sexta-feira, 30 de maio de 2014

O meu namorado e a namorada do meu namorado fazem 10 anos juntos

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Este é um texto sobre amor. Ainda assim, é capaz de ser um texto raro, daqueles que poucas vezes foram escritos antes. Pode-se falar do amor dos pais, do amor do casal amigo com 50 anos de casados, dos amores de verão, dos amores perdidos, dos amores desfeitos, dos amores tidos e deixados, até do amor do casal gay que finalmente ao fim de muitos anos se pode casar. Não se fala tanto dos amores partilhados, dos amores que não são nossos e ao mesmo tempo estão ligados a nós de uma maneira única. Dos amores a que assistimos na primeira fila, mas daqueles que nos transportam para a tela. Que têm algo a ver connosco.

Não há guião para escrever um texto como este.

Este texto não é sobre mim. É sobre o meu companheiro e a companheira dele que hoje celebram 10 anos de relação. Eu não posso contar a história deles. Essa, é deles para contar. Posso sim, contar uma outra história, aquela que vem através dos meus olhos e das minhas palavras.

A história começou muito antes de mim, já lá estava quando cheguei. Era uma história de diferença, de descoberta, de salvação, de dor e de encontro. Assemelha-se, nestes aspectos, a muitas. Em tudo o resto é diferente. 

Aprendi com eles muito do que entendo hoje por amor e companheirismo. Eles ensinaram-me que a família também é escolha. Que o lar são as pessoas que lá estão. Que é possível encontrar sanidade e segurança na loucura acompanhada. Que podemos namorar o nosso melhor amigo. Que podemos saber que ele não é nem nunca será tudo para nós e sabermos que é assim que deve ser. Que é possível ir buscar carinho do fundo da dor. Que a paciência quase infinita existe. Que mesmo depois de uma discussão se pode ir fazer o jantar para a pessoa com quem discutimos. Que há momentos em que devemos deixar o silêncio soar e outros em que é imperativo que falemos. Que quem amamos é livre. Que a liberdade é uma enorme responsabilidade. Que é possível tentar fazer o melhor para quatro ou cinco pessoas ao mesmo. Que é possível tentar mais uma vez. Que mesmo quando parece o fim, há mais fôlego ainda. Que as pessoas mudam. Que as regras que fazemos mudam connosco. Que a vida não é água estagnada mas um rio em movimento, correndo.

Não é simples explicar que relação é a que se forma com alguém que ama o nosso amor: cumplicidade, compreensão, partilha; mas também dor partilhada, saber dizer o que é preciso mesmo que magoe, saber dizer a verdade. Nem é simples explicar o que podemos aprender com isso. Vivo há quase dois anos com estas pessoas. Uma nova experiência partilhada, que só é possível agora porque é com eles. Foi preciso aprender ainda mais. Como partilhar uma vida em comum e saber onde está a vida privada de cada um. Como estar lá e saber dar espaço. Como saber quando se deve ajudar e quando se deve deixar respirar. Como saber quando somos precisos e quando sair. Como ficar lá quando está a ser difícil. Como discordar sem desistir.

Eu sei que tive a sorte de poder descobrir muita coisa com estas duas pessoas. Aprendi também com erros feitos antes de mim. Aprendi com a experiência que os dois construíram juntos e que também me deu inesperadamente algo a mim. Aprendi a conhecer a pessoa que amo também através da pessoa que o amava antes de eu o conhecer.


Como dizia António Variações - o amor não é o tempo, nem é o tempo que o faz - o que homenageio não são os anos que passaram juntos, mas sim os-todos-os-dias, os mil presentes, o terem visto o melhor e o pior nos olhos do outro e dizerem, ainda, agora, novamente: quero ficar.  

Mas o mais incrível é que eles decidiram partilhar com outros um pouco desta coisa maravilhosa que têm. Só posso estar grata por isso e dizer: parabéns pelo vosso caminho. Espero que continuem. E que saibam que podem contar comigo.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

O rescaldo da reportagem sobre poliamor na SIC/Expresso

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O Expresso Diário publicou um artigo, disponível a quem tem conta no Expresso ou outros sites do grupo Impresa, sobre os efeitos sentidos pelas pessoas que participaram na reportagem da SIC/Expresso postada em Abril.



Leiam aqui o artigo depois de fazerem o login: "Houve pessoas que preferiram usar o ódio para comentar uma peça sobre amor".