoas experimentar. Deixem as pessoas fazer-se.

A discriminação tem uma quota parte de medo e de vontade de poder.
Medo do que é diferente. Porque o que é diferente ameaça a supremacia e a certeza do que é igual, cria dúvida. E @s discriminador@s não lidam bem com a dúvida.
Vontade de poder, porque qualquer pessoa que entre num acto de discriminação quer, por esse meio, exercer poder. Poder de normalização, de aplainamento, de ortopedia. A disciplina pretende a ortopedia do sujeito. Pretende sujeitar o sujeito.

O sujeito pode, e deve, recusar essa ortopedia. O sujeito deve cuidar de si. Reflectir-se, pensar-se, criar-se. Cabe ao sujeito a ortopedia de si.

Que se reduza ao silêncio a voz peripatética, frágil, ilógica, mas altamente consequente, da discriminação.

3 comentários:

Anónimo disse...

Os descriminadores, auto-denominados mandatários de "Deus" também sempre acreditaram que os gays e lésbicas eram doentes e infelizes por natureza, esquecendo-se que não o sendo, muitos se tornaram efectivamente devido a tão generalizada crença sobre aquilo que se é suposto ser. Felizmente, os já mais que muitos exemplos de submissão á heteronormatividade e á monogamia mostraram não ser as receitas certas para os não conformados com a ditadura do pensamento único (também este "mono"). Hoje, finalmente sinto-me livre e sem culpa (denro do espirito) para poder dedicar o meu afecto a mais do que uma pessoa, e posso afirmar que o preenchimento afectivo é muito superior. Falta ainda conquistar esta legitimidade fora de mim...Os descrminadores continuam a (do)minar a sociedade.

António Lopes disse...

Falaste bem pá :-)

Anónimo disse...

Pois caro amigo, tem toda a razão no ambito do seu comentário ser bastante pertinente.
os vacticínios de que fala são bastante coerentes no ambito da questão..

Tem toda a razão quando afirma avincadamente de que chove muito nos dias de hoje, é verdade pois nunca vi no inverno a chover tanto.
Deus está-se mesmo a esticar com a pluviosidade.

Então e glutereo não vai nada?!
ou melhor num português normal e compreensivel, então na peida não vai nada?