segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O sexo também se trabalha (continua)

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Este post é um resumo amalgamado de dois textos, cada um deles demasiado longo para caber no polyportugal: Small talk, em que trabalhas, e a má relacao dos trabalhadores do sexo com a polícia


Neste texto, acerca dos trabalhadores do sexo, tal como nos meus textos “normais” sobre poly, vamos reencontrar os temas já velhinhos: liberdade, falsa moral, não conformidade e exercício rabugento de contestação das fronteiras que a sociedade nos impõe, às vezes mais por hábito do que por coerência moral. Espero não apanhar com um "poliamorosos, promíscuos, prostitutas vai tudo dar ao mesmo", mas tal ignorância só fica mal a quem a mostra.

De algum modo, ao escrever e viver poliamor, ganhei consciência de todas as merdas que nos condicionam, os tais regulamentos que a sociedade nos impõe, e que nós seguimos sem saber porquê. Porque é que há coisas que são erradas, porque é que há liberdades que são mais ok do que outras, liberdades que são mais teóricas ou mais concretas do que outras, e outras que são mais possíveis do que outras?

Descobri, dentro dessa categoria, a minha simpatia pelas pessoas so called "
trabalhadore/as na indústria do sexo". Isso, sem saber muito da coisa, sem haver um motivo pessoal, nada. Simplesmente achando que levam com uma reprovação em cima sem limites, e por haver sempre um exército de psicólogos, polícias, padres, agentes sociais diversos dispostos a explicar "como é que eles/elas são e porquê" sem nunca lhes atribuírem uma voz para repor a verdade ou simplesmente se defenderem, e por estarem sempre dispostos a tratá-los de acordo com essa descrição. Um pouco como "as pessoas poliamorosas são-no porque blá blá blá têm medo do compromisso blá blá ou promiscuas blá", ou "os portugueses são todos católicos logo de certeza que lá não há polys". Reconhecem categorização quando a vêem?

Na nossa sociedade é dado assumido uma má relação entre forças que exercem a moral (a polícia, a vizinha cusca do terceiro andar, a claque de futebol, ou simplesmente a nossa consciência porca) e os trabalhadores do sexo. Isto dá pano para as tais tendas multi-familiares, depois das mangas para um regimento de cossacos. Será que toda a sociedade (ou o mainstream dela) tem vontade de reprimir quem se movimenta nas margens, mas ainda legais, da moral aceite? Ou será que há apenas uma enorme vontade de bater em alguém, e simplesmente os trabalhadores do sexo pela sua situação de fragilidade estão ali mesmo a jeito?

Estive numa festa recentemente. A conversa era secante como em qualquer festa antes de haver o clique mágico que ninguém controla e que torna as conversas interessantes. Alguém perguntou por desfastio a alguém em que é que ela trabalhava. E ela respondeu, "sou domina", cheia de naturalidade e autoconfiança e não houve réplicas nem comentários nem tosses repentinas. Ofereci-lhe uma bebida e exprimi-lhe a minha admiração na primeira festa em que a voltei a ver.

Este post não é uma defesa ou um ataque da prostituição e de profissões ligadas ao sexo. É como sempre, a vossa dose de cócegas libertárias semanal.
Agradeço ao blog sexualidade feminina a inspiração para escrever este texto (letters from working girls).
A imagem é um delicioso
paddle da maravilhosa marca Coco de Mer.

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