Continuando o "mostra e conta", vamos pegar na pergunta "o que achas da Monogamia?" Vou pegar apenas num aspecto particular e não elaborar longamente sobre o pano para mangas, colarinhos e tendas multifamiliares que isto pode dar.
A primeira coisa que me veio à cabeça ao desenterrar alguns textos que li ou mesmo que escrevi (mea culpa, sim, minha grande culpa) sobre o assunto, é que muitas vezes são textos duma injustiça, ingenuidade e falta de rigor incríveis, pois comparam muitas vezes, digamos assim, os falhanços práticos da monogamia, ou aquilo que muita gente chama de monogamia e não é, com uma versão idealizada e infalível do poliamor, ou, por outras palavras, o que o poliamor ideal e teoricamente deveria ser.
Por outras palavras, é como se eu comparasse a História do Cristianismo com as suas Cruzadas, os massacres, a Inquisição, o colaboracionismo, com a definição e objectivos do Budismo (e varresse para debaixo do tapete as guerras em nome do Budismo, e igualmente as definições e objectivos do Cristianismo ocidental). (...)
Para mim a monogamia é apenas mais uma solução possível (…) que funciona para muita gente (falo de monogamia ppd e não de monogamia com traição e, digo sem ironia, mesmo esta funciona, curiosamente, para muita gente). Acho que podia funcionar para mim, mas sou mais feliz e ocupada vivendo poly. Na verdade é possível também viver em monogamia e em poliamor (deixo esta frase como trabalho de casa). Eu defendo, pessoalmente e como activista, o reconhecimento de que há mais formas de amar do que a "oficial", e que o poliamor, na sua variedade, merece respeito e é legitimo, mas que talvez não funcione para toda a gente, e não, não quero acabar com a monogamia. O que eu combato é a Monogamia como único modelo, a monogamia "de Estado", ou a monogamia como o único modelo que merece respeito.
Uma palavra acerca do casamento, uniões de facto e monogamia de Estado... não é justo que numa sociedade que se diz baseada no indivíduo livre (...), dois indivíduos casados tenham mais privilégios do que os não casados. Refiro-me ao poder testamentário e ao poder de procuração (...). Entendo que isso deveria ser regulado por cada indivíduo por si só e não pelo Estado e suas leis. Não percebo sequer qual a lógica de ser, digamos assim, o meu cônjuge-parceiro-amor a tomar uma série de decisões quando eu não as posso tomar. Consigo pensar numa série de pessoas sensatas que eu preferia pôr a tomar esse tipo de decisões (o desligar da máquina, (...) a amputação da perna, (...), etc.) que não são minhas relações e sem que isso queira dizer que gosto menos das minhas relações. (…) na verdade acho o casamento injusto contra não só todos os que vivem outros tipos de relações para além do par paradigmático, mas todos os celibatários, voluntários ou não. Na verdade, a única coisa justa a fazer seria a abolição do casamento civil.
A primeira coisa que me veio à cabeça ao desenterrar alguns textos que li ou mesmo que escrevi (mea culpa, sim, minha grande culpa) sobre o assunto, é que muitas vezes são textos duma injustiça, ingenuidade e falta de rigor incríveis, pois comparam muitas vezes, digamos assim, os falhanços práticos da monogamia, ou aquilo que muita gente chama de monogamia e não é, com uma versão idealizada e infalível do poliamor, ou, por outras palavras, o que o poliamor ideal e teoricamente deveria ser.
Por outras palavras, é como se eu comparasse a História do Cristianismo com as suas Cruzadas, os massacres, a Inquisição, o colaboracionismo, com a definição e objectivos do Budismo (e varresse para debaixo do tapete as guerras em nome do Budismo, e igualmente as definições e objectivos do Cristianismo ocidental). (...)
Para mim a monogamia é apenas mais uma solução possível (…) que funciona para muita gente (falo de monogamia ppd e não de monogamia com traição e, digo sem ironia, mesmo esta funciona, curiosamente, para muita gente). Acho que podia funcionar para mim, mas sou mais feliz e ocupada vivendo poly. Na verdade é possível também viver em monogamia e em poliamor (deixo esta frase como trabalho de casa). Eu defendo, pessoalmente e como activista, o reconhecimento de que há mais formas de amar do que a "oficial", e que o poliamor, na sua variedade, merece respeito e é legitimo, mas que talvez não funcione para toda a gente, e não, não quero acabar com a monogamia. O que eu combato é a Monogamia como único modelo, a monogamia "de Estado", ou a monogamia como o único modelo que merece respeito.
Uma palavra acerca do casamento, uniões de facto e monogamia de Estado... não é justo que numa sociedade que se diz baseada no indivíduo livre (...), dois indivíduos casados tenham mais privilégios do que os não casados. Refiro-me ao poder testamentário e ao poder de procuração (...). Entendo que isso deveria ser regulado por cada indivíduo por si só e não pelo Estado e suas leis. Não percebo sequer qual a lógica de ser, digamos assim, o meu cônjuge-parceiro-amor a tomar uma série de decisões quando eu não as posso tomar. Consigo pensar numa série de pessoas sensatas que eu preferia pôr a tomar esse tipo de decisões (o desligar da máquina, (...) a amputação da perna, (...), etc.) que não são minhas relações e sem que isso queira dizer que gosto menos das minhas relações. (…) na verdade acho o casamento injusto contra não só todos os que vivem outros tipos de relações para além do par paradigmático, mas todos os celibatários, voluntários ou não. Na verdade, a única coisa justa a fazer seria a abolição do casamento civil.
(Texto longo e completo aqui)
5 comentários:
"guerras" em nome do budismo???
por necessidade de defesa e sobrevivência talvez, mas nada que possa ser propriamente chamado de "guerra".
dificilmente pode ser comparado (nem por associação) ao que foi feito (e continua a ser) em nome do cristianismo.
Caro Anónimo, quando li o texto referindo «guerras em nome do Budismo», eu próprio fiquei surpreendido mas, naturalmente, parti do princípio de que a minha amiga antidote não o teria escrito sem saber o que estava a dizer.
Quando vi o seu comentário, resolvi verificar. Não custa nada. No Google, procurei buddhist war. E o primeiro resultado é um artigo da about.com, sério, que corrobora sem qualquer dúvida o que a antidote escreveu.
Também li esse artigo antes sequer de comentar a primeira vez, fala de guerras em que houve influencia periférica de budistas,
não fala de guerras "santas" feitas em nome do budismo. A diferença é fundamental.
Seria uma absurda e intolerável contradição para com os princípios que definem a filosofia budista.
Sim, um paradoxo tao grande como guerras comecadas em nome do cristianismo, islao, ou qualquer outra religiao com um codigo de conduta que proiba o derramamento de sangue. Precisamente o que quis salientar com isso é que uma coisa é a teoria, o que a nossa alma desvairada a ir para o alto quer passar da utopia à realidade, e outra é o que pomos mais ou menos desastradamente em prática. E nao se deve nem pode comparar uma coisa com outra...
Antidote
certo, teoria é diferente de pratica.
as religiões abraâmicas na pratica são tendencialmente violentas e divisionistas já que pregam que o seu ponto de vista é o único verdadeiro, o único caminho possível para a "salvação" e que todos os outros são "infiéis". daí até ao derramamento de sangue vai um fundamentalista.
mas guerras "em nome do budismo" é uma ideia imaginária que não deve ser furtivamente apresentada como facto possível, ainda mais não sendo o budismo uma religião per se (muito embora tenha essa aparência para muitos ocidentais).
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