Durante o meu pequeno percurso poly existiram várias coisas que compreendi e muitas delas me magoaram. Para viver o amor sem mentir e esconder - vivo uma vida de amores a mentir e esconder. Esconder relações. Não estarmos - perante famílias ou em questões profissionais - todxs no mesmo patamar. Ter que optar pela verdade e as consequências implícitas; pela omissão de alguém e me apresentar como pessoa monogâmica - ou omitir todas as relações por me ser difícil decidir quem apresentar. Como apresentar.
Em tom de piada é recorrente utilizarmos estas situações cá em casa como peripécias poly. Vamos rindo. Ignorando que escolhemos ser esta a nossa vida: um conjunto de peripécias que nos tornam invisíveis e nos magoam.
Passei a tarde a procurar uma casa mas setenta por cento eram para famílias. Foda-se - quem define família? Esta é a minha família. A família que estou a construir a seu tempo. Que é muitas vezes desvalorizada. Invisível. Que tenho que omitir à minha outra família - a biológica. Que tenho que esconder se tiver medo na rua. Mas é a minha família. Quem define família por mim? Se amo estas pessoas. São um colo e um porto-de-abrigo. São a minha luta constante. Uma luta bonita. Uma casa para uma família é qualquer uma casa para nós. Pessoas que partilham o mesmo espaço. Que se amam. Que se respeitam. É esta a minha família - mas não podemos gritar. Ou podemos - posso. Sempre que posso, grito. Mas não posso gritar que quero uma casa para esta minha família. Vamos sendo magoados. Invisíveis. Somos uma piada - um conjunto de peripécias que escolhemos viver por escolhermos desconstruir o amor e esse é infinito, ainda que lamentavelmente ninguém o reconheça. O acolha. O respeite. No fim de contas esta é uma sociedade formatada, formatada para a falta de amor. Nos vamos sendo pessoas que se riem das peripécias. Que ultrapassam. Que se abraçam. Que vencem. Que são de certo uma família.
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