zig andrew toxic love
Desde sempre senti a pressão de falar no momento das discussões, a pressão de que mesmo cheia de ansiedade e super nervosa tinha que estar disponível para falar e resolver tudo naquele momento – por ser o correcto ou porque era o correcto para a outra pessoa. Passei por várias situações quando comecei a pedir uns minutos ou umas horas. Agarrarem-me. Chorarem. Ameaçarem a própria vida. Gritarem. Fecharem-me num espaço ou irem atrás de mim. Muitas vezes essas situações influenciaram a minha decisão - não tinha tempo para pensar no que era melhor para mim. Não tinha tempo para respirar. Aprendi com todas elas a impor-me. A exigir o meu tempo. A dizer que não queria conversar já. A explicar que só ia conversar quando me sentisse capaz – um dia, uma semana ou um mês, não sei.
Digo imensas vezes que a comunicação é essencial – comunicar não é apenas conversar, temos que saber avaliar todos os tipos de comunicação. Por tantas vezes falar sobre a importância da comunicação e existirem momentos em que a minha saúde mental não permite conversar acabam por me atribuir o adjectivo de hipócrita. Sei lá. É isso que me traz aqui a escrever: comunicação não é nem nunca vai ser exigirem de alguém que fale quando querem ou vos apetece. Se partilham uma relação independentemente do tipo de relação parece-me óbvio que se queira conhecer e compreender a outra pessoa. Parece-me óbvio que se queira respeitar alguém que diz: agora não consigo falar. Isso é comunicação. Eu não estou bem para falar agora. - é comunicação. Comunicação não é sugar a energia de alguém; não é roubar o espaço individual. Comunicação não é quando alguém quer gritar, discutir ou mesmo apenas falar e a outra pessoa não quer ou não pode.
Existe uma diferença enorme entre fazermos o bem com a consciência do nosso Eu e a consciência de que lidamos com outra pessoa; e fazermos o bem para ficarmos com a nossa consciência tranquila, mas acharmos que é porque estamos a ser bons samaritanos. Esta última é de uma gigante arrogância. As pessoas passam a vida inteira preocupadas sobre as suas acções não por lidarem com outras pessoas mas porque querem viver em paz. Enquanto isso acontecer, enquanto acontecer magoarmos alguém de forma consciente para nosso próprio divertimento ou para a libertação da nossa raiva, não existe amor que vença. Nenhum tipo de amor. O fim de uma relação, o meio de uma relação ou uma nunca relação não são motivos para humilhar alguém, para colocar outra pessoa numa situação de gozo ou raiva. Não. Lamentavelmente existe pouca inteligência emocional que permita entender que ninguém é obrigado a corresponder às exigências e caprichos de outra pessoa.
Não foi fácil para mim chegar a um ponto da minha vida em que digo: não, não vou falar agora. Não foi fácil para mim chegar a um ponto da minha vida em que prefiro terminar uma relação que me está a retirar energia pessoal do que viver com a minha saúde mental no chão. Não é fácil para ninguém tomar decisões que envolvem outras pessoas e mil e um sentimentos mas foda-se, tem que ser. Não respeitar o espaço, o não, o tempo e sobretudo as fragilidades emocionais e mentais de alguém, é tóxico. Usar argumentos para sair de uma relação de cabeça erguida e ver x outro mal é tóxico. Somos Pessoas e quero imaginar que pessoas adultas – quando as coisas não funcionam, quando se precisa de tempo e de espaço devemos saber ouvir. Respeitar. Devemos aceitar que é alguém a pedir-nos uma coisa importante.
"E onde fica o bem estar da pessoa que quer falar?" - Estou honestamente cansada de me tentarem culpabilizar de todas as formas possíveis. Quando digo que se não quero falar então não falo, não estou a dizer que nunca quis falar. Que nunca falei. Que nunca comuniquei. Que nunca resolvi problemas com outras Pessoas. Estou a dizer que naquele momento, naquela situação, naquela fase da minha vida e da minha saúde: não é não. Se a pessoa precisar de falar, precisar de discutir, precisar de libertar – desculpem mas não vai ser comigo. Não vai ser comigo porque eu não quero ter uma crise horrível; porque eu não quero ir tomar uma caixa de comprimidos; porque eu não quero não ter forças para decidir o que me faz sentido. Tem que existir egoísmo individual a partir do momento em que vemos que a outra pessoa não está a respeitar as nossas particularidades e sobretudo o tempo que necessitamos para resolver alguma coisa.
Não sou eu que sou complicada e não és tu que estás a ler isto e te identificas com o que digo que és complicada. Isso eu posso prometer. Nós somos o que somos, como somos - temos um background, uma personalidade e vontades diferentes. Eu gosto do meu espaço e da minha privacidade muito mais do que a partilha de afectos. Prefiro um abraço de vez em quando, um beijo antes de dormir do que uma tarde a agarrarem-me ou cheia de beijinhos - e não faz mal. Ufa. Demorei tanto tempo para perceber que não faz mal. A única coisa que faz mal em relações é não existir respeito pelas vontades individuais. Sou apologista do meio termo e da procura por todas as pessoas envolvidas por uma solução para a felicidade de todes. Mas nem sempre vai existir: não faz mal. O mundo é um sítio cheio de possibilidades e só devemos fazer parte daquelas que nos preenchem. Nos aumentam.
Os relacionamentos deviam viver da consciência de que cada pessoa envolvida é uma pessoa individual. Os relacionamentos deviam viver do respeito pelo silêncio - sendo que este também é comunicar mais não seja comunicar as necessidades pessoais que são sempre legitimas.